As ditaduras militares trazem consigo a opressão dos corpos e das mentes. Foi assim em países latino-americanos como Brasil e Argentina. O filme ‘Uma Noite de 12 Anos’, de Alvaro Brechner, enfoca o caso do Uruguai e toma três integrantes do movimento terrorista Tupamaro como eixo central.
O mais famoso deles é José Mujica, que se tornaria presidente, mas os também vítimas da opressão Mauricio Rosencof e Eleuterio Huidobro têm suas trajetórias enfocadas com o mesmo relevo num filme em que o psicológico é muito mais importante que o histórico.
O mérito da direção está justamente em não se ater a biografias, mas a estados de alma. Os detentos, em sua trajetória de prisão de mais de uma década, convivem com humilhações que incluem não poder ir ao banheiro no momento em que precisam, não poder falar em hipótese alguma e não ter o que ler ou papel e caneta para escrever.
Cada um reage à sua maneira. O risco de enlouquecer é muito grande, assim como o de desistir de tudo, caindo em depressão profunda que pode levar ao desejo de dar fim à própria vida. Nesse sentido, a mãe de Mujica desempenha um importante papel no sentido de despertar no filho, nas raras visitas permitidas, a necessidade de resistir sempre. O filme mostra assim como a prisão psicológica é mais dura do que a do corpo. Não deixe de ver para ampliar essa complexa e sempre atual discussão!
Oscar D’Ambrosio é jornalista pela USP, mestre em Artes Visuais pela Unesp, graduado em Letras (Português e Inglês) e doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.