Apesar de todo avanço da ciência, em pleno século XXI a humanidade ainda tem dificuldade para enfrentar o tabu do fenômeno morte. Santo Agostinho, o grande filósofo do cristianismo, indicando caminho seguro e a importância do saber, alertou que “ninguém ama o que não conhece”. Assim, compete a cada indivíduo buscar entender as lições divinas para que, dentro de padrões éticos e morais, prepare seu espírito para o caminho bem trilhado da sua evolução.
Para ajudar nessa reflexão, transcrevo uma estória – apócrifa – que me foi enviada que, na sua simplicidade, demonstra a importância do saber viver, ao dizer que:
“Um dia um homem viu Deus se aproximar com uma mala e entendeu que tinha morrido.
Deus lhe disse: ‘É hora de ir’ ... O homem, espantado, perguntou: ‘Tão cedo? Eu ainda tinha tantos planos ...’ Deus respondeu: ‘Sinto muito, mas chegou a sua de partir.’
E o que tem mala? perguntou o homem e Deus respondeu: ‘as suas coisas.’
Você quer dizer os meus bens? O meu dinheiro? ‘Essas coisas nunca foram suas ... eram do mundo.’
‘Então são as minhas recordações?’ ‘Aquelas também nunca te pertenceram, eram do tempo...’.
‘Então são os meus talentos?’ ‘Não eram seus, mas das circunstâncias.’
‘Então os meus amigos?’ ‘Eles nunca te pertenceram, eram do caminho.’
‘Então minha mulher e meus filhos?’ ‘Eles também nunca te pertenceram, eram do coração.’
‘Está levando o meu corpo?’ ‘Nunca te pertenceu o corpo era do pó.’
‘Então está levando a minha alma?’ ‘Desculpe, mas a alma é minha.’
O homem, irritado, pegou a mala, que caiu e se abriu. Para sua surpresa ele viu, então, que ela estava vazia. Com lágrimas nos olhos ele disse: ‘Então eu nunca tive nada?’
‘Cada instante que você viveu foi só seu. A sua existência foi uma sucessão de momentos só seus. Por isso cada um deve aproveitar enquanto tem tempo. Eu rezo para que tudo aquilo que um homem possui em vida não o impeça de fazer isso.’
Em síntese, na mala de cada pessoa estarão gravados os seus pensamentos, ações e atitudes, o que nela colocamos corre por conta exclusiva de cada um. Como as coisas materiais - e tudo aquilo que é conquistado durante a vida - são transitórias e não irão com você para o “céu”, viva agora e não se esqueça de ser feliz.
Sempre é tempo de recomeçar e de preparar a melhor mala possível para quando chegar o nosso momento, mesmo porque, como alertou Santo Agostinho “a morte não é nada. ... Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do Caminho ...”.
Paulo Eduardo de Barros Fonseca é vice-presidente do Conselho Curador da Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho, mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.