Tão logo o fato repercutiu o parlamentar quis descaracterizar os delitos cometidos afirmando não ter entendido a pergunta da intérprete e atriz do porque ele é contra cotas. Daí ele disse "em nenhum momento manifestei expressão de racismo, tendo justificado ser contra qualquer tipo de cota, sem me referir à cor e afirmei que não viajaria em avião pilotado por cotista, nem gostaria de ser operado por médico cotista".
O parlamentar disse ainda não ser apologista do ‘homossexualismo'
(sic) por entender que tal prática não seja motivo de orgulho; mas que ele não é homofóbico e respeita as posições de cada um, sendo que sobre racismo os inúmeros amigos e funcionários afro-descendentes podem responder por ele.
Preliminarmente, o ‘nobre' deputado afirma ser contra as cotas, como se ele fosse um político anti-racialista, isto é, contra a ideologia e ou crença fundamentalista na existência de ‘raças' entre os seres da espécie humana. Porém, o parlamentar não é nada disto. Ao contrário, o deputado tem perfil ideológico nazifascista. Ou seja, é aversivo aos pobres e os oprimidos como um todo, especificamente os negros e os homossexuais. Sua tentativa de descaracterizar os crimes que cometeu ao responder à pergunta da intérprete e atriz Preta Gil, não convence ninguém. Duvido que o ‘nobre' deputado tenha amigos e ou funcionários, que sejam negros com consciência anti-racista insuficiente a ponto de vir a público defendê-lo.
Para provar que o ‘nobre' parlamentar não é anti-racialista, duvido também que em contraposição ao gênero de políticas de ações afirmativas e às espécies de leis ‘raciais' como as de cotas para negros e indígenas (públicas ou privadas), o deputado defenda as mais democráticas, abrangentes e eficazes políticas públicas desenvolvidas pela espécie humana, que são as políticas universalistas. Em outras palavras, duvido que o ‘nobre' deputado, por exemplo, que ao invés do Estatuto da Igualdade ‘Racial' (EIR) ele defenda Reforma Agrária com o imediato assentamento de 350 mil famílias de Sem-terras acrescidas especificamente da titulação às remanescentes em quilombos, assim como as reivindicações, a seguir.
Escolas, universidades, bibliotecas, creches e tudo relacionado à Saúde inclusa a epidemia social de anemia falciforme como público, gratuito e com excelência na qualidade para todos e todas. Da mesma forma, desafio o ‘nobre' deputado a propugnar também: Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 respectivamente História, culturas e lutas dos negros e indígenas desde o continente africano, passando pelas Américas e diáspora como o Brasil terem os cursos de capacitação de professores do ensino fundamental e do médio ministrados por graduados de todas as correntes do pensamento didático-pedagógico. Já em relação à Lei
7.716/1989 (Caó) que explicarei a seguir, esclareço ser o mesmo que pedir ao ‘nobre' parlamentar fazer gol-contra.
Assim, o ‘nobre' deputado não irá mesmo defender (mas eu defendo) que as delegacias da Polícia Civil e da Polícia Federal passem a ser obrigadas a se infra-estruturarem de um setor especializado para registro das ocorrências policiais cotidianas do crime de racismo, cujos plantões diários contem no mínimo com advogado, antropólogo e sociólogo. Afinal este é o enquadramento criminal que o ‘nobre'
parlamentar incidiu no imbróglio com a intérprete e atriz Preta Gil.
Por fim, propugno o fim da ocupação militar do Haiti pelas tropas internacionais da ONU, a MINUSTAH, com o conseqüente retorno aos países de origem a começar pela brasileira que as comandam, a liberdade para o jornalista, militante negro e anti-racista o estadunidense Mumia Abul Jamal e um Tribunal Mundial para julgar e punir os crimes de lesa humanidade que ocorrem no continente africano e países da diáspora como o Haiti.
*jornalista - é militante do Movimento Negro Socialista (MNS) onde integra a coordenação nacional.