É "coerente" a declaração da presidenta Dilma sobre face negra e feminina da pobreza no Brasil

A presidenta Dilma Rousseff (PT), para a qual fiz campanha e votei, fez tal declaração em Salvador (BA) ao encerrar, 19/novembro, o Encontro Ibero-Americano de Alto Nível "comemorando" o Ano Internacional dos Afrodescendentes. Chefes de estados e representantes de 14 países participaram do evento cujo resultado oficial se denominou Carta de Salvador, que foi considerada a capital dos afrodescendentes. Economista, pequeno-burguesa, mukala (branca), não-marxista e ex-guerrilheira, a presidenta é "coerente" com a doutrina das ações afirmativas, do burguês mukala jurisfilósofo estadunidense John Rawls (1921-2002) que objetiva "humanizar" o capitalismo, o sexismo-machista e o racismo.
Explico: Na ditadura militar-fascista (1964-1985) a presidenta foi corretamente opositora do regime. Essa época foi apelidada de anos de chumbo. Nela as organizações de esquerda não compreendiam a luta de classes, negando como suas especificidades lutas como a anti-racista e a anti-sexismo/machista, mesmo as autoproclamadas "marxistas-leninistas". Ou seja, supostas seguidoras do legado do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) e do revolucionário russo Vladimir Ulianov o Lênin (1870-1924). Haja vista, em tais organizações predominava o stalinismo, isto é, a equivocada política de conciliação com a burguesia concebida pelo secretário geral do PC soviético Josef Stalin (1879-1953).
Historicamente, no Brasil e no mundo, os PCs não se constituíram conforme ensinaram Marx e Lênin. Isto é, como partidos com os pés na classe operária. Pior, boa parte de seus quadros e dirigentes eram pequenos burgueses, ainda que convictos "marxistas leninistas". Isso acarretou no agravamento do seguidismo à política stalinista já citada. Quer dizer, sem ser partidos operários e praticando conciliação com a burguesia, os PCs acabavam sendo rejeitados pela massa do povo trabalhador. Então, para "combater" a ditadura militar fascista erigiu como dissidências da política stalinista grupúsculos pequeno-aburguesados, armados e sectários, o já mencionado guerrilheirismo adotado pela presidenta.
Em outras palavras, o guerrilheirismo além dos já citados equívocos, tem o significado de ter sido uma destemida provocação às Forças Armadas da burguesia, que não se fez de rogada, ceifando a vida de inúmeros lutadores e opositores do regime, dentre os quais boa parte de jovens. Entretanto, conforme ensinaram Marx e Lênin, o motor da História é a classe operária, que, entre meados dos anos 1970 e 1980 intensificou o ascenso da luta de classes contra a ditadura militar fascista, fundando um partido operário, de massas e de militantes (o PT). Ou seja, um partido operário independente, isto é, independente da burguesia no plano nacional e do imperialismo no plano internacional.
O vezo stalinista levou os PCs a reagirem acusando o PT de "dividir a frente ampla sob o guarda chuva da sigla de oposição consentida MDB, que juntavam exploradores, explorados, opressores e oprimidos". Essa época dos bons combates políticos petistas contra a burguesia da situação e da oposição, ou seja, a independência de classe do PT infelizmente durou pouco. Em 1987, no V Encontro Nacional do PT, agora sob uma nova roupagem, foi aprovado a velha tese stalinista de conciliação com a burguesia, então chamada projeto de "Acumulação de forças". Esse projeto político foi uma tese formulada por Zé Dirceu e bancada por Lula, respectivamente secretário geral e presidente nacional do PT.
Da tese "acumulação de forças" erigiu os apelidados governos democráticos populares, nos quais o PT passou a negar a independência de classe, juntando-se a partidos populistas e burgueses. Esse projeto político disfarçadamente stalinista de conciliação com a burguesia levou Lula à presidência da República duas vezes, deixou seu nome na História e elegeu sua sucessora e continuadora de projeto político. Afinal Lula e Dilma "fazem a diferença" ante a razão histórica da burguesia. Ambos governam junto e muito mais para a burguesia que para o povo trabalhador. A "diferença" é que os governos burgueses só governam para si, enquanto os de Lula e de Dilma fazem assistencialismo social para o povo trabalhador.
Dissecando as "pérolas" na declaração da presidenta Dilma.
Ficou claro como água o destaque dado pela imprensa burguesa, na véspera do Dia Nacional da Consciência Negra, a essa frase de deslavado oportunismo da presidenta Dilma "a pobreza no Brasil tem face negra e feminina". Ainda segundo ela "daí a necessidade de reforçar as políticas públicas de inclusão e as ações de saúde da mulher". De acordo com a imprensa, a presidenta explicou por que as políticas de transferência de renda têm foco nas mulheres, e não nos homens "elas (as mulheres) são incapazes de receber os rendimentos e gastar no bar da esquina". Ela então salientou "Negros, índios e pobres corriam atrás do Estado em busca de assistência. Agora o Estado é que vai à busca dessas populações".
Para a presidenta a invisibilidade da pobreza e a miséria são as heranças mais marcantes da escravidão, nelas atreladas veio uma visão das elites de que o país poderia crescer sem distribuir renda e incluir. Ela lembrou os programas inclusivos iniciados com a gestão do ex-presidente Lula e o lema do atual governo "país rico é país sem pobreza". Segundo ela, os afrodescendentes são os que mais sofrem com o desemprego, a violência e a extrema pobreza - razão pela qual a reversão desse quadro é o objetivo da Carta de Salvador. Para tanto, a presidenta defendeu as políticas públicas de promoção e igualdade social enquanto ações de combate à pobreza, citando o Programa Brasil sem Miséria.
De acordo com ela, esse programa tem a meta de retirar 16 milhões de pessoas da pobreza extrema. A presidenta também exaltou esses feitos do governo: Criação em 2003 da Secretaria Especial (com status de ministério) de Políticas para Promoção da Igualdade ‘Racial' (SEPPIR), da Lei 10.639/2003 a da obrigatoriedade de Cultura Afro-Brasileira nas escolas e da Lei 12.288/2010 o apelidado Estatuto da Igualdade ‘Racial'. "123 Anos depois do fim institucional da escravidão no Brasil, o país ainda sofre consequências dramáticas desse período. Uma delas, a sistemática desvalorização do trabalho escravo, é duramente combatida, pois, resulta na desvalorização de qualquer tipo de trabalho" afirmou.
A presidenta aproveitando o evento destacou "As políticas dos países latino-americanos de estabelecer seus próprios mercados tem ajudado essa região continental a enfrentar a crise econômica internacional e permitir, assim, o desenvolvimento de políticas públicas sociais". Por outro lado, ela mostrou-se preocupada com os rumos da crise "O risco de instabilidade pode agravar as desigualdades sociais em todo o mundo". Ela lamentou a recessão ter sido imposta como receita para a crise na Europa "Sabemos que esse processo não dá certo, provoca desemprego, perda de ganhos sociais e não resolve o problema. A solução é a expansão do consumo e inclusão social" salientou.
Concluindo, a presidenta Dilma Rousseff lembrou que recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) não é um bom negócio, assinalando que o Brasil só conseguiu melhorar a economia após pagar sua dívida com tal organismo financeiro econômico multilateral. A "pérola" final no Encontro Ibero-Americano de Alto Nível foi dita pelo presidente uruguaio José Mujica, em apoio à Carta de Salvador que defende educação de qualidade para os afrodescendentes no rumo da igualdade social. Ele afirmou que os negros e as negras não querem esmolas, mas, oportunidades e direitos iguais. Porém, ele citou a ultrapassada expressão "negritude" que pertence a uma reacionária filosofia africana com este nome.
*jornalista - é militante do Movimento Negro Socialista (MNS) onde integra a coordenação nacional e da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional (CMI) a Esquerda Marxista uma corrente intra PT no qual é membro do diretório municipal em Macaé (RJ).
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