O ser humano é bom e a sociedade o corrompe? Ou o homem é o lobo do homem? Essas duas concepções da existência, representadas, grosso modo, pelas visões filosóficas, respectivamente de Rousseau e de Thomas Hobbes, podem ser o mote para penetrar nas camadas do filme argentino “O anjo”.
Dirigido com admirável ritmo por Luis Ortega, apresenta a história verifica de um criminoso argentino célebre por seus mais de 40 roubos e mais de dez assassinatos. O mais marcante é que desenvolveu essas ações sem remorsos, com profissionalismo e tranquilidade, com precisão cirúrgica.
Sua derrocada está mais associada aos parceiros com os quais foi se relacionando, principalmente com um deles, interpretado por Chino Darín, filho do consagrado ator Ricardo Darín, numa relação homoerótica nunca bem definida. O fato é que o protagonista, Lorenzo Ferro, consegue transmitir ao protagonista um tom angelical que parece tornar impossível ver naquela inocência tamanha violência.
Tendo como um dos produtores Pedro Almodóvar, o filme tem em comum com o cineasta espanhol o clima dos anos 1970, na música, nas roupas e nas cores, e um erotismo mais latente do que explícito, além de contar uma história com constantes reviravoltas. E a pergunta permanece: somos nós, humanos, bons ou ruins em nossa essência primordial?
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e pós-doutorando e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.