Enquanto faço a barba

  • A crise hídrica já era prevista há décadas, mas tratar das causas iria prejudicar a economia dos estados. Todos apostaram em São Pedro e deixaram de prevenir uma “morte anunciada”, se é que podemos considerar que há um defunto para ser enterrado, ou se é só alguém se fingindo de morto.  Certo mesmo, é que têm muitos esqueletos nesse armário. Muitas contradições são detectadas nessa crise. Colocam a culpa na estiagem, no aquecimento global, na falta de racionamento e outros. Existe água subterrânea, como o aquífero Guarani, capaz de resolver o problema dessa previsível seca, mas o custo para sua utilização é alto e o estado não tem interesse em investir nisso. As indústrias teriam que diminuir o ritmo e, conseqüentemente, seus lucros. O racionamento de água será inevitável no país que detém a maior reserva de água doce do planeta. Pode?
  • É notória a importância das Organizações-Não-Governamentais nas parcerias que fazem com os governos na ampliação do trabalho social em lugares de menor favorecimento. Não existiriam em abundancia, se não fosse o governo omisso nessas questões. As Ongs são importantes, mas algumas são absurdamente privilegiadas em detrimento de outras. A instituição Viva Rio há poucos anos, era a menina dos olhos dos cofres públicos. Era verba para “abraçar” a Lagoa, o parque da Catacumba; para grafiteiros desenharem nas paredes da cidade e, talvez conseguisse verba, para uma eventual campanha por mais areia na praia do Leblon. Hoje o AfroReagge é a nova menina dos olhos dos cofres públicos, recebe verba para tudo, e sem licitação. Respeito o trabalho dessas instituições que são sérias, mas isso não justifica essa proteção, já que outras organizações também são e estão aí com a mesma finalidade. Pensava assim enquanto subia as ladeiras da Glória para retirar, na sede da entidade “âncora”, por conta de um projeto federal, meia-dúzia de bolas e uniformes referentes ao projeto de esportes, licitado, de uma tradicional, mas pequena ONG, onde eu atuava. Questionada sobre os R$ 9,5 Mi (segundo jornais do Rio) repassados pela prefeitura para o AfroReagge, a Secretaria Municipal de Cultura disse que a organização possui uma “metodologia específica”. Ah, tá!
  • Nada pode ser mais original no carnaval do que máscara de político corrupto. Chega a ser redundante, é como se fosse uma máscara sobrepondo outra. O ex-diretor da Petrobrás, o Cerveró, (esse nome chama a minha atenção porque sempre tenho a impressão de que li Cerveja), disse que vai processar quem fabricar uma máscara sua. Concordo com o desonesto cidadão, as crianças merecem mais respeito, não podem ficar expostas à visualização de rostos corruptos de homens bem nascidos e criados a pão de ló, formados nas melhores universidades e que desviam verba que poderiam estar na educação delas. E, por outro lado, seria um benefício às avessas carnavalizar esses escândalos que de folia e de Graçanão tem nada, talvez “Foster” melhor deixá-los com suas rugas originais à mostra. A beleza é vã!
  • Enquanto isso, na falta de água, as nuvens chovem balas perdidas. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, “levantou a bola” e disse que as balas perdidas não estão ligadas à falta de serviços, que isso ocorre em “áreas com investimentos”. O alcaide assumiu que não há controle sobre a violência na cidade e que existem áreas sem investimentos da prefeitura. O secretário de segurança, José Beltrame, “chutou para o gol” dizendo que as armas de fogo são inimigas do Rio. Inimigos são todos aqueles que, com a chancela da representatividade de um povo através do voto democrático, não correspondem ao que foi designado, e  minimizam suas responsabilidades em frases desbotadas. Onde estão os CIEPS?
  •  A operação Lava Jato tem que usar o método de lavagem a seco, eu sei que dói, mas em tempo de crise...Terminei de “fazer” a barba. Ou seria raspar?  Valeu, valeu; Vai lá, vai lá.

    
Ricardo Mezavila   
Escritor
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