De acordo com texto do jornalista Leonardo Dupin no blog de Juca Kfouri, a concessionária Minas Arena terá o direito de operar o estádio do Mineirão em Belo Horizonte por 25 anos, após “seu” investimento de R$ 654,5 milhões, com cerca de R$ 400 milhões pegos no BNDES. O acordo assegura que, em caso de prejuízo no negócio, o governo do estado de Minas Gerais terá que repassar até R$ 3,7 milhões por mês para o consórcio. Em 2013, ano em que a empresa registrou prejuízo em todos os meses, o estado repassou R$ 44,4 milhões para garantir os lucros corporativos.
Geralmente o governo não é tão direto na sua tentativa de inviabilizar prejuízos corporativos. Ao que parece, desta vez o estado brasileiro não achou necessário esquemas mirabolantes e decidiu simplesmente repassar dinheiro diretamente para os ricos.
Os consórcios que controlam os outros estádios da Copa fizeram negócios parecidos, com “investimentos” feitos com dinheiro generosamente emprestado pelo BNDES, a maior ferramenta de transferência direta de renda dos pobres para os ricos do Brasil. A presidente Dilma Rousseff têm aparecido em público e na TV para assegurar aos brasileiros de que o total gasto em estádios foi de “apenas” R$ 8 bilhões, com R$ 25 bilhões de reais no total para a Copa, a maioria aplicada em “empréstimos”, que retornarão para os cofres públicos.
Faltou contabilizar os subsídios de empréstimos e contratos de concessão. Faltou contabilizar todas as expulsões e maquiagens públicas para não mostrar nossos pobres para os turistas. Faltou contabilizar o estado policial esportivo que foi estabelecido desde o anúncio da Copa do Mundo e das Olimpíadas no Brasil.
A menos de um mês da Copa do Mundo, poucas bandeiras do Brasil decoram as janelas, poucas pinturas com o mascote do Mundial tomam os muros, a escalação da seleção foi cercada de pouca antecipação ou surpresa e pouco se fala de positivo sobre o campeonato. Todos os símbolos que sempre marcaram no Brasil as Copas que ocorriam em outros países parecem efetivamente ausentes do evento que, segundo o governo, seria a “Copa das Copas” em solo nacional.
O que tem sobrado são protestos, críticas e resistência, que culminaram, no último dia 15, com o Dia Internacional de Luta Contra a Copa (15M). Protestos tomaram muitas das capitais do Brasil, acompanhados de greves de professores, de funcionários do transporte público e, em Pernambuco, até da polícia. Digna de nota também foi a participação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, que tem os maiores motivos para reclamar: a Copa é o ápice de um modelo de urbanização que expulsa os pobres dos centros urbanos e empurra o valor do trabalho ainda mais para baixo.
O governo, como sempre, tenta pintar a administração do PT como anos desenvolvimento ininterrupto, mas a lua de mel acabou. Não importa quem vencerá o torneio, o capitalismo corporativo já é campeão.
Nada ilustra melhor esse fato do que o processo de gentrificação do Maracanã, agora local frequentado exclusivamente pela elite, onde os torcedores devem assistir futebol sentado, tirar a camisa após o gol é proibido, foguetes são inseguros e bandeiras têm que estar de acordo com o livro de regras da FIFA. Se nem o futebol é mais como nós o jogávamos, só resta a dúvida do 15M: Copa para quem?
Erick Vasconcelos é jornalista e coordenador de mídias do Centro por uma Sociedade Sem Estado (c4ss.org)