Assim como os automóveis deixaram para trás as carruagens, a televisão está sofrendo esse ciclo. Antes poderosa, ostentava-se nas salas como a líder dos aparelhos eletrônicos domésticos. Manipuladora! Hipnotizava famílias inteiras que disputavam os melhores lugares nos sofás para reverenciá-la. Algoz! Penetrava em nossas vidas e ditava aquilo que deveríamos consumir, pensar e falar
O aparelho de televisão foi um objeto adorado, ainda tem um pouco dessa adoração, que na verdade é dependência e ostracismo. Acontece que vêm perdendo espaço para outros aparelhos, doutrinadores como ele, mas com mais opções de acesso aos conteúdos e, principalmente, com interação e voz. Com a popularização dos aparelhos com acesso à Internet, a velha e empoeirada “caixa” deixa de reinar absoluta. Ainda está em quase toda a totalidade das residências, mas sem o status de antes e sem o luxo dos monarcas.
O mais significativo é a queda brutal da audiência da programação televisiva. Programas consolidados há décadas, como as telenovelas, estão vendo seus pontos caírem verticalmente, e sem retorno. São sinais do tempo de uma era mais individualista, porém mais informada e com perspectivas de aproximação. Por muito tempo pregou-se que a família reunida em frente da TV era mais unida. Ela se reunia para uma sessão de tortura intelectual, principalmente nas décadas militaristas.
Fato é que a TV perdeu o lugar de destaque nas casas, fica encostada como um antigo telerreceptor, como a vitrola ficou um dia porque não podia competir com os aparelhos “três em um”, que já foram encostados também. Normalmente diante de uma TV ligada tem, pelo menos, um a dois outros aparelhos ligados na Internet. Ela ainda sobrevive mais pelo hábito do que pela necessidade.
As pessoas idosas são as que consomem a programação atual, mas como estão impregnadas da cultura de uma outra época, não apreciam certas atitudes levadas ao ar. Um beijo gay, por exemplo, detonou um folhetim logo no primeiro capítulo. Os pensadores, os idealizadores das grades televisivas, precisam mudar o conceito diante dessa realidade, encaretar os diálogos e os comportamentos, senão vão ver seus anunciantes migrarem de vez para quem está “mandando” no mercado da comunicação de massa.
Vamos pensar em uma forma de aproveitar o objeto eletrônico para outro fim, já que tudo que se fazia nele se faz dentro de qualquer lugar privado de tomadas. Só vejo um pequeno e imenso problema: como fomos educados para a prisão, alguns podem fazer mal uso da liberdade. Estamos iniciando uma nova civilização, passamos para uma nova atualização eletrônica, mas vamos fazer nosso upgrade com tolerância, respeito e, sobretudo, harmonia.
Ricardo Mezavila, é escritor