Você já se sentiu culpado por alguma ação feita no passado? E teve a sensação que seria devotado pelo que fez ou pensou? O filme ‘Bullitt County”, dirigido por David McCracken joga novas luzes nesse universo. Embora comece de uma maneira aparentemente comum, sem parecer ter um destino definido, consegue atingir as mais densas dimensões de nossa mente.
O que é aparentemente uma despedida de solteiro por adegas do Kentucky, EUA, se torna a caminhada por veredas interiores, em que há um atropelamento escondido, uma situação de infelicidade permanente, uma ganância insuspeitada e uma sexualidade latente. Esses ingredientes vão se alterando em sua relevância pelas reviravoltas do roteiro.
O contato dos quatro personagens centrais com a população local também é simbólico. Existe a menina negra que se tornou uma moça sedutora e um casal que funciona como guarda de um tesouro enterrado. Esses aspectos que fundem a delicadeza e a violência funcionam como nortes da narrativa, ora mostrando possibilidades de redenção, ora mergulhando no caos.
O ponto mais alto da narrativa está justamente nessa alternância de sentimentos e de percepções. Não há heróis ou vilões. Todos passam de um lado para outro em encruzilhadas permanentes. Cada decisão tem uma consequência. Cada ação traz uma reação – e nem sempre é aquela que se espera. Assim, como a vida, o filme desafia a cada instante.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.