Oscar Schmidt é, simplesmente, o melhor jogador do basquete mundial em todos os tempos, o recordista absoluto de pontuação (49.703 pontos), o jogador de bola-ao-cesto que mais participou de Olimpíadas (5) e o que nelas mais pontos marcou (1.093).
E mais: o atleta que lavou a alma de todos nós, brasileiros, nos Jogos Panamericanos de Indianápolis, EUA, em 1987.
Os estadunidenses se julgavam senhores absolutos do basquete e não levavam a sério o adversário da finalíssima: nós. Tanto que uma jogadora da equipe feminina, depois de sagrar-se campeã no jogo inicial, pendurou sua medalha no pescoço do namorado, integrante da seleção masculina. Sem maldade; é que a vitória era dada como favas contadas, a ponto de ela nem sequer perceber quão arrogante e anti-esportivo havia sido seu gesto.
No primeiro tempo, eles chegaram a colocar 20 pontos na nossa frente, mas foram para o intervalo com uma vantagem um pouco menor: 14.
Oscar voltou do vestiário com incrível disposição, empolgando os companheiros. E passou a ter um aproveitamento fantástico nos arremessos de fora do garrafão. Fez jus ao apelido de mão santa.
Os estadunidenses, até então, não davam muita importância à novidade de os arremates de longe terem passado a valer três pontos, ao invés de dois. Estavam acostumados a articular tão bem suas jogadas que acabavam quase sempre finalizando de perto -e convertendo. Para que arriscar de longe, com risco bem maior de errar?
A incrível derrota diante do Brasil, por 120 x 115, os fez reconsiderar este conceito. Por obra e graça do Oscar, o brasileiro que deu uma aula de basquete na terra dos Harlem Globetrotters.
Como extraordinário esportista e como homem exemplar, ele fez por merecer nosso irrestrito respeito e a nossa mais humilde gratidão.
Assim não pensaram, no entanto, alguns alunos de uma faculdade particular do Agreste de Pernambuco, que abriram o maior berreiro virtual por causa dos maus modos do jogador ao ministrar uma palestra. Como se seus egos chamuscados fossem tudo que importasse e uma trajetória grandiosa tivesse passado a significar nada.
Sentirão vergonha de sua pequenez, ao saberem agora o verdadeiro motivo do comportamento de Oscar? Duvido. A única imagem que importa para os mimadinhos da vida é aquela que eles veem no espelho.
Eis o outro lado da história, apresentado pelo jornalista esportivo Milton Neves:
"Sim, ele foi mal em Caruaru, decepcionando os pernambucanos.
Mas não foi de caso pensado.
Quem não sabe, graças a Deus, o que é ter um tumor maligno no cérebro, que atire tantas pedras neste bom homem, hoje atormentado e talvez condenado.
Meu saudoso avô materno, Luis Carlos Fernandes, ferroviário da Mogiana em Muzambinho-MG, morreu no Rio não resistindo a uma operação para retirada de tumor no cérebro.
Era um homem doce, mas se transformava com terríveis dores de cabeça.
Tanto que atirou um paralelepípedo em um galo do Sítio Invernada só porque o dono do terreiro cantou bem alto perto dele, um homem doente, com o fatal tumor na cabeça.
Calma com o Oscar, gente, o gigante nasceu no Rio Grande do Norte para ajudar o Brasil inteiro.
E como nos deu alegrias, hein?
Mas, hoje, ele não é mais dono de si ou de seus desatinos.
E nem de seu destino".
Obs.: o nome do ótimo conjunto de música instrumental da cidade é, claro, Banda de Pífanos de Caruaru. Mas, foram mesmo pífios os que se mostraram tão alheios e indiferentes à via crucis do Oscar.
Por Celso Lungaretti, no seu blogue