Cada dia vem se tornando mais difícil relacionarmo-nos com as pessoas, principalmente as próximas, aquelas que se sentem no direito, e também na obrigação, de darem seus palpites em relação à nossa vida. Ouvir, às vezes, já é suficientemente duro. Colocar em prática tais conselhos, humanamente impossível em muitas circunstâncias, pois as pessoas são diferentes, e o que é bom para mim pode não ser para você. Mesmo assim, falta respeito pelo posicionamento do outro, falta aceitação. Algumas pessoas vivem querendo impor seu ponto de vista e, sinceramente não se importam se magoam alguém. Isso ocorre muito entre pais e filhos, cônjuges, namorados, amigos íntimos...
Um julga estar sempre certo e tenta impor seu modo de pensar e estilo de vida ao outro, por vezes, diminuindo-o, humilhando-o, como se somente a sua forma de pensar fosse correta. Em contrapartida, há os que resistem ao diálogo e assistem comodamente o desenrolar dos acontecimentos escondidos sob seu silêncio indiferente. Importa apenas o seu mundo interior, seus próprios pensamentos e seu conforto emocional.
Ambos os lados da mesma moeda refletem formas de relacionar-se erroneamente. De um lado aquele que somente quer impor, de outro lado aquele que, em seu silêncio indiferente, manipula a situação relacional como bem entende. As pessoas passam a ser joguetes e seus sentimentos são pisoteados como se não existissem. Quem atravessa a situação de existir e não ser notado sabe bem do que estou falando, assim como aqueles que não têm um minuto sequer de sossego, porque seu capataz volta e meia vem verificar se tudo está como ele queria.
É gente, relacionamento humano não é fácil. Relacionar-se é uma arte e devemos aprender a ceder na medida certa. Se abaixamos demais mostramos os fundilhos. Se teimamos em não abrir mão dos nossos posicionamentos precipitamos a derrocada, pois ninguém cede eternamente.
O que precisamos saber é que cansa muito ser ignorado ou monitorado constantemente. Ambas as situações vão, pouco a pouco, acabando com qualquer sentimento gostoso que a gente queira alimentar. Um casamento, uma amizade, um namoro, uma família bem estruturada não podem ser conseguidos somente com a boa intenção de uma pessoa. Já diz o ditado: “Uma andorinha não faz verão”. O próprio Jesus falou: “Onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou no meio deles” (Mt 18, 20). Ora, deu pra entender? Um só não segura casamento, namoro, amizade, família... Chega uma hora que cansa.
Recebi um texto muito interessante de uma amiga esses dias. A pessoa segurava um copo com água e perguntava à plateia se isso era algo difícil. Aparentemente, a resposta é simples, pois é bem fácil segurar um copo d’água. Mas, exatamente aí, a pessoa completa: depende do tempo que o tivermos de segurar. Nossas situações relacionais esbarram na mesma explicação. Se tivermos de “segurar as pontas” de uma relação por alguns dias, meses, anos talvez... Mas, à medida que esse tempo vai se acumulando nossas mãos vão enfraquecendo, e o que era apenas um copo d’água assume a proporção de um iceberg. Vamos pedir a Deus que isso sinceramente não aconteça conosco.
Maria Regina Canhos Vicentin é escritora.
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