Assim, a OCDE confirmou estar ocorrendo recessão na Europa e nos Estados Unidos. Então, já na 1ª mesa de debates do seminário os citados economistas brasileiros analisaram a crise financeiro-econômica que assola o centro da economia global e se manifesta mais fortemente na União Européia (UE) onde o euro como moeda comum está em xeque. "O neoliberalismo está com os olhos bem abertos. E, não, morto. Porém, agora na Europa entra em crise. Da década de 90 até o começo deste século, o neoliberalismo era favorável ao crescimento do G-7, sendo agora dramaticamente regressivo, particularmente na UE. Lá, os ajustes recessivos que andam fazendo é um completo disparate"; salientou Mª Conceição Tavares.
Para a economista, a Alemanha tem muita culpa nesse disparate e o país ainda vai pagar caro por essa brincadeira. Se o euro estourar, será na cara dos alemães também. Ela não vê solução para a insegurança da economia global nos próximos anos. "A crise européia deve prolongar a instabilidade financeira, com uma ameaça de estagnação, com deflação. Os preços industriais estão caindo e talvez caia também os preços das commodities, o que não será legal para o Brasil". A seguir, o que vem ocorrendo no continente europeu, na opinião da economista Maria da Conceição Tavares, sobre o que ela chama de grande debate acerca da política econômica global, que é - segundo a economista - manter ou não o euro.
"A esquerda quer manter, mas a direita nacionalista não quer, pois, prefere voltar às moedas nacionais para permitir a desvalorização da dívida em moeda nacional. Se acontecer, o que isso irá gerar de desvalorização competitiva restabelecerá na Europa o clima da década de 20, quando foi rompido o padrão ouro. É uma coisa problemática"; alertou ela. Já para o economista Bresser Pereira a crise do euro tem dupla natureza. "De um lado, é uma crise fiscal de Estados que estavam razoavelmente equilibrados do ponto de vista fiscal até 2008. Exemplo: Em 2007 a dívida pública da Irlanda era de 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Aí, os bancos quebraram, o governo socorreu e a dívida pública irlandesa no fim de 2010 atingiu 99% do PIB".
Ainda segundo o economista "A dívida pública surgiu da quebra dos bancos, fundamentalmente. Os Estados do Sul da Europa se endividaram para socorrer seus bancos e aí os mercados financeiros perderam a confiança nesses países e na sua capacidade de pagamento. Então, a taxa de juros está aumentando. Isso já aconteceu com a Irlanda, depois com a Grécia e agora está acontecendo com a Itália"; disse Bresser Pereira. Ainda segundo ele, a outra natureza da crise européia é cambial. "Os países em crise aguda tiveram déficits públicos pequenos, mas, grandes déficits em conta corrente, o que se explica em parte também pelo consumo irresponsável feito internamente"; salientou.
Prosseguindo Bresser Pereira afirmou "A taxa de câmbio implícita desses países, definida pela relação salário-produtividade, se apreciou, e eles, então, entraram em um déficit de conta corrente muito grande em relação à Alemanha. Isso implica em endividamento para empresas, famílias e bancos e torna a situação insustentável para esses países"; enfatizou. Para o economista, o que ocorre na UE é uma crise de soberania monetária. "Ou você tem autonomia e decide sobre sua vida ou fica na mão dos outros. Não há soberania se você não tem uma moeda nacional. Os países da zona do euro, quando fizeram o acordo, aceitaram trocar suas moedas nacionais por uma moeda estrangeira, o euro"; esclareceu.
Ainda de acordo com o economista "A moeda nacional tem duas características muito importantes, que só se percebe em tempos de crise: Você pode emitir e pode desvalorizar. A Grécia não pôde fazer isso, a Espanha e a Itália não poderão fazer isso também..." prognosticou. Para Bresser Pereira a solução para o problema da dívida pública começaria com uma medida. "O banco central europeu deveria funcionar como o banco nacional desses países. Ou seja, emitir dinheiro para comprar os títulos que estão a juros altíssimos, e com isso baixar a taxa de juros e reequilibrar o sistema"; ressaltou. Sobre o déficit em conta corrente, para o economista, a solução racional seria cada país poder desvalorizar sua moeda.
"Com isso você baixa o salário, mas, de uma forma menos dolorosa, não baixa via desemprego. A decisão de países como Espanha ou Itália de continuar no euro é complicada. Não sou capaz de dizer o que vai acontecer"; concluiu. Por sua vez o economista Carlos Lessa também mostrou ter dificuldade em fazer previsões sobre os desdobramentos da crise. "Essa crise apresenta uma grande opacidade (é sombria) em relação ao seu desdobramento. Esperamos - vamos bater na madeira - que a solução não se dê em termos de conflito mundial. Ninguém poderá dizer com razoável (sic) precisão como será o mundo daqui a dez anos. Porém, é possível dizer que será muito diferente do atual"; afirmou.
Para ele essa diferença será fundamentalmente geopolítica e terão os Estados Unidos e a China como atores principais, considerados ironicamente G-2. O economista chamou a China de "maquillas" mexicanas que serviriam de montadoras para produtos depois voltarem aos EUA. "Quero crer que o império continua império. O orçamento militar estadunidense supera o somatório dos nove orçamentos militares que lhe sucedem e este ano foi aprovado nos Estados Unidos o maior orçamento militar de todos os tempos. Culturalmente, as pautas estadunidenses já estão absolutamente universalizadas. Acho que não tem G-7 nem G-20. O que tem é G-2, que é o matrimônio de um país chamado de Estados Unidos, que é o império e uma periferia chamada China"; disse o economista Carlos Lessa.
Por fim, o economista Teotônio dos Santos afirmou que a natureza da atual crise européia é secular. "Há um caráter cíclico na economia mundial, a crise não é absolutamente novidade - disse preliminarmente - e apresentou alguns números: Entre 1900 e 1913 o PIB per capita cresceu cerca de 1,5%. Depois, entre 1914 e 1938 em cujo período ocorreu a crise de 1929, o PIB cresceu apenas 0,8%. Entre 1938 e 1973, no chamado período de ouro do capitalismo, o PIB voltou a crescer cerca de 2,3% . Depois, de 1974 a 1993 o crescimento foi de 1,2% em um período tipicamente de descenso de longo prazo. De 1994 para cá, o crescimento tem sido em torno de 2,3% apesar de duas fortes crises em 2000 e em 2008. Há uma tendência de oscilação na taxa de crescimento da economia mundial"; finalizou.
Só o marxismo explica a crise, a burguesia é empírica enxergando apenas a superfície; disse Alan Woods.
"O abismo nos espera" afirmou, em 16/07/2011, sobre a atual crise financeiro-econômica, em editorial o burguesão jornal inglês Financial Times. Na oportunidade, o dirigente da Corrente Marxista Internacional (CMI) o economista inglês Alan Wood não se fez de rogado "Só a aplicação do método marxista pode explicar a atual situação. A burguesia é empírica, estão paralisados pelos acontecimentos, só enxergam o que se passa na superfície". Ele afirmou que a velocidade vertiginosa dos acontecimentos são sintomas da época em que vivemos de inflexão da História mundial. Para Woods o empirismo levou a burguesia a não se recuperar da crise de 2008, que é a mesma que ocorre atualmente.
Para deixar claro o empirismo da burguesia o dirigente da CMI recorreu ao Programa de Transição, isto é, ao texto de fundação em 1938 da Quarta Internacional, fazendo esta citação "os capitalistas estão descendo um tobogã de olhos fechados". Porém, não contente com isso, Woods arrematou "Eles (a burguesia) estão descendo para o desastre com os olhos abertos, ao menos os mais inteligentes". Para tanto, o dirigente da CMI explicou que não houve recuperação da crise ocorrida em 2008, a despeito dos trilhões de dólares injetados na economia. Ao contrário, na ocasião, ou seja, em julho no texto "Fio da navalha" Woods disse que ocorreria quebradeira de bancos e até dos próprios Estados Unidos.
Assim, nesse texto ao prosseguir sua fundamentação ao empirismo da burguesia, o dirigente da CMI afirmou que a burguesia não evitou a crise, apenas adiou-a. Woods explicou que os métodos utilizados deveriam ser aplicados para sair da recessão. Eles (a burguesia) contradisseram tudo o que defendiam; enfatizou. Para o economista marxista, atualmente as grandes empresas só existem devido à ajuda do Estado. O que, segundo Woods, acarreta na preparação de uma crise ainda mais séria. O dirigente da CMI afirmou que uma crise de crédito não explica nada. Daí, Woods questionou: Eles (a burguesia) nunca perguntam o que é o crédito? Que, simplesmente amplia o mercado para além de seus limites naturais!
De acordo com Woods, isso não pode continuar, pois, tudo que sobe tem de descer! O dirigente da CMI afirmou que as pessoas atualmente pagam suas dívidas, sendo que as adeptas do reformismo propugnam o keynesianismo, ou seja, a filosofia de política econômica do pensador inglês John Maynard Keynes (1883-1946) segundo a qual o capitalismo só precisa ser sempre estimulado. Então, Woods indagou: Mas como aumentar os gastos públicos, se os Estados estão totalmente endividados? Haja vista, a demanda encontra-se em queda o que causa aumento do desemprego? Não há saída para a burguesia; afirmou o dirigente da CMI. A seguir, as explicações de Woods do porque disso.
Segundo ele, na tentativa de salvar o euro o Banco Europeu elevou a taxa de juros a 1,5% ao ano. Ocorre que sem a existência de inflação; advertiu. Woods afirmou que a dívida grega estava em 60% do PIB e, depois das "ajudas" mais que dobrou chegando a 130%, sendo que a Grécia simplesmente não pôde pagar. Tudo que fizeram (a burguesia) foi adiar o calote; enfatizou. Woods alertou que a Grécia entraria em moratória, correndo o risco de ser expulsa da Zona do Euro, o que seria uma tragédia para o povo trabalhador. Ele divergiu dos equivocados grupos de esquerda defensores da carcomida moeda grega Dracmas. A seguir, Woods analisa quem seriam vítimas ou não, no hipotético calote grego.
Para o dirigente da CMI, nesse caso, os bancos alemães e franceses seriam as vítimas; sendo que os bancos ingleses não se exporiam a tal. Ainda segundo Woods, todos os "sacrifícios" não vão salvar Portugal e Irlanda, que têm os rejeitados títulos lixos para pagar suas dívidas públicas. Já em relação à gigantesca dívida de 14,4 trilhões de dólares (quase 100% do PIB) dos Estados Unidos, ele prevê que, caso não se faça nada nos próximos anos, o mais imperialista dos países também entrará em moratória. O dirigente da CMI abre parêntese e diz que um Estado com dois partidos (Democrata e Republicano) de direita e sem diferença fundamental entre si, seria uma catástrofe caso todos se livrassem dos títulos estadunidenses; salientou.
Fechando o caso dos Estados Unidos, Woods afirmou que voltou a possibilidade de construção de um partido operário estadunidense cuja denominação poderia ser partido trabalhista como na Inglaterra ou partido dos trabalhadores como no Brasil. Prosseguindo a análise da crise econômica, o dirigente da CMI apresentou os números do Japão onde sua absurda dívida pública é de 225% do PIB e as exportações sofreram uma queda repentina de 12%. Para Woods na análise da atual crise econômica o mais significativo é o impacto que ela causa na consciência das massas. "Qualquer medida mais dura poderá romper o já débil tecido social"; enfatizou. A seguir, Woods diz o porquê disso.
Nos últimos 12 meses a França tem sido impactada pela greve geral deflagrada em outubro de 2010, Portugal foi sacudido em 2011 pela maior greve em sua História, a Grécia também foi chacoalhada por mais de 12 greves gerais em 2011, na Espanha os manifestantes da Praça do Sol em Madrid assumiram estar influenciados e inspirados pelos acontecimentos ocorridos na capital do Egito, Cairo. Sobre o desenvolvimento da consciência das massas, o dirigente da CMI cita o ano de 1905 na Rússia pré-revolucionária, quando a maioria dos trabalhadores não entendeu a profundidade da crise, não quis acreditar que poderia ser turbulenta, optando por crer que mais cedo ou mais tarde tudo voltaria à "normalidade".
Woods afirmou que as conquistas dos trabalhadores nos últimos anos têm sido atacadas. Ele previu que a Itália seria a próxima a quebrar. O dirigente da CMI disse que o povo trabalhador não aprende através dos livros, mas, de sua própria experiência concreta, conforme o revolucionário russo Lênin (1870-1924) ensinou "A vida ensina". Para ilustrar isso, Woods mencionou dois exemplos: O de Wisconsin nos Estados Unidos que foi denominado "Ocupe a Wall Street" e o da Grécia onde três situações seriam condições revolucionárias. 01) crise no interior da classe dominante 02) as camadas médias erroneamente chamadas de classe média apoiariam a revolução 03) os explorados e as exploradas estariam dispostos a fazer sacrifícios, entrando na luta. Mais de 81% da população grega estariam apoiando os movimentos. Só estaria faltando o Partido Revolucionário; concluiu.
*jornalista - é militante da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) a Esquerda Marxista corrente intra PT onde integra o diretório municipal em Macaé (RJ).