Desde que foi preso no em novembro de 2016 pela Operação Calicute, (Braço da Lava Jato para apurar recebimento de propinas no Governo do Estado do RJ), o ex-governador Sérgio Cabral Filho tem sido alvo de diversos desdobramentos que as investigações tem apontado constantemente.
O que soa irônico, é a ênfase dada pela mídia a fatos que antes eram indícios quase que óbvios do fisiologismo implantado como regime político no Estado. Fatos como o acidente no Campo do Frade ocorrido em 2012 pela petroleira britânica Chevron, o superfaturamento de obras do Comperj, a “sangria” das obras do Maracanã que custou aos cofres públicos 1,34 bilhões e outras aberrações ganham volume com as extravagâncias de Cabral e sua trupe. Quanto mais o Ministério Público e a Polícia Federal cavam, mais a opinião pública se surpreende com os achados megalômanos nas residência de Cabral e a madame Riqueza, Adriana Anselmo. Lanchas, carros de luxo, cachorro-quente refinado (na cifra de 1mil reais), além de aproximadamente 300 joias achadas até o momento que passam do custo de dois milhões de reais.
Com o acirramento das investigações e a devassa feita na vida de Cabral, Hudson Braga e outros, o PMDB fluminense atua nos bastidores de forma ambígua: tentar manter o mínimo possível de governabilidade ética nas esferas que comanda, e costurar uma saída institucional com Brasília para atenuar os figurões do Partido. Vale lembrar ao leitor que o jogo político iniciado em 2007 com Cabral ejetado ao poder foi feito com canastra suja: ora aliado a milicianos, ora caçador de milicianos, empregabilidade para parentes, megaoperações midiáticas contra o tráfico etc. O sonho de Cabral foi se costurando e arregimentando mais apoiadores e máxima “aos amigos tudo e aos inimigos a Lei” perdeu sua eficácia após o acidente em Trancoso que vitimaram a esposa de Cavendish e a namorada de Marco Antônio Cabral resultando em um progressivo afastamento entre o dono da Delta e Sérgio Cabral. Na época, a mídia apresentou as condições climáticas desfavoráveis como causa do acidente, e as contradições começaram a se tornar evidentes jogando em plano político os embaraços de Cabral. Mais uma vez a aposta foi arriscar a canastra suja contra a crise de credibilidade que passava o governo: preparar a cidade para Copa do Mundo e Olimpíadas foram o trunfo certo para apaziguar a indignação de certos setores. Enquanto em 2013 o povo gritava Fora Cabral, o backstage do Palácio Guanabara tentava controlar a insurreição nas ruas com metodologias nada convencionais como a GLO - Garantia de Lei e Ordem (Aparato Institucional – Militar afim de intervir em casos de terrorismo e confrontos urbanos, sancionado à época por Dilma Rousseff). No início de 2014 Cabral renuncia em favor de seu sucessor Luiz Fernando Pezão, e receoso do decorrer da Lava-Jato em Brasília.
Curiosamente o Estado amarga a pior crise financeira de sua história: arrecadação infame, insolvência da dívida pública, atraso em pagamento de servidores e aposentados, ineficazes planos de austeridade, insatisfação pública e a ameaça do tiro sair pela culatra: a gigantesca delação da Odebrecht conhecida como “Fim do Mundo” que pode sacudir mais ainda a árvore de frutos passados para não dizer estragados. :
A orientação é simples: não se assombre com joias ou bens de luxo, pois o jogo pode se reorganizar na surdina, nem que pra isso seja preciso arrastar a canastra para a próxima Eleição.