Qual será a universidade do futuro? Substituirão as atuais salas de aula? Cada escola terá a sua missão, que não se bastará com a simples transmissão do saber, pois deverá se identificar com as necessidades do mercado de trabalho. Esse registro é que dará força à palavra "tecnoestrutura", criada por Galbraight para identificar a trilogia governo,empresa,escola. Nunca essa ligação será tão oportuna e, por isso mesmo, tão indispensável.
A universidade sempre teve como objetivo cultivar e transmitir o saber. Depois, sob o impacto determinado por novas exigências, constatou-se a necessidade de ampliar os conhecimentos, produzir novos saberes, e o meio privilegiado foi a pesquisa.
Tomemos, a título de ilustrações a questão da linguagem, que muitas vezes é o elemento responsável pela não divulgação ou, o que é equivalente, pela não compreensão das pesquisas. Inúmeras delas vêm involucrudas numa linguagem hermética e fechada, acessível apenas ao pequeno grupo de iniciados.
A linguagem, ao invés de tornar transparente e acessível, obscuresse e esconde. É necessário que a divulgação ultrapasse a barreira acadêmica e, no caso da pesquisa educacional, atinja as redes do Ensino Fundamental e Médio, os pais, os alunos e a comunidade.
Um problema crescente e preocupante nos meios educacionais: o plágio. A palavra plágio vem do latim plagiu, plágios, oblíquo, indirecto, astucioso, copia fraudulenta do trabalho de outrem que um autor apresenta como sua. Potencializada pela era digital, esta prática danosa não apenas representa um novo desafio para os educadores como também mexe com os padrões éticos da sociedade brasileira. Mais do que crime previsto pelo Código Penal, o plágio é uma deformação do aprendizado para a vida e um desestímulo à competição saudável pelo mercado de trabalho.
O pesquisador, sobretudo aquele que ainda é aluno de algum programa de pós-graduação, vê-se na contingência de respeitar determinados prazos que são estabelecidos sem levar em consideração a índole particular de seu trabalho pressionado pela duração das bolsas ou por montantes fixos de recursos.
É exemplar, neste contexto, o recente episódio da demissão do catedrático da Universidade de São Paulo que publicou numa revista estrangeira um trabalho com gráficos copiados de outra obra científica. Doutor em bioquímica, orientador de mestrado e doutorado, ele teve o currículo maculado por ter incorrido na chamada cultura da cópia, que consiste em utilizar ideias alheias sem dar o devido crédito a seus autores.
Infelizmente, esta prática tornou-se tão comum nas escolas e universidades brasileiras que se criou uma próspera indústria de produção de trabalhos escolares. Sob pretexto de não dispor de tempo para pesquisar, estudantes de todos os níveis encomendam a especialistas, mediante pagamento, até trabalhos de conclusão de curso: na graduação (TCC); na pós-graduação (lato sensu), no (stricto sensu) mestrado ( dissertação) e doutorado (tese). Alertados pelo crescimento de tais práticas, escolas e professores intensificam a vigilância, mas nem sempre estão preparados para detectar fraudes. Há educadores que preferem ignorar o problema, sob pretexto de que o aluno plagiador está prejudicando a si mesmo.
Não é bem assim. Universidades da Europa e dos Estados Unidos já desenvolvem sistemas eficientes de fiscalização, além de submeter os estudantes a regras claras e a punições rigorosas para o plágio. Parece ser o caminho mais adequado: cabe às escolas e universidades brasileiras priorizar esta questão, não só elevando a vigilância sobre potenciais fraudadores, mas ensinando aos alunos como fazer pesquisas com proveito, ética e transparência.
Se queremos projetar a universidade brasileira para os próximos trinta anos. Viveremos uma outra época, de incríveis conquistas científicas e tecnológicas, alimentadas pelo uso de computador e da Internet, e é claro que a indústria do conhecimento, representada pelos nossos pesquisadores, não poderá concorrer com os produtos de outras nações se não estivermos devidamente apetrechados, inclusive do ponto de vista dos recursos humanos qualificados.
O ingresso do Brasil ao Primeiro Mundo não pode se cingir a um exercício de retórica. Deve ser algo muito mais consistente, que passa pelos cuidados com a educação, a ciência e a tecnologia.
(*)Nelson Valente é porfessor universitário, jornalista e escritor