O escritor Umberto Eco, autor de “O nome da rosa”, entre outros livros de sucesso, disse em entrevista recente que “a Internet deu voz aos imbecis”. O escritor deu a entender que hoje em dia, qualquer pessoa, sem o menor comprometimento e interesse pela cultura e informação, pode opinar sobre qualquer assunto sem que, necessariamente, saiba sobre o que está comentando.
A consequência disso é a expressão on top of trends, importada do mundo corporativo e do fashion world, que serve de termômetro para a mídia explorar o bizarro e o inexpressivo dos fatos, fazendo com que se tornem pautas para os “articulistas” de ocasião, os ensaístas da futilidade, que postam comentários absurdos e às cegas.
Outro perigo é o revezamento entre o inimigo público número 1. Todo dia surge um diferente e, invariavelmente, é alguém que fez algum comentário na contramão do famigerado “top trend”. Se alguém critica o senso comum porque não comunga com sua posição, passa de herói a vilão em dois “posts”, tempo agora se mede pela velocidade de um comentário, daí cai na rede e vira inimigo até que surja outro.
Ainda na mão do autor de “A história da beleza”, parece que até a solidariedade foi banalizada. Não é difícil encontrar grupos se abraçando por causas estranhas e chorando por vidas desconhecidas. Isso soa muito piegas, excessivamente apelativo e sentimental, parece enredo de canção brega. Essa analogia colocaria qualquer famoso na condição de candidato a inimigo público número 1.
O escritor italiano ainda disse que “a Internet é perigosa para o ignorante e útil para o sábio porque ela não filtra o conhecimento e congestiona a memória do usuário”. Imagino como deve ser complicado para um intelectual de oitenta anos, que viveu produtivamente em um período de intensos debates consistentes, ter que corrigir erros publicados a seu respeito na Whikipédia.
Por isso, temos de ter cuidado com o que falamos, porque podemos estar infringindo alguma regra acéfala do grupo que controla o que você pensa, o que você faz e o que você diz. Na dúvida é melhor confundir, por isso quando passar pela guarita diga: amanhã vou lá hoje!
Ricardo Mezavila
Escritor