Unir temas tão contemporâneos como preconceito e imigração traz sempre o risco de não conseguir atingir nenhuma dessas questões. Tratar esses assuntos numa atmosfera de realismo fantástico parece ser ainda mais complexo, mas é justamente isso que ocorre em “Border”, filme sueco conduzido pelo diretor de origem iraniana Ali Abbasi.
A narrativa apresenta, sob pesada maquiagem, que concorreu ao prêmio Oscar da categoria, uma policial alfandegária que, pelo olfato, consegue sentir quem é um criminoso, seja por ser muito jovem para consumir bebida ou por casos de pedofilia. Nessa jornada, encontra um ser muito próximo a ela, tanto na aparência física como em aspectos emocionais.
O fato de eles serem “diferentes” conduz o filme. Há uma grande habilidade em mostrar como ter características distintas traz bônus e ônus, ou seja, no caso da protagonista, por um lado, um reconhecimento no trabalho, para desmontar uma quadrilha de pornografia infantil, e, por outro, um isolamento pela diferença dos padrões de beleza e comportamento consagrados.
O filme é para estômagos fortes com cenas dos personagens comendo vermes e de uma sexualidade que pode parecer animal, quando, de fato, é plenamente integrada com a natureza. Mesmo assim, pode causar mal-estar em muitos. A proposta como um todo merece reflexão atenta por tratar de temas conhecidos de uma maneira diferenciada e inesquecível.
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.