A ética continua sendo secundária em relação ao lucro na atual imprensa globalizada

O fechamento recentemente do tablóide inglês The News of the World, que vendia 2,6 milhões de exemplares, propicia o debate sobre o papel da imprensa no mundo globalizado. Para o jornalista e professor universitário (ECA-USP e da ESPM) Eugênio Bucci, por exemplo, tal fechamento deu a largada para o que ele considera ser a principal discussão na imprensa, que seria a ética. Para tanto, sob o título "(Depois do News of the World) A Globalização da Ética na Imprensa" Bucci teve texto publicado no jornal impresso O Estado de S. Paulo, em 14 de julho passado. Conforme se vê, dado ao título deste texto que redijo, estabelece-se uma divergência de princípio com o jornalista e professor universitário.
Assim, sendo um pouquinho corporativista digo que busco a objetividade possível e própria do jornalismo, quando afirmo que essa divergência ocorre desde os anos 80. À época, no meio universitário e também no meio sindical dos jornalistas cariocas, onde militei acabei assumindo o marxismo. Daí, porque estou convencido (não, por estar fazendo profissão de fé) que a divergência com o jornalista e professor universitário ocorre porque ele não é marxista. Haja vista, ele define como discussão principal, não o dogma da casta burguesa dos jornalistas-empresários e seus hierárquicos asseclas (diretores, editores, gerentes) que é o lucro. Mas, sim a ética, que é um princípio, porém, não é o principal valor.
Embora discorde de Bucci quando diz ter sido a partir do fechamento do tablóide inglês que isso ficou claro, concordo com ele sobre o fato da conduta dos órgãos encarregados de informar a sociedade seja uma pauta supranacional. Considero correto ele afirmar não ser apenas o capital que viaja em segundos de um continente para outro, que não são apenas as massas trabalhadoras que migram clandestinamente para disputar empregos em terras estrangeiras, não ser apenas a indústria da diversão que alcança simultaneamente os olhares de povos distantes entre si. "A credibilidade dos órgãos jornalísticos não é meramente um assunto doméstico, ela floresce e sucumbe na arena global"; enfatizou.
De acordo com o jornalista-professor universitário, o tablóide inglês tinha 168 anos, sendo que desde 1969 pertencia ao conglomerado internacional News Corporation que é controlado pelo mega empresário australiano Rupert Murdoch, cujo faturamento era de US$-33 bilhões por ano. Segundo o jornalista-professor universitário, o jornal The News of the World era baseado em bisbilhotagem, luxúria e algum sangue, vivendo muito bem, apesar de há algumas décadas vir sofrendo lento declínio em circulação. Ainda segundo Bucci, a fórmula editorial do tablóide inglês ia dos aposentos da família real em Londres às estripulias transoceânicas dos astros do show business, passando por bestialidades a granel.
Bucci informa que os métodos "jornalísticos" do tablóide inglês, há poucos anos, passaram a ser contestados, existindo no site da instituição encarregada pela auto-regulamentação da imprensa britânica Press Complaints Commission queixas de escutas clandestinas. Ainda segundo o jornalista-professor universitário, na esfera policial também existem investigações contra o tablóide, tendo o jornalista do The News of the World, Clive Goodman, chegado inclusive a ser preso em 2007. Para Bucci apesar de tudo isso não ser novidade, se acreditava que os crimes registrados eram desvios individuais, casos isolados. O que segundo Bucci, constatou-se tratar de crimes mais numerosos e sérios.
O jornalista-professor universitário Eugênio Bucci diz que conforme apontam as investigações, seriam mais de quatro mil os telefones grampeados pelo tablóide inglês, se constituindo em uma fértil indústria do grampo. Para Bucci, o gerenciamento de milhares de escutas clandestinas é operação de monta, que sempre requereu do tablóide equipes treinadas e orçamentos planejados; enfim - ressaltou
- os inquéritos vão dando conta de tratar-se não de uma redação jornalística, mas, de uma agência de arapongas assalariados. Haja vista, ainda segundo Bucci, o tablóide inglês inaceitavelmente excedeu o campo jornalístico, praticando as ilegalidades de grampear pessoas e invadir celulares.
Então, pela 1ª vez, o jornalista-professor universitário mencionou o que significava a razão de ser do The News of the World, o lucro, ao citar o caso do grampo no celular de uma adolescente desaparecida, que apesar de ter sido assassinada, os detetives contratados pelo tablóide apagaram as mensagens do celular dela. Para Bucci, isso fez com que fez os familiares dela acreditassem que a adolescente ainda estivesse viva, levando o caso a ganhar sobrevida, acarretando em uma grandiosa e lucrativa cobertura jornalística liderada pelo tablóide inglês. O jornalista-professor universitário disse que a descoberta do tablóide como um serial killer da privacidade de gente comum estarreceu a Inglaterra, causando-lhe fim de linha.
Para Bucci isso se deveu ao fato de que os anunciantes caíram fora, agravado pelos protestos que se generalizaram, obrigando o mega empresário Murdoch a fechar o semanário, na tentativa de estancar a sangria de reputação e de salvar o objetivo maior que era comprar a totalidade da BSkyB, poderoso grupo de canais a cabo, do qual é sócio minoritário. A tentativa malogrou, tendo o quadro se complicado uma vez que o ex-diretor do tablóide e porta-voz do 1º Ministro britânico David Cameron, até janeiro de 2011, Andy Coulson foi preso, sendo liberado somente sob pagamento de fiança. A grave crise do tablóide virou crise parlamentar, pois, o ex-1º Ministro Gordon Brown também disse ter sido grampeado.
Contestado em público por políticos de diversas correntes, o mega empresário Murdoch acabou desistindo da compra da poderosa BSkyB, ficando acuado dentro da Inglaterra e no restante do mundo; salientou Bucci. A internacionalização do debate dá-se por isso, pois, o escândalo dos grampos virou notícia mundial. Afinal, o conglomerado do mega empresário existe no mundo inteiro. Não por outra razão, o conglomerado passou a ser alvo de investigação nos EUA onde, depois do diário inglês The Guardian, o mais destacado na cobertura dos bueiros da News Corporation é o The New York Times que sofre concorrência frontal do jornal comprado por Murdoch em 2007, o Wall Street Journal.
A propósito, numa edição recente a revista Newsweek deu destaque à seguinte indagação de um dos autores das reportagens sobre o escândalo de Watergate, publicadas no Washington Post, que levaram à renúncia em
1974 do então presidente estadunidense Richard Nixon, o jornalista Carl Bernstein: Será que esse escândalo não é o Watergate de Murdoch?
Por sua vez, a revista The Economist foi impiedosa "Se ficar provado que os diretores da News Corporation agiram contra a lei, eles não deveriam mais comandar nenhum jornal ou estação de TV. Deveriam estar na cadeia". Estas são informações divulgadas pelo jornalista e professor universitário Eugênio Bucci com as quais eu estou de acordo.
Concordo igualmente com Bucci quando ele afirma que isso vale para qualquer país porque no mundo de hoje, as práticas dos tablóides ingleses viraram tema do interesse público internacional, ainda que difuso, rarefeito, pouco institucionalizado. Por outro lado discordo dele, não necessariamente no conteúdo, mas sim, na forma ao se referir às expressões o capitalismo selvagem e a especulação financeira, quando afirma que não são apenas os dois que rasgam fronteiras. Haja vista, tanto a especulação financeira quanto o capitalismo, que não precisa ser apelidado de selvagem, são mesmo internacionais. Para concluir, concordo com as afirmações do jornalista e professor universitário Eugênio Bucci a seguir:
"As preocupações humanitárias em geral e a ética jornalística em particular também se globalizam como valores universais. É isso que o mega empresário Rupert Murdoch terá de prestar contas. E com isso ele talvez não contasse".

*jornalista - militante da seção brasileira da Corrente Marxista Internacional a Esquerda Marxista que é corrente intra PT no qual integra o diretório municipal em Macaé (RJ).
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