A história das Internacionais, da seção brasileira da CMI a EM-PT e a reconstrução da 4ª. 3ª parte

Introdução.
As informações contidas neste texto foram extraídas da Escola de Quadros da Universidade Vermelha (EQ-UV) da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) a corrente interna petista Esquerda Marxista (EM-PT) cujo evento foi realizado em Joinville (SC) entre os dias 06 e 12 de janeiro de 2007. Continuidade enquanto 3ª parte, o texto agora vai abordar: A adaptação dos lambertistas da corrente interna petista O Trabalho aos aparelhos e lambertistas adotam a linha da democracia.
A adaptação do ‘lambertismo’ aos aparelhos.
A implosão – ocorrida por volta de meados dos anos 1970 – do Comitê pela Reconstrução da 4ª Internacional (CORQUI) levou Lambert a tentar constituir um novo agrupamento representativo da 4ª, surgindo o Comitê Paritário (CP).

A situação pareceu o slogan de um tônico capilar que nunca quis ser confundido com xampu “Denorex: Parece, mas, não é”. Ou seja, o CP da 4ª internacional constituído por Lambert apenas deu mostras que, finalmente, as coisas iriam se acertar. Afinal, a seção francesa da Organização Comunista Internacionalista (OCI) dispunha de 6.000 militantes e, no Brasil, sua irmã gêmea a Organização Socialista Internacionalista (OSI) contava com cerca de 1.000 militantes.
Assim, no Brasil por volta de 1978/1979 com o ascenso do movimento operário e popular que levou à fundação do PT, sectariamente a OSI caracterizou-o como “instrumento da ditadura militar”. Porém, logo em seguida mudou sua denominação para corrente interna petista O Trabalho decidindo participar de sua fundação. Registre-se que esse novo agrupamento puxado por Lambert contava com correntes trotskistas egressas do Secretariado Unificado (SU) da 4ª Internacional como o liderado pelo argentino Nahuel Moreno. E aí cabe também o seguinte esclarecimento: Discordamos da política de mera crítica (não fundamentada, sem balanço) praticada pelos lambertistas.
Divergimos de Moreno na crise causadora da dissolução em 1982 do Comitê Paritário (CP) da 4ª. Porém, não é por isso que deixaríamos de afirmar que os graves erros cometidos pela seção francesa da OCI foram os germes dos desvios de sua majoritária corrente liderada por Lambert. Notadamente a partir de 1981 no meio do imbróglio (apoio da OCI) ao recém eleito presidente francês François Mitterrand.  Ocorre, por um lado, que a tática da frente única operária iniciada pela OCI foi correta, diferentemente do sectarismo praticado por Moreno. Porque apoiado pelo PC francês, o então candidato pelo PS, Mitterrand, fez discursos à esquerda defendendo nacionalizações de bancos e grandes empresas.                      
Por outro lado, a seção francesa da OCI pisou na bola duas vezes seguida ao analisar o governo Mitterrand e no balanço sobre o seu entrismo no PS. Basta se ligar no que a OCI afirmou: “São bonapartistas as instituições francesas da 5ª República. Isto obrigatoriamente levará o PS e o presidente Mitterrand a se chocarem com o estado burguês, conseqüentemente a adotar medidas progressistas”. No entanto, já na posse Mitterrand iniciou sua traição de compromissos. O que não justificou a falta de paciência histórica da seção francesa da OCI ao não buscar o avanço da consciência de classe dos trabalhadores através do confronto de suas ilusões com a traição do presidente Mitterrand.
Por exemplo, a OCI pregou para os operários de a montadora estatal Renault ter sido necessário livrar-se da política burguesa do governo anterior, de Giscard D’Estaing. O que significou ter considerado responsável, não o governo Mitterrand, mas os governos burgueses anteriores. Na prática, a OCI abandonou a tática da frente única que consiste em exigir das organizações representativas dos trabalhadores romperem com a burguesia. Em 1984, por criticar tal política foi expulso ‘zienovievistamente’ um dos principais dirigentes lambertistas, Stephane Just. No fundo desta expulsão esteve o início do processo de adaptação à social-democracia e à burocracia sindical por parte dos lambertistas.
Exemplos: Liderados por Jean C. Cambadenillis, dirigentes e militantes da OCI na entidade estudantil francesa UNEF arrastaram durante o governo Mitterrand centenas de colegas para o PS. Paralelamente, ocorreram conspirações para a luta de classes que propiciaram ao OCI manter no PS francês militantes de peso como Lionel Jospin, que posteriormente foi guindado ao cargo de 1º ministro. Jospin e outros militantes de peso, em função da adaptação da OCI à política praticada pelo presidente Mitterrand, preferiram a nova casa, abandonando a corrente majoritária da OCI liderada por Lambert. Não por mera coincidência, no Brasil a corrente interna petista O Trabalho foi acometida por semelhante adaptação.
Quer dizer, em meados dos anos 1980 a citada corrente petista sofreu um racha praticado pelo então dirigente do SI lambertista da 4ª, o franco-argentino Luis Favre. Neste racha, Favre que tinha se convertido ao assumir a posição do PS francês, acabou levando a maioria dos dirigentes da mencionada corrente petista a dissolver-se na Articulação (movimento interno petista destinado a praticar culto à personalidade de Lula). Tal dissolução foi precedida por um período para o aval de Lambert, no qual ocorreu um derrame de elogios às cúpulas do PT e da CUT, quando o jornal O Trabalho virou uma mera tribuna de entrevistas com dirigentes petistas e cutistas. A seguir, Lambert não é Jospin.
Justiça seja feita, no balanço dos fatos sobre adaptação aos aparelhos, não se deve tributar inteira responsabilidade a Lambert por traições e abandonos ao trotskismo feitos por militantes importantes como, por exemplo, Jospin. Afinal, traição é atributo do traidor. Contudo, seria miopia política não enxergar que as imposições ‘zienovievistas’ de Lambert causaram as desmoralizações dos militantes, cultivando o terreno para ocorrências desastrosas. Daí, 02 perguntas não querem calar: Seriam pura e simplesmente todos irrecuperáveis traidores que abandonaram o trotskismo, os vereadores e deputados eleitos pela corrente interna petista O Trabalho, mas que saíram em pleno mandato parlamentar?
Ou tais vereadores e deputados teriam apenas sucumbido às pressões do parlamento burguês? Não cremos nisso. O fato é que ao adotar como regra política geral uma abstrata propaganda “defesa das organizações operárias” o lambertismo – sem temermos cometer exagero sectário – ao contrário, vem praticando “defesa dos aparatos reformistas e contra-revolucionários”. Explicando: Para Trotsky a defesa das organizações operárias nunca foi um fim em si mesmo. Isto é, tal defesa só serve, na medida em que possibilite uma atuação independente do proletariado enquanto classe social. Que, só pode ser levado a cabo através de uma crítica implacável às direções reformistas e traidoras.
No entanto, dirigentes do SI da 4ª como o falecido francês Lambert e o brasileiro naturalizado francês Daniel Gluckstein na busca, em vão, de fazer convencimento político redigiram inúmeros textos como os intitulados: “o PT é o partido político da reforma agrária” e também “o PT é o partido político da reconquista da previdência”. Paralelamente, o governo do então presidente Lula foi destruindo a previdência pública e negando terras aos camponeses. O mesmo o SI da 4ª fez em relação à política do governo trabalhista (Inglaterra) e do social-democrata (Alemanha). Tudo, em nome da “defesa das organizações”. Não se fica de costa para as organizações de massas porque são nelas que os operários participam.
Isto significa dizer, para de fato ajudar os operários é imprescindível uma crítica dura, ainda que paciente e não-sectária a tais direções. Ou seja, a tarefa nº 01 é a construção de agrupamentos trotskistas e revolucionários através da crise dessas organizações e, não defendê-las abstratamente. Gluckstein e Lambert revelaram-se mestres em fazer formulações supostamente trotskistas, que tentaram justificar posições que não pertencem ao legado dos ensinamentos de Trotsky. Por exemplo, suponhamos que a burguesia e o imperialismo fizessem uma ofensiva para empurrar para ilegalidade um partido político operário, mas que tenha direção pró-burguesia, conforme se tornou o PT.
Os trotskistas defenderiam o PT inclusive seus dirigentes pró-burguesia. Porém, a equivocada causa de Lambert e Gluckstein foi lançar os trotskistas em inócua batalha de se opor ao processo geral e contínuo de degeneração destrutiva do PT desenvolvido no dia-a-dia em função da política pró-burguesia de sua direção. Não é essa a tarefa chave dos trotskistas, tampouco da classe trabalhadora consciente. Sua tarefa central não é a prioridade de recuperar o PT, resgatá-lo ou salvá-lo (conforme os lambertistas tentaram pôr em prática) mesmo que isso não seja impossível. O fato é que isso se tornou improvável. Os trotskistas não podem ser transformados em grupos de pressão ao aparelho petista.            
Isso, porque se os trotskistas tiverem que ficar ‘defendendo o PT do imperialismo’ paradoxalmente estará defendendo os dirigentes petistas que trazem a política do imperialismo para dentro do PT. Isto é, os trotskistas estarão pondo o leme do PT nas mãos dos que querem afundá-lo se ficar tentando salvá-lo. A autêntica prática trotskista é reivindicar a origem de luta do PT, objetivando a construção de direções municipais, estaduais, sobretudo, uma direção nacional marxista dos trabalhadores – enfim é intervir na luta de classes, defendendo as posições trotskistas no interior do PT. A seguir, o contrário disso, ou seja, em 1991 os lambertistas pagaram o mico de tentar reeditar a 1ª Internacional.
Isto é, em 1991 os lambertistas tentaram fazer uma espécie de reedição da 1ª Internacional (AIT) ao dar o nome de Acordo Internacional dos Trabalhadores (ACIT) a um organismo de caráter plural juntando militantes, correntes sindicais e correntes político-partidárias de distintas origens. No entanto, conforme vimos até aqui no estudo das Internacionais, pisaríamos na bola, caso comparássemos a AIT (1ª Internacional) com a farsante ACIT, a despeito da semelhança das siglas. Não por outra razão, foram os próprios articulares que disseram “o ACIT tem como eixos centrais de fundação a independência de classe e a defesa das organizações operárias”. Alvíssaras, bravos, são formulações corretas!
Isso se fosse consideradas as ressalvas dos ensinamentos trotskistas assinaladas nos parágrafos anteriores. Parafraseando um falecido humorista televisivo “Fala sério”. Em outras palavras, trata-se de atentado à História do Marxismo a afirmação de que apenas tais bandeiras pudessem constituir o programa de uma Internacional em plena época do imperialismo. Por isso, esta pergunta não quer calar: Como é que pode os lambertistas se omitir sobre estas questões (expropriação do capital e socialização dos meios de produção)? O fato é que, nos poucos momentos em que concretamente existiu o ACIT funcionou simplesmente como ‘central de campanhas’. A seguir: É exatamente isto que veremos.
Para ilustrar quando o ACIT funcionou como mera central de campanhas, Gluckstein e Lambert propuseram e os dirigentes da central sindical estadunidense AFL-CIO se dispuseram a combater o trabalho infantil. O que foi bastante para ambos considerarem tais sindicalistas como membros natos do ACIT. Esclareçamos: Qualquer trotskista é por princípio contrário ao trabalho infantil, predispondo-se a organizar a mais ampla frente única contra tal crime de lesa humanidade, inclusive junto com setores da burguesia. Entretanto, isso não tem nada a ver com construção de uma Internacional Operária, ainda mais junto com sindicalistas ligados ao imperialista Partido Democrata estadunidense.
Há outros exemplos, mas citaremos apenas mais um ocorrido no Brasil. Durante a campanha eleitoral de 2006 vários candidatos a deputado não-pertencentes aos quadros de O Trabalho foram proclamados membros do ACIT na medida em que recebeu o apoio da citada corrente interna petista. Terminada a campanha eleitoral “as partes tomaram Doril”. Isto é, nunca mais se ouviu falar do assunto. Já em termos sindicais, ainda no ano de 2006, durante o congresso da Central Única dos Trabalhadores (CUT) duas falácias foram usadas como palavras-de-ordens e serviram para ilustrar os desvios cometidos pela política dos lambertistas (defesa das organizações operárias e unidade da CUT).
Aliás, a falaciosa unidade da CUT se tratou da defesa para a continuidade no cargo de membro da comissão executiva nacional da CUT do sindicalista, militante e dirigente da corrente interna O Trabalho o professor Júlio Turra ao compor chapa eletiva com a governista Corrente Sindical Classista (CSC) ligada ao PC do B. Quer dizer, na oportunidade o sindicalista Turra se aliou aos colegas defensores da integração da CUT ao aparelho do Estado através Conselho Nacional das Relações do trabalho (CNRT). Em resumo, o lambertista Turra, a despeito de sua retórica esquerdista, trocou a independência da CUT ante o Estado, pela continuidade de seu cargo na mencionada central sindical.
A propósito, vale lembrar uma das lapidares frases entre os ensinamentos do revolucionário russo Lênin “combater as ilusões no terreno das ilusões”. Que, não pode ser confundida com abstração do tipo “combater as ilusões semeando ilusões”. Em outras palavras, deve-se mesmo tributar a responsabilidade da traição aos inúmeros ex-militantes lambertistas que se passou de malas e bagagens para o lado das organizações social-democratas. De tanto “defendê-las”, o lambertismo deu empurrões que ajudaram a levar tais militantes para um caminho sem volta. Assim, essa “coerência” de adaptar-se aos aparelhos das organizações, levou o lambertismo a revisar o trotskismo. A seguir.
Linha da democracia é adotada pelo lambertismo.
Esta formulação “inovadora” surgiu nos textos da denominada “Reproclamação da 4ª Internacional” publicada na revista A verdade edição brasileira de outubro/novembro de 1993, página 23 ”É certo que historicamente existe incompatibilidade entre a democracia burguesa e a democracia operária: É necessário concluir que a democracia burguesa é incompatível com as posições da democracia operária inseridas na democracia burguesa? É certo que em nenhuma parte existe uma forma pura de democracia burguesa, mas isto não significa de forma alguma que se pode identificar a democracia burguesa com o banapartismo, ainda que em todos os países a democracia burguesa se ‘bonapartize’. Continua.
Na democracia burguesa, mesmo na ‘bonopartizada’, os elementos da democracia operária, partidos e sindicatos independentes ainda são posições de combate revolucionário da classe operária. Desta análise se depreende, se se leva em conta as relações entre classes, que as diferenças entre bonapartismo e democracia burguesa é um fato político importante que a 4ª Internacional deve considerar”. Ainda na página 23, mais adiante o texto é concluído, enfatizando a necessidade da “luta pela democracia cuja forma e conteúdo serão definidos pelo próprio povo”. Deste nebuloso, quer dizer confuso texto, o que se pretendeu afirmar, em primeiro lugar, foi o seguinte:
Em 1º lugar, não se pode identificar a democracia burguesa com bonapartismo porque bonapartismo é autoritarismo, ataque às organizações da classe operária. O que é correto. Inclusive, em relação ao fascismo. Isto é, bonapartismo e fascismo não são a mesma coisa que democracia burguesa. O revolucionário russo Trotsky combateu até o fim para que se constituísse na Alemanha uma frente única contra Adolf Hitler. Porque, Trotsky previu que a vitória do fascismo seria (e de fato foi) um golpe mortal na classe operária. Em 2º lugar, portanto é inteiramente incorreta a afirmação “necessidade da luta pela democracia cuja forma e conteúdo serão definidos pelo próprio povo”.
Por quê? Porque ainda que não seja a mesma coisa, bonapartismo, fascismo e democracia burguesa, por questão de princípio, os trotskistas jamais defendem a democracia burguesa. Os trotskistas lutam pela revolução socialista, pelo governo operário-camponês revolucionário. Quer dizer, mais uma vez, os lambertistas fizeram uso de um jargão trotskista para encobrir seus desvios políticos. Aliás, vale lembrar mais um ensinamento de Trotsky nesta frase: “É necessário defender os bastiões da democracia proletária no seio da sociedade burguesa”. Trocando em miúdos: Os trabalhadores através da luta de classes, em muitos casos durante décadas, acabam obtendo conquistas econômicas e políticas.
No entanto, a citada defesa dos bastiões da democracia proletária só é conseqüente quando ligada à necessidade de se derrubar o capitalismo e o Estado burguês. Por sinal, é isto que afirma Trotsky no Programa de Transição, sendo que tais afirmações vão estar assinaladas entre aspas nos próximos parágrafos. “A 4ª Internacional não rejeita as reivindicações do velho programa mínimo”. Isto quer dizer, à medida que tais reivindicações tenham conservado alguma força vital, a 4ª Internacional defende incansavelmente os direitos democráticos dos operários e suas conquistas sociais. “Porém, conduz este trabalho diário ao quadro de uma perspectiva correta e real (revolucionária)”.
À medida que as velhas reivindicações parciais mínimas das massas se chocam com as tendências destrutivas e degradantes do capitalismo decadente – e isto ocorre a cada passo – a avança num sistema de “reivindicações transitórias” cujo sentido é dirigir-se cada vez mais aberta e resolutamente contra as próprias bases do regime burguês. O velho programa mínimo é superado pelo Programa de Transição cuja tarefa consiste numa mobilização sistemática das massas em direção à revolução proletária. Os trotskistas em nenhum momento defendem a democracia burguesa, o bonapartismo e o fascismo, porque são formas – embora distintas – de dominação e exploração dos capitalistas sobre os trabalhadores.
Foi o que disse um militante da seção brasileira da CMI a EM-PT durante a Escola de Quadros em janeiro de 2007: “Na democracia burguesa, bonapartismo ou fascismo, os trabalhadores são igualmente reprimidos inclusive mortos pelo Estado – são explorados, oprimidos de diversas formas, passam fome, etc e tal”. Agora, se pragmaticamente um determinado regime democrático-burguês for menos pior que um regime fascista, não significa que defenderemos o regime democrático-burguês. Para ilustrar melhor, uma metáfora: Não é porque eventualmente um trabalhador precise chamar um policial corrupto para se livrar de um ladrão que quer roubar sua casa – que este trabalhador vá defender a Polícia em geral.
Alguma pessoa pode considerar nossas críticas ao lambertismo como excessivamente duras, sobretudo, neste subtítulo “A linha da democracia”. Ocorre, daqui por diante, veremos não um mero desvio dos lambertistas que remonte ao ano de 1993. A ferida de então gerou uma gangrena, que como tal persiste até os dias atuais. Por exemplo, na edição brasileira da revista A Verdade de nº 44, página 13, os lambertistas comemoraram afirmando que a partir da campanha plebiscitária pelo “Não” acerca da Constituição Européia, o PT francês tinha se enraizado entre os operários, entre a juventude, além de entre amplas camadas de prefeitos e vereadores assim como entre democratas e republicanos.     
Vangloriar-se por se aproximar de “republicanos” e “democratas” tem a ver com a incoerente linha política adotada pelos lambertistas. Isto é, de eventual tática, a “linha da democracia” transformou-se em programa político. Ainda na página 13 da revista A Verdade nº 44, o Programa de Transição é violentado, conforme está assinalado entre aspas: “Não se pode negar que nos últimos 60 anos a situação francesa foi marcada igualmente pela existência e desenvolvimento de uma organização marxista, a seção francesa da 4ª Internacional, que soube se inserir nos processos da luta de classes. Soube fazê-lo a partir de uma apreciação teórica e prática que se concentra em três elementos: Continua.
Primeiramente, a defesa da independência das organizações operárias (...) E em segundo lugar, ajudar a classe operária a defender passo a passo cada uma das conquistas (...) Por fim, compreender que, quando a burguesia se decompõe no altar do supranacionalismo e renuncia cada vez mais à sua existência como classe social nacional, quando os aparatos renunciam até mesmo a assegurar a continuidade das conquistas da Revolução Francesa no plano democrático falando sobre a França, cabe à classe operária assumir o combate pela democracia política, o que inclui o combate pela República, em defesa da independência sindical e de todas as formas de democracia”.
Então, de acordo com os “trotskistas” franceses esses três citados pontos significam que, em função da burguesia ter deixado um vácuo ao tornar-se “supranacional”, passa caber aos trotskistas defenderem a “nação”, a “república” e a “democracia”.  O fato é que não é exagero algum considerar que essa política tenha algo de nacionalismo, até mesmo de chauvinismo. Se, não, vejamos: Quando foi candidato a presidente francês em 2004, Daniel Gluckstein utilizou como seu lema “pela conquista da democracia”. Já em 2007 os lambertistas se juntaram a alguns prefeitos de comunas francesas e acabaram lançando o prefeito Gerard Schivardi como candidato a presidente da França.    
Para tanto, os lambertistas foram incrivelmente “criativos” ao acrescentarem ao citado lema, outro “o candidato dos prefeitos”. Atenção a este ‘mico’: Acompanhado por apoiadores Schivardi se exibiu no site de sua candidatura ao lado de faixas tricoloridas simbolizando as cores da bandeira da França. Outrora, símbolo da Revolução Francesa, porém a partir dali simbolizando o nacionalismo burguês de um país colonialista que se tornou imperialista. Qualquer pessoa socialista referenciada no legado de Marx que desde 1848 ensina “A classe operária não tem pátria” considerou a estranhíssima quando se deparou com tal política “policlassista” de Gluckstein e o PT francês, que ficaram em beco sem saída.
Em outras palavras, posicionando-se contra a burguesia “supranacional” os lambertistas lançaram a candidatura Schivardi como representativa da verdadeira e honrosa burguesia nacional. Foi lastimável. Foi uma vergonha tal política ter sido praticada em nome do trotskismo. No Brasil, os lambertistas durante a campanha eleitoral 2006 se portaram estranhamente, para quem reivindica ser a 4ª Internacional. Isto é, em editorial no jornal lambertista da corrente interna petista O Trabalho na edição de 11 a 25/11/2006 com referência ao 2º da eleição presidencial publicou Declaração intitulada “O que está em jogo” cuja afirmação assinalada entre aspas é a seguinte:       
Há necessidade de se constituir um governo do PT que satisfaça os interesses dos trabalhadores e defenda a soberania nacional”. Não levemos em conta o fato dos lambertistas não terem mencionado o Socialismo. Então, para que tivessem sido coerentes com a defesa da soberania de um país oprimido pelo imperialismo, não poderiam jamais ter deixado de reivindicar (conforme ainda fazem)? O não-pagamento da dívida pública uma vez que é (ou foi)? Histórica bandeira da corrente interna petista? Ao citar o então presidente Lula em debate na TV com o tucano Alckmin, o jornal lambertista O Trabalho assinalou entre aspas: “A qualidade (...) É vocês privatizar, privatizar e privatizar!”    
Daí, porque o citado editorial fez pretensiosa saudação ao então presidente Lula afirmando: “É verdade”. Os lambertistas do jornal O Trabalho, corrente interna petista, pretenderam tal afirmação “matar dois coelhos com uma só cajadada”. Isto é, referir-se à sua própria revista (“A Verdade”) e enfatizar concordância com o então presidente Lula. Porém, o editorial acabou recebendo como um bumerangue a mencionada cajadada duas vezes. Isto é, primeiro porque se referiu ao óbvio (Alckmin é privatista mesmo até a medula) e, em 2º lugar, para quem pretende elevar a consciência política dos trabalhadores, não foi coerente simplesmente ter aplaudido o então presidente Lula.
Afinal, o então reeleito presidente brasileiro também privatizou como, por exemplo, as ferrovias, os bancos estaduais federalizados e as apelidadas PPPs as parcerias público-privadas. Diferentemente dos lambertistas de O Trabalho, corrente interna petista, a Esquerda Marxista (EM-PT) chamou o voto para o então presidente Lula. Na oportunidade, o seu periódico que atualmente se chama Jornal Luta de Classes na edição colorida nº 611 de 24/10 a 06/11/2006 estampou como principal manchete de capa o seguinte título: “atenção presidente Lula, fala sério! Se privatizar foi um erro. Então estatize já!” No caso, todos os serviços públicos, enfim todos os setores estratégicos da economia.
Já na mencionada Declaração dos lambertistas não houve qualquer crítica à política do então presidente Lula em seu 1º mandato. Muito menos, exigências que pudessem ser consideradas contundentes em relação ao 2º mandato do apelidado governo de coalizão comandado pelo petista, o então presidente Lula. Ao contrário, o lambertista jornal da corrente interna petista O Trabalho em outros trechos de seu editorial prosseguiu enfatizando que o então presidente Lula “Esteve certo”.  O que foi rebatido pela corrente interna petista Esquerda Marxista (EM-PT) quando reafirmou: “Não! O então presidente Lula não está certo! Assim como não estão os lambertistas por vir se adaptando ao seu então governo!
A adaptação dos lambertistas ao governo do então presidente Lula também ocorreu na França, aqui já citada. Porém, suas aberrações anti-trotskistas e antimarxistas continuaram na revista “A Verdade” nº 51, página 18 através desta citação entre aspas: “Sob outra forma, nos próprios Estados Unidos o combate da população negra de Nova Orleans contra a purificação étnica – através da quais administrações democratas e republicanas gostariam de expulsá-la dos centros históricos das cidades onde está instalada há séculos – não seria uma forma concreta do combate pela defesa da nação estadunidense tal como ela se constituiu? Isto é, com a classe operária negra precisamente no centro da nação?
Foi estarrecedor constatar que os lambertistas não soubessem que a máquina do tempo não foi inventada, sendo quase inacreditável que tenham falado em defender a nação estadunidense conforme ela se constituiu. Porque, não acreditamos que tivesse se tratado da proposta de voltar à Revolução do século 18. Ainda que isso fosse possível, não esqueçamos a nação estadunidense se constituiu sobre uma opressiva escravidão negra. Na realidade, o que existe é os Estados Unidos funcionando no planeta como um império. Que, para fazer guerras mantêm tropas nos cinco continentes.
Tais tropas mantidas pelo imperialismo dos Estados Unidos manipulam e corrompem os estados nacionais dos cinco continentes deste planeta de acordo com os seus interesses gerais que são notadamente o financeiro-econômico, o político e o militar. Explicando: Para os revolucionários o princípio da defesa das nações só é concebido em relação às nações oprimidas pelo imperialismo. Mesmo assim, conforme preconiza Trotsky através do ensinamento da Revolução Permanente, a luta pela soberania nacional dos países subjugados só pode ser vitoriosa com o estabelecimento da já citada e explicada Ditadura do Proletariado em direção ao Socialismo. Por conseguinte, após a suplantação da democracia burguesa.
Em nenhuma hipótese, todo e qualquer revolucionário defende a nação, a república ou a democracia burguesa de países imperialistas, principalmente a dos Estados Unidos. Em relação ao proletariado estadunidense, as formulações mencionadas anteriormente são um desserviço à educação política deste proletariado que é necessitado de se libertar da influência da ideologia burguesa, conseqüentemente construir o seu próprio partido político independente. Assim, a linha da democracia adotada pelos lambertistas enquanto “inovação teórica” é inteiramente incompatível com os interesses da luta pelo Socialismo. Não por acaso, é coisa rara nos órgãos de informação do lambertismo.
Ditadura do Proletariado, Expropriação da Burguesia e Revolução Proletária se tornaram raridades em órgãos lambertistas como a revista “A Verdade” e os jornais “O Trabalho” e Informations Ouvriére do PT francês. Marx ensinou: “O critério da verdade é a prática”. Mas, não basta falar em Socialismo. Traidores do movimento operário, inclusos burgueses, abusam desta expressão com hipocrisia e ou falsidade. Desde início dos anos 1990, a burguesia tenta incutir nas massas a idéia do “Fim do Socialismo”. Por autoproclamar ser a 4ª Internacional, os lambertistas da corrente interna petista O Trabalho jamais poderia ter abdicado de explicar no dia-a-dia às massas o que é verdadeiramente Socialismo.
No próximo texto - a quarta parte – vão ser abordadas as seguintes questões:
01 - Expulsão de maioria da corrente interna petista O Trabalho imposta por sua direção causa a organização da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) a Esquerda Marxista (EM-PT).
02 - Transformação do PT de Partido Operário Independente (POI) em Partido Operário Burguês (POB) causa as saídas e os fracassos do PSOL, do PSTU e do PCO-LBI enquanto partidos políticos socialistas representativos das massas trabalhadoras e operárias.
03 - A reconstrução da 4ª Internacional.
*jornalista – militante da seção brasileira da CMI a EM-PT no qual é membro do diretório municipal em Macaé (RJ).  

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