As mudanças nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para promover maior aproximação com a comunidade são novas tentativas de aperfeiçoar esse bom projeto, demonstrando o cuidado da corporação em contornar o impasse entre moradores e policiais. Mas isso não é o suficiente. O assunto é complexo e, para avançar, é necessário investir mais em inteligência.
Segurar a expansão das UPPs e priorizar os ajustes do que foi feito até agora é considerado pela maioria dos especialistas coerente, no entanto é preciso muito mais, como maior investimento para os agentes públicos em capacitação e equipamentos. E para os moradores, outros projetos sociais, o que já foi abordado exaustivamente.
E mais. É fundamental fomentar o serviço de inteligência para identificar os criminosos que ainda se encontram em pelo menos 50% das comunidades pacificadas. O trabalho em conjunto das polícias militar e civil pode ser mais objetivo por suas peculiaridades. A PM, embora atenda políticas de policiamento ostensivo, tem como premissa a manutenção da ordem. Ela não foi criada e nem treinada para retomar territórios.
A política de proximidade está confusa na visão do povo, pois a mesma polícia que confronta é a que almeja interagir com moradores. E estes sofrem toda a consequência da violência, vivendo no fogo cruzado e sob a pressão de verdadeiros narcoguerrilheiros – criminosos que, diferentes dos bandidos que cometem assaltos e outros crimes, agem como membros de um cartel boliviano. Não adianta inserir recrutas por serem mentes novas nesse ambiente sem identificar os líderes do tráfico. Rapidamente, ou esses jovens PMs estarão acuados, partindo para a guerra por sobrevivência, ou mortos.
Não podemos ser hipócritas. A criminalidade acaba se aproveitando dessa vulnerabilidade das UPPs, a maioria, inclusive, em péssimas instalações, colocando a população contra a polícia. E, por outro lado, o serviço de inteligência não atua, resultando no confronto armado.
Tem que haver cooperação das polícias do país, incluindo a federal para rastrear as drogas e armas que entram no Brasil. Sem elas não haveriam facções criminosas. É utopia achar que eliminaremos um mal que assola o mundo inteiro. Mas, sem dúvida, há meios mais eficazes para lidar com o problema, amenizando a violência. Já passamos da hora de encontrarmos um novo rumo para a segurança pública no Brasil.
*advogado criminalista