A tragédia anunciada da tsunami de rejeitos minerais descendo sobre o município de Mariana (MG), que devastou tudo pela frente, avançou pelos municípios vizinhos, feriu de morte o Rio Doce, destruiu a flora e a fauna, que são os meios de subsistência de muitos dos moradores daquelas regiões, e chegou ao mar do Espírito Santo, ainda não foi totalmente avaliada. Na verdade, as consequencias são imprevisíveis, pois os efeitos negativos ao meio ambiente e o impacto disso nas próximas décadas, necessitam de mais tempo para serem respondidas.
Os executivos da mineradora SAMARCO são tão responsáveis quanto as autoridades que negligenciaram o controle sobre os sub-produtos dos minérios explorados. Há informações de que a mineradora financia candidaturas políticas, inclusive teria financiado a do governador de Minas. Essas empresas visam exclusivamente o lucro, deixando em plano secundário as medidas de segurança efetivas, fazendo uso daquelas de menor custo.
A lama da barragem rompida parece que chegou também em Brasília, mas precisamente, no Senado Federal. O senador Delcídio do Amaral, líder do governo, foi pego em um dos maiores escândalos da República. De acesso fácil pelos corredores do Congresso, o senador, que foi ungido à diretoria da Petrobrás pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, transitou pelo PSDB do MS antes de se filiar ao PT. É um político influente tanto no governo, como na oposição.
Se o STF mantiver sua prisão, e Delcídio optar pela delação premiada, as barreiras que separam os políticos dos rejeitos será rompida, e a lama da corrupção invadirá todos os níveis de governo.
Ainda sobre o caso “Delcídio”, na gravação ele cita o nome de alguns ministros do supremo, do vice-presidente da República, do prefeito do Rio de Janeiro, e até do senador Romário. Como na canção da Legião: “da favela ao senado, sujeira para todo lado”. Vamos esperar para ver no que vai dar. Enquanto isso solidarizo com as vítimas de Mariana, e com todos nós, porque também somos vítimas de crime ambiental.
Ricardo Mezavila
Autor de “As conversas que tivemos ontem”