O filme “Hebe – A estrela do Brasil”, dirigido por Mauricio Farias, permite uma reflexão sobre o grande número de biografias que é levado para o cinema. Sejam ou não autorizadas, elas despertam no público uma curiosidade natural, já que saber mais sobre os seus ídolos é uma curiosidade muito presente.
A primeira indagação é qual é o motivo que nos leva a preferir muitas vezes os filmes que, em tese, contam uma história real, mesmo que seja romanceada. É curioso como o cinema, que teoricamente deveria ser um local de exploração da fantasia, vem se tornando uma espécie de residências de documentários.
A segunda, no caso da obra sobre Hebe, é que se torna difícil para o público saber se a retratada reunia de fato as características ali apresentadas, como a consciência contra a censura e a favor das chamadas minorias ou a bebida constante, seja no camarim ou em casa. Torna-se difícil saber quanto há de ficção ou de realidade ali existe.
O filme serve para criar um perfil da biografada? A cena em que aparece a representação de Roberto Carlos beira o grotesco, por exemplo. Mas há momentos em que o talento de Andrea Beltrão como atriz se sobrepõe à visão estereotipada que a obra ameaça constantemente criar.
Se a ideia do filme era estabelecer uma faceta de biografia de Hebe a partir de um episódio específico, com a saída dela da emissora Bandeirantes e ida para o SBT, não se pode dizer que o resultado seja inesquecível. Enquanto estabelecimento de um perfil mais geral, há poucas nuanças e muitos estereótipos.
Pessoas não são totalmente boas nem más. É nas nuanças que as personalidades se formam e se apresentam no cotidiano. Sendo assim, “Hebe – A estrela do Brasil” não empolga nos aspectos apontados, mas vale a pena ser visto justamente por permitir uma discussão global sobre as biografias de astros es estrelas brasileir@s que recentemente vêm sendo produzidas. Esse resgate da história artística nacional é muito importante e deve ser estimulado.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.