O golpe de 2016 libertou a fera do fascismo que adormecia no coração de parcela da sociedade saudosa da tortura que não sofreu, do filho que não desapareceu, do pai que não foi enforcado, da mãe que não foi estuprada, do irmão que não foi fuzilado, do amigo que não foi condenado.
Com a jaula aberta e o cadeado em sua mão, o fascismo avança para cima da democracia com fome e com ódio, não sem antes mostrar sua máscara de homem de bem, de mulher recatada e de profeta evangélico.
Não vamos derrotar o fascismo nas urnas, porque ele já está entre nós, do lado da nossa casa, atrás das mesas nos escritórios, dentro dos transportes, nas ruas, nos mercados, na programação da TV, nas redes sociais da internet.
O engajamento contra o fascismo tem de ser enérgico, é preciso desenterrar cada semente plantada para que não venha a se transformar em uma planta venenosa, onde nossas crianças possam vir a ficar expostas quando estiverem brincando no jardim do futuro.
Depois das eleições, vencidas ou não pela democracia e pela esperança, vamos continuar na vigília contra as vozes do fascismo. Seus ideais são difusos e subliminares, mas não a ponto de ficarem invisíveis, porque estão nas mãos que agridem a mulher, no chicote que oprime o trabalhador, na voz que incita o ódio contra as comunidades quilombolas e indígenas.
Ricardo Mezavila.