Nilcea no Hotel Nacional do Rio de Janeiro, participando do
Miss Estado do Rio de Janeiro 1975, desfilando com o traje de banho
O ano era 1975. O (antigo) estado do Rio e a cidade-estado da Guanabara se unem no dia 15 de março, unificando o (atual) Estado do Rio de Janeiro. Havia muita expectativa em torno do (primeiro) concurso Miss Estado do Rio de Janeiro, que iría ser no Hotel Nacional do Rio de Janeiro-RJ, no dia 15 de junho.
Um fato ruim que poderia acabar com o evento, era o feminismo fundamentalista constante daquela época, que criticava (e muito) os desfiles de misses em geral. Mas apesar da ameaça, o concurso pioneiro estadual fluminense de 1975 marcou na história, pois os registros apontam que foram 54 candidatas municipais que participaram - o maior número da história - do certame. Os municípios fluminenses queriam eleger as suas misses com muita expectativa. E em Macaé, a história não poderia ser diferente.
Em 1975, a representante macaense no concurso estadual foi Nilcéa Vieira Carvalhaes, que fez muito sucesso e abiscoitou o 3º lugar. A vitória coube a Miss Cidade do Rio de Janeiro, Leila Gomes Tancredi, 4ª colocada no Miss Brasil 1975. Nilcéa levou na esportiva a derrota, não se frustrando.
Nilcea Carvalhaes Miss Macae 1975
Sobre a trajetória de Nilcéa como Miss, ela iniciou o seu glamour, sendo premiada como a Miss Fluminense Futebol Clube 1975, para ser a representante do clube macaense no desfile municipal. Nilcéa aceitou desfilar representando o clube, pois seus amigos na época insistiram muito para ela desfilar como miss, alegando à ela, ser uma forte candidata. E depois de muitas insistências das pessoas, a jovem macaense acabou aceitando o convite do clube, de ser a sua miss.
O desfile do Miss Macaé 1975 aconteceu no Ypiranga Futebol Clube, contando com mais de vinte candidatas. As moças estavam representando clubes, colégios e outras demais instituições macaenses. Porém, duas garotas chamaram muito a atenção do júri e público local: Nilcéa, a Miss Fluminense, e Mara Bacellar Olive, a Miss Ypiranga, que era a sede do evento. Ambas brilharam o tempo todo: Nilcéa, sendo morena de olhos e cabelos negros, e Mara, pele branca de cabelos loiros e olhos verdes. O corpo de jurados, que era formado por personalidades oriundas da (nova) capital do estado, Rio de Janeiro (cidade maravilhosa), depois da avaliação das misses, escolheram as 5 finalistas. O TOP 2 foi formado por Nilcéa, 2º lugar, e Mara, que venceu.
Durante uma viagem, Nilcea Carvalhaes em 2009, na companhia do esposo, Fernando Frossard
A disputa do Miss Macaé 1975 sacudiu a cidade no período, tendo sido muito comentada pela comunidade local. Nas ruas do município, festas e locais em geral, havia muita repercussão. Um fato interessante e quase raro nos desfiles de misses, aconteceu em Macaé nessa ocasião, pois a eleita (Mara) não queria de jeito nenhum desfilar no Hotel Nacional representando Macaé. E além disso, Mara tinha somente 16 anos (Uma miss precisa ter entre 18 à 25 anos).
Com esse problema na eleição da mais bela macaense do ano citado, Nilcéa, a 2ª colocada no desfile municipal, foi indicada para representar a cidade em 1975, automaticamente sendo coroada como a "Miss Macaé 1975", e Mara foi concorrer no ano seguinte, sendo aclamada a "Miss Macaé 1976", tendo sido semifinalista no evento estadual, também no Hotel Nacional. Ou seja, para o histórico do oficial concurso Miss Estado do Rio de Janeiro, e no município macaense em geral, Nilcéa é a Miss Macaé 1975, e Mara é a Miss Macaé 1976. É bom notar que as duas sempre tiveram um bom relacionamento, pois já se conheciam antes de 1975. O fato de terem desfilado juntas em uma mesma disputa municipal de beleza, não colaborou para surgir alguma rivalidade.
Nilcéa, ao saber de sua obrigação como representante macaense, viajou rumo à cidade do Rio de Janeiro-RJ, para concorrer à miss estadual. Mas ela foi participar da disputa, sem muita expectativa de conseguir prêmios, status e vitórias. "Eu fui desfilar no Hotel Nacional depois de muita insistência de amigos e parentes, mas não tinha esperanças, pois eu era uma garota do interior, que estava encarando aquilo de uma forma muito esportiva, e olhando tudo de maneira bastante simplista. Todo aquele glamour e brilho de misses daquela época, não era o meu sonho, nem o que eu desejava para mim", declarou Nilcéa. "Na época, eu tirei 3º lugar, e foi uma honra para mim, o fato de ter concorrido com tantas concorrentes, e tendo chegado perto do título, que coube a Leila. E quando voltei para a minha cidade, fui recebida com euforia, e fiquei felicíssima com a hospitalidade e o carinho das pessoas. Isso para mim era o suficiente, e não a pontuação que tive no Hotel Nacional", diz Nilcéa, que foi uma miss de fisionomia morena bem nacional - o chamado "Tipo Brasileiro de Exportação" -, com traços genuinamente brasileiros, além de que esteve sempre com semblante feliz, traduzindo então a sua graciosidade de mulher brasileira.
Posteriormente à seu retorno em Macaé, Nilcéa fez tanto sucesso, que tornou-se a "Eterna Miss Macaé", por ser a miss do município mais lembrada até hoje, sendo sempre citada por todos da cidade. Na época, a miss chegou a ter contato direto com Paulo Max (falecido em 1996), que era o mestre de cerimônias dos concursos de beleza (estaduais/nacional) no país, e que chegou a visitar Macaé naquela época. Nilcéa reinou como miss, participou de eventos e ocasiões em Macaé, e por onde passou, esbanjou carisma, e cativava à todos como miss e como pessoa. Quando ela foi miss, Macaé não tinha ainda abiscoitado nenhuma vitória de beleza estadual e nem nacional, isso se deu anos depois, mas nenhuma Miss Macaé eleita Miss Estado do Rio de Janeiro e até como Miss Brasil, conseguiu superar a fama de Nilcéa no município, esta sendo até os dias atuais - como dito antes -, a mais famosa da cidade macaense. "As vezes acontece de eu estar na rua, ou em algum lugar, e alguém grita para mim de forma muito bonita e bastante carinhosa me chamando de eterna miss Macaé, e eu fico contente com esses gestos amistosos de algumas pessoas comigo", diz. Depois do sucesso no espetáculo estadual, ela foi convidada para representar outras cidades pelo Brasil à fora e até estados brasileiros como miss em desfiles de disputas de belezas brasileiras, mas ela recusou todas essas propostas, preferindo não investir na vida das passarelas dos glamourosos concursos. "Ter sido Miss Macaé e obter a classificação de 3ª colocada no concurso estadual já estava bom demais para mim. Fiquei satisfeita com a pontuação que abiscoitei, e grata pelo afeto de minha família, amigos, e a comunidade macaense em geral comigo. E isso realmente era o suficiente. Não precisava mais nada. E se melhorasse, estragava" (risos), frisa a Nilcéa Carvalhaes, explicando tudo isso de uma forma muito divertida, mas sincera.
Talvez, foram vários fatores positivos que fizeram de Nilcéa Vieira Carvalhaes, como a "Eterna Miss Macaé 1975". Ela não foi apenas a rainha da beleza macaense de 1975, representante municipal no concurso do estado daquele ano. Nilcéa Carvalhaes é considerada por muitos na cidade, como um exemplo de mulher classuda da sociedade macaense, e além do mais, ela faz parte da família Carvalhaes, que é uma tradicional família macaense conhecida pelas pessoas em geral. Nilcéa tem outras seis irmãs, contando sete com ela, mas somente ela na família, a eterna miss Macaé 1975, que desfilou como miss.
Depois de ter sido miss, algum tempo depois, ela casou-se com Fernando Frossard, e seu nome de casada é: Nilcéa Carvalhaes Frossard. A miss não teve filhos, mas tem a vida preenchida pelos familiares e amigos, dentre outras atividades.
Nilcéa trabalhou durante muitos anos no Banco Real - situado no centro de Macaé -, e isso provavelmente ajudou a elevar ainda mais a sua popularidade como miss. Depois, ela participou do concurso para a Petrobrás, se classificando bem, e ao ingressar na Petrobrás, a sua jornada de trabalho passou a ser ali concentrada. "Como não quis investir em posteriores outros desfiles de miss, nem em carreira de modelo ou artística, a minha vida sempre foi como a de uma pessoa comum. E isso realmente é o que sempre quis. Não precisava necessariamente ter vida de estrela, e eu nem queria isso", enfatiza.
De um modo geral, ela é elogiada pelas pessoas, por ser acima de tudo, boa gente. Hoje, a Eterna Miss Macaé desfruta de sua aposentadoria, na companhia de famíliares e dos amigos. "Eu penso que ninguém é melhor do que ninguém e por isso sempre tratei a todos muito bem, pois não adianta o ser humano criar inimizades com os outros, nem compensa perdermos nosso tempo com isso. Não sei bem se é isso, mas talvez o meu jeito de ser assim com as pessoas em geral, colaborou para o carinho da sociedade macaense comigo, ao se lembrarem primeiramente de mim, ao recordarem das misses macaenses do passado. O fato de eu ter sido miss é algo que poderia ter me feito seguir alguma carreira longe de Macaé, mas não era esse realmente o meu ideal de vida", explica. "Além de tudo, naquela época de 1975, ainda existia um pouco de tabu contra as misses, já que alguns ainda achavam que isso abria portas para bons, mas também para ruins caminhos, como o de ser atriz. E falo em atrizes, pois naquele tempo, isso ainda era algo visto com preconceito por algumas pessoas, ao contrário de hoje, que é encarado como algo mais do que normal pelo pessoal em geral", frisou.
E neste momento tão especial, em que estamos entrando em 2011, faço esta homenagem a essa macaense, que sempre brilhou não só por ter sido a Miss Macaé que mais chamou a atenção na comunidade macaense local, mas também pela graciosa mulher que é, e pela boa pessoa que sempre demonstrou ser com todos. E que você desfrute Nilcéa, de um reveillon cheio de paz, saúde e alegrias.
Raphael Guedes Marinho.