O novo analfabeto político

Analfabetismo é uma condição de falta de instrução, sobretudo a elementar, ler e escrever, que marginaliza o indivíduo, tornando-o “presa” fácil para os que detêm a informação e aos formadores de opinião. Dentro do contexto social temos aquele que Bertold Brecht chama de “analfabeto político”. Ele não entende e não gosta de política, mas é governado por quem entende e gosta. Está no tabuleiro, mas não entra no jogo, não soma pontos para o seu time, mas multiplica pontos para o adversário.

O analfabeto político tem o discurso pronto de que para ele tanto faz se o governo é de direita, esquerda, centro ou neoliberal; se existe comunismo, fascismo, capitalismo ou vivemos um fundamentalismo religioso e terrorista. Para ele basta a rotina de sair de casa, trabalhar e voltar para casa. Seu meio de informação é o telejornal de maior audiência. Ouve as notícias e, já que não entende e não gosta, acredita que ainda vive tudo do mesmo.

Esse tipo de analfabeto político está se desenvolvendo e criando outras formas de praticar o analfabetismo. Mais sofisticado, ele começa a sair de casa com postura de quem aprendeu a cobrir o nome, alguns já assinam sozinhos, isso dá a segurança de erguer os olhos um pouco acima dos joelhos. Ele, depois do massacre na televisão, começa a reproduzir o nome do vilão, de tanto consumir o pão do patrão, ele passa a seguir as migalhas pelas ruas.

Esse new analfabeto pseudo politizado despertou dentro do caixão e, como zumbi, sai de seu eterno sono para bater panelas à noite, envergonhando a história e assombrando a democracia. Depois que descobriu que pode se organizar pelas redes sociais passa horas compartilhando mensagens de ódio e desesperança com os infiltrados, que vêm perdendo privilégios e querem o apoio, e recruta o analfabeto para ir às ruas engrossar seu exército.

Aqueles que se infiltram, são os que estudaram ou têm seus filhos estudando em escolas particulares, para tomar o lugar do analfabeto e dos filhos do analfabeto nas universidades públicas. Eles sabem que, se o analfabeto se tornar um letrado, ele pode vir a competir e sentar ao seu lado na sala de aula, nos aeroportos, restaurantes.

No momento atual da política brasileira, com um governo encurralado por um congresso machista, reacionário e corrupto, sinto que o analfabeto político está em alta com os opressores e odiando os oprimidos, fazem coro dentro de uma sinfonia de vozes dominantes que só querem o eco, a reprodução, nunca a reflexão e a leitura.

Ricardo Mezavila é escritor

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