Quando João Goulart assumiu a presidência do Brasil, precisou de bons jornalistas. Meu Pai foi um... Era redator do Correio do Povo, em Porto Alegre. “Venha pro Rio, com sua família. Quero você na redação da Radio Nacional”. Papai trabalhou muito. Defendendo nossa gente e as reformas... Havia uma pancada de comunistas de carteirinha sob sua batuta. Cito sim...: Mário Lago, Paulo Gracindo, Dias Gomes, Vanda Lacerda... Nossa vida era maravilhosa. Morávamos num belo apartamento defronte a Praça do Lido, Copacabana. Vista pro mar... Onde fiz o “Jardim de Infância”. Década de 60. Lembro que o Pai chegou em casa e eu afirmei...: “Botaram fogo na praia”. E ele...: “Não. É a religiosidade dos cariocas”. Ano novo... Realmente a praia ficou em chamas, de noitinha...
E, quando veio o golpe militar de 64, ele foi uns dos primeiros a dançar. Foi demitido, preso e violentamente torturado. Colocaram seus bagos dentro de gaveta... Queriam saber de coisas que ele não sabia. O General Cordeiro de Farias – amigo de nossa família – conseguiu recuperá-lo moribundo. Conto mais depois. Contarei que ele foi premiado pela ABL... E que fugiu de casa, com medo de ser novamente preso.
E vamos ao título deste texto
Papai ficou sem grana. E teve que espalhar os filhos. Fui parar em Porto Triste. Eu morei de favor... Em casas de parentes. Morei em porão, Sótão... Lavanderia... E a verve da opinião formada vem na alma... Eu já carioca... Meus familiares me relegaram para uma merda de pensão, na Rua José do Patrocínio, Cidade Baixa - que hoje é um lugar maneiro, tipo o Baixo Leblon. E, na tal pensão, peguei sarna, chato... Oito caras dentro do quarto...
Já habitava em mim o vício da leitura. Um dia eu fiquei com fome. Não almocei. Com a grana do rango, preferi comprar fio, bocal, lâmpada... Enrolei a gambiarra no beliche... E lia muito. Fui multado pele dono da pensão. Pagou-me com luz acesa, depois das dez da noite. Paguei...
Mesa de cabeceira... Vejam que loucura o meu trauma... Veio uma diarista em minha casa... E afirmou... “Dez. São dez miudinhas...”. E eu...: “Estas falando de que???”. E ela...: “Das mesinhas pequenas, que limpei todas”.
Caramba. Tem estas mesinhas em minha casa. De cabeceira. Nem sei como elas entraram. Ou sei... Que trauma. Tem mais: Tenho luminárias para cada uma delas.
Tudo passa... Hoje cuido da biblioteca de minha família. Mais de dois mil exemplares. Muitos com dedicatórias. De bons escritores.
Hoje em dia vivo muito bem. Até escrevo neste “poderoso rotativo”. Sob o Manto do meu São Jorge Guerreiro da Lira, que nunca sai de meu peito!!!
- Luciano Moojen Chaves
- Colaboradores do Rebate