Jane Martins em fotografia com o belo rosto em evidencia, nos bastidores do espetaculo do Miss Estado do Rio 1964, ja pronta com o traje de gala, para entrar na passarela.
Este artigo é sobre a memória de uma macaense que chamou a atenção da comunidade local de Macaé na década de 1960. Trata-se de Jane Maria Martins Figueira (Macaé, 1º de abril de 1947 - Cidade do Rio de Janeiro, 3 de maio de 1979), uma marcante miss do município que quase foi eleita a mais bela do estado em 1964.
Apesar de que o Brasil - naquele ano de 1964 - estava iniciando uma era ruim, da ditadura militar - que permaneceu por duas décadas a mais -, a população nacional ainda estava sob o efeito de uma alegria que se concebeu no ano anterior, que foi a vitória da Miss Brasil 1963 (Ieda Maria Brutto Vargas, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul) como Miss Universo 1963. Com esse feito de Ieda, havia em 1964 uma grande expectativa no país em torno das escolhas de suas misses municipais.
Em Macaé - município que ainda pertencia ao antigo Estado do Rio e sendo Niterói a sua capital - a expectativa em torno da eleição da Miss Macaé 1964 - e por conseqüência também sobre a sua participação no próximo concurso do estado - era grande, pois apesar de que a Miss Estado do Rio 1963, Miriam Montenegro da Fonseca não conseguiu ser semifinalista da disputa do Miss Brasil 1963, porém a Miss Macaé 1963, Sílvia Valadares Mota Maia abiscoitou o 3º lugar no certame Miss Estado do Rio 1963. Por tudo isso, era certo que a moça que vencesse a competição do Miss Macaé 1964, iría causar um certo frisson na cidade.
Jane Maria Martins ainda bem pequena, na infancia simples em Macae.
Sobre a trajetória de Jane como miss, ela - que era filha de José Martins e Edith Azevedo Martins, e tinha três irmãs e três irmãos - iniciou o seu reinado quando foi convidada para ser coroada como a "Miss Ypiranga Futebol Clube 1964", tendo como missão de defender o referido clube macaense no desfile de beleza municipal. Ela - que era uma garota de família simples - não precisou ter aulas de etiqueta para aprender sobre as regras e truques da passarela, pois já tinha participado anteriormente na época de sua adolescência, de desfiles de moda na cidade. Por isso, ela já tinha noção o suficiente de como uma menina deveria pisar numa passarela.
Ana Martins - uma das três irmãs da miss -, enfatiza que Jane tinha uma beleza natural, e isso era a realidade das belas pessoas de antigamente. "A minha irmã era muito bonita, e por isso foi óbvio o convite que a ela foi feito, para ser miss. Sua beleza era ao natural, bem original, conforme a natureza e a realidade, pois antigamente não existia os recursos de estética que tem hoje no mercado", diz Ana.
Jane Maria durante o seu reinado como miss, fazendo pose em foto na mureta da Avenida Presidente Sodre (Rua da Praia), de Macae.
O desfile "Miss Macaé 1964", contou com a participação de cerca de seis moças do município. Elas estavam representando clubes e entidades. A ocasião aconteceu no Ypiranga Futebol Clube. E a vencedora - como já citado - foi Jane Maria Martins - a candidata do clube sede do evento -, que tinha antes terminado seus estudos da 8ª série, concluindo o ginásio. Na ocasião, a Miss Macaé 1963 (Sílvinha) deixava o cargo de beleza que tinha recebido no ano anterior.
Depois de eleita Miss Macaé, Jane Maria Martins teve a missão de defender a sua cidade natal no concurso Miss Estado do Rio 1964, no dia 20 de junho daquele ano, no Ginásio Caio Martins, Niterói, em certame que contou com vinte e duas candidatas municipais fluminenses, inclusive ela logicamente.
Jane Maria (no meio da foto, sentada, de branco) durante o reinado, num evento que participou no Ypiranga Futebol Clube, de Macae, clube o qual ela foi a sua miss, e venceu o desfile municipal la.
No dia final da disputa, partiram de Macaé dois ônibus cheios de macaenses rumo à antiga capital, para torcerem por Jane. O ginásio estava lotado, e a transmissão televisiva passou no estado fluminense, na TV Excelsior. No desfile de traje de gala, a macaense ostentou um vestido branco de rendas e bordados, além de luvas brancas. Já no desfile de traje de banho, a Miss Macaé estava com maiô de cor azul marinho da Catalina - que é a tradicional marca de maiô das misses brasileiras - e estendida em seus 1 metro e 68 centímetros de altura, exibindo ao público e júri a sua bonita plástica corporal e pele branca, além de seu belo rosto composto por olhos castanhos escuros e cabelos negros. Anunciadas as oito finalistas, a macaense entrou nesse grupo do "TOP 8" com mérito e louvor. A Miss Macaé era forte concorrente à vencer a competição, e muitos torciam por ela. No resultado final, Jane abiscoitou o 2º lugar, sendo a Vice-Miss Estado do Rio 1964. Na época - tanto nos bastidores do evento, quanto nos boatos que correram - disseram com firmeza de verdade, que a macaense perdeu devido ao fato de que minutos antes dos juízes concluirem a escolha, os mesmos resolveram não dar o titulo máximo da beleza fluminense para ela. Isso, já que eles verificaram que ela tinha dezessete anos (e a idade precisaria ser entre dezoito à vinte e cinco anos). O resultado assim ficou: 1º: Cambuci - Cecília Rangel Martins da Rocha (que participou da concorrência do Miss Brasil 1964, sendo semifinalista, galgando a 6ª colocação. E um ano antes, 1963, Cecília foi Miss Mello Tênis Clube 1963 e 7ª colocada do Miss Estado da Guanabara 1963); 2º: Macaé - Jane Maria Martins; 3º: Saquarema - Isis Panaim; 4º: Angra dos Reis - Leila Marques Graça; 5º: Mangaratiba - Olga Maria Kuzman; 6º: Niterói - Dalva Maria da Silva Santos; 7º: Nova Friburgo - Maria Elvira do Rego Monteiro; 8º: Cantagalo - Miriam Monteiro da Fonseca.
Na volta triunfal à Macaé, Jane - expondo a premiação como Vice-Miss Estado do Rio - realizou um glamouroso desfile em carro aberto na cidade, diante de todos os conterrâneos. Na ocasião, ela - que não se revoltou com a perda no concurso do estado - foi festejada com pompa pela população. Inclusive, ela obteve das mãos do prefeito do município na época, Antônio Curvelo Benjamim, a chave da cidade. Isso, para que ela pudesse usufruir de um mandato simbólico na prefeitura durante um ano, juntamente com ele. Por coincidência, na mesma época, a comunidade macaense estava as voltas com o 151º aniversário do município, que iria ser comemorado no dia 29 de julho daquele ano, e Jane participou dessas comemorações da data de mais um ano de existência do município.
Jane em fotografia no ginasio do Caio Martins, no evento do Miss Estado do Rio 1964, juntamente com outras 6 misses finalistas, no momento do (quase) termino do anuncio das 8 finalistas.
Durante seu reinado, Jane Maria participou de ocasiões em Macaé, e viajou muito pelo estado fluminense. O seu fotógrafo oficial foi o macaense Lívio Campos (hoje falecido), que sempre a acompanhava em suas aparições. Além de diversos eventos que participou em Macaé, a miss também marcava presença em eventos de cidades pelo estado todo. Jane sempre viajava na companhia de sua mãe Edith, e ambas visitavam toda semana pelo menos a uma cidade do estado. A miss brilhou com sua beleza em festas de municípios como Cantagalo, Nova Friburgo, Petrópolis, dentre outros. Em sua agenda, listavam muitos bailes de debutantes, festas sociais e festivais, tanto na cidade macaense quanto pelo estado fluminense. E nos eventos que participou em Macaé, Jane era sempre convidada para fazer seus discursos à todos, a fim de realizar as aberturas, além do ato de dar início aos especificados acontecimentos, fazendo sempre um ponta-pé inicial. Inclusive, nos jogos esportivos e campeonatos de partidas de futebol que tinha na cidade, ela - além de iniciar uma exposição oral metódica - sempre era fotografada na companhia dos jogadores, demonstrando afeto e consideração com os seus conterrâneos. Além do mais, Jane teve um privilégio magnífico em seu reinado, pois recebia nas cidades em que sempre visitava - como Nova Friburgo, Cantagalo, Trajano de Moraes, Conceição de Macabu, Santa Maria Madalena, Petrópolis, Teresópolis e outras mais -, títulos de cidadã municipal dessas cidades. Logicamente que eram as câmaras de vereadores dos municípios que lhe presenteava com esses títulos honrosos. Realmente Jane era tida como uma personalidade do estado. Inclusive, na década de 1960 as pessoas realmente valorizavam muito as misses. Dentre todas as misses macaenses de todos os tempos, nenhuma outra teve um reinado tão magnífico quanto o de Jane, nem ao menos as que foram eleitas anos depois, como miss estadual/nacional - sem exageros.
Nazaré Martins - também uma das irmãs da miss - enfatiza que Jane foi um marco na cidade nos anos 1960, e que até hoje é lembrada por muitos dos antigos macaenses. "As vezes eu estou em algum lugar, e chegam pessoas que comentam comigo sobre Jane, relembrando sobre ela, se recordando da época em que ela reinou como miss, e lamentando que sentem saudades dela, pela miss que foi, mas sobretudo pela boa pessoa que era", frisa Nazaré.
No ano seguinte, no certame Miss Macaé 1965, Jane entregou o titulo à sucessora, Maria das Graças Valença (que defendeu a cidade na disputa do Miss Estado do Rio 1965, também no ginásio do Caio Martins, de Niterói), esta que recebeu dela também um total apoio e ajuda por ser a nova miss da cidade.
Jane durante o reinado em Macae, em fotografia que registra ela na companhia de jogadores de futebol, em uma das ocasioes municipais em que ela participou, a qual ela tambem fez a tradicional exposicao oral metodica inicial.
Jane - após transferir o cargo municipal para Maria das Graças Valença (Graçinha) - passou a residir com seu companheiro, José Luiz Perrou Figueira. Algum tempo depois, entre 1967 à 1973, ambos tiveram três filhos (José Luiz, Carlos Eduardo e Guilherme Augusto) e uma filha (Edith Helena). Posteriormente, em 1977, o casal firmou união estável, oficializando casamento. E foi por conseqüência disso, que o nome dela, Jane Maria Martins, passou a ser: Jane Maria Martins Figueira.
É adequado notar que Jane - ainda após ter cumprido todos os seus compromissos como miss - além de ter ido residir com o seu companheiro, também começava a trabalhar como corretora de imóveis, e suas atividades profissionais dali em diante foram direcionadas a isso.
Numa viagem à cidade do Rio de Janeiro - ocasião esta em que Jane estava resolvendo problemas profissionais - no dia 3 de maio de 1979, ela ao descer do táxi e atravessar uma rua, foi atingida por um ônibus e tristemente faleceu naquele momento, aos trinta e dois anos. Foi sepultada em Rio das Ostras, cidade-vizinha à Macaé.
José Luiz Martins Figueira - filho mais velho da miss - relembra o quanto foi doloroso o falecimento da mãe. "Ela estava com trinta e dois anos completados à um mês apenas. Eu tinha cerca de doze anos, uma irmã e dois irmãos mais novos. Foi difícil para todos nós superarmos a perda de nossa mãe. Tenho maravilhosas recordações dela, mas sou suspeito para falar sobre ela, pois afinal de contas eu sou filho dela", explica.
Jane (a esquerda) no ginasio Caio Martins, como a 2 colocada do desfile estadual. A direita, a candidata de Saquarema, Isis Panaim, 3 colocada. No trono, a concorrente de Cambuci, Cecilia Rangel Martins da Rocha, eleita.
Jane Martins, a Miss Ypiranga Futebol Clube 1964, Miss Macaé 1964 e Vice-Miss Estado do Rio 1964, foi - de acordo com os registros históricos do oficial concurso fluminense de beleza do extinto estado do rio - a miss de Macaé que teve a melhor pontuação no certame de beleza desse estado que depois deixou de existir, já que tornou-se extinto em 15 de março de 1975. Jane, que foi uma mulher simpática, alegre, meiga, educada e determinada, é das mais belas misses de Macaé de todos os tempos, e sua memória brilhou hoje aqui.
Raphael Guedes Marinho.