Tudo aquilo que foge da esfera de percepção material recai no misterioso, no desconhecido. Isso acontece porque, apesar dos avanços da sociedade moderna, o homem ainda é embrutecido espiritualmente e muitas vezes só consegue verificar o que é falso ou verdadeiro analisando o elemento concreto, palpável, perceptível para os sentidos do corpo.
Quase sempre as situações da vida são encaradas num contexto materialista e simplista porque as pessoas deixam de se colocarem à disposição para perceber as coisas de um modo global. Porém, o que nos parece enigmático é mais natural do que imaginamos. Shakespeare, em Hamlet, disse que “existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.
Dito isso é de se indagar: que tal permitir-nos olhar a natureza que nos cerca e sentirmos a presença de Deus?! Ora, se em razão do nosso desenvolvimento espiritual e ante a obscuridade que a matéria nos causa não nos é dado compreender a natureza íntima de Deus, sem qualquer dúvida, podemos senti-lo em suas obras.
O canto dos pássaros, o perfume das flores, a beleza do sol, dentre tantas outras obras que a natureza produz, penetram em nossos espíritos levando-nos diretamente à inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. É incontroverso que se Deus não se mostra Ele se revela em suas obras.
Por mais rudimentar e materialista que as pessoas possam ser duvidar da existência de Deus é o mesmo que negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pode fazer alguma coisa (Livro dos Espíritos, perg. 4).
Assim, a busca constante do conhecimento é e será um eterno continuun que nasceu da primeira indagação do homem sobre a natureza e depois sobre a vida e sobre ele mesmo, mas que, inevitavelmente, o levará à Deus. Santo Agostinho já ensinou que “ninguém ama o que não conhece”.
Num claro chamamento do homem à reflexão Mateus já dizia “felizes aqueles que têm ouvidos de ouvir e olhos de enxergar” (Mateus 13:9), incitando um despertar de consciência, de modo que a humanidade, desligando-se um pouco do ser material, possa favorecer seu amadurecimento espiritual ao propiciar que as luzes da sabedoria divina sejam irradiadas livremente para todos.
Paulo Eduardo de Barros Fonseca é vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.