"A partir do momento em que há vândalos no meio disso, mascarados... A segurança pública tem de conter esses vândalos. Parece que as pessoas acordaram [para os problemas do país], mas acordou todo mundo junto. Ninguém sabe como fazer ou por onde ir. A população tem de protestar sem violência. Nos vândalos, mascarados, tem de baixar o cacete mesmo."
A frase é do ex-jogador Ronaldo Fenômeno, em fase de cabeça de bagre.
Já chutara uma bola para fora do estádio ao se dizer envergonhado com a forma como o Brasil se preparou para sediar o Mundial da Fifa... numa montagem de cenário para romper espetacularmente com a presidenta Dilma Rousseff e anunciar apoio ao seu adversário Aécio Neves. Aí o jornalista Juca Kfouri antecipou que era esta a jogada e Ronaldo ficou com cara de bobo.
Ninguém precisa de pretextos menores para justificar intenção de voto. Deveria escolher candidato levando em conta o que importa: os benefícios e malefícios que cada candidatura trará para o sofrido povo brasileiro.
A nova declaração, além de imbecil (Paulo Coelho acertou na mosca...), foi fascistoide e repulsiva. Equivaleu a um chute tão errado que foi não só para longe do estádio. Foi para fora do Estado. Deve estar chegando em Minas Gerais...
Quando se começa a falar em agredir pessoas ao arrepio da lei, não se pára mais. Lembro-me do meu inconsolável pai em 1998, recomendando o mesmo tratamento para pipoqueiros que, com um ataque de tremedeira, fizessem o Brasil perder uma decisão de Copa do Mundo.
Hoje se sabe que o alvo de seu desabafo não sofreu a suposta crise de paúra; foi, isto sim, vítima de uma injeção mal aplicada, tendo entrado mesmo em convulsão.
O que não poderemos jamais desculpar é sua atitude de, voltando meio sonado do atendimento médico, ter insistido em entrar em campo sem as mínimas condições para disputar uma partida daquela importância, obcecado que estava em encher-se de glória.
Como o elenco se dividiu entre a turma do Dunga (que, corretamente, defendia a decisão inicial do técnico Zagallo, de escalar Edmundo) e a patota do Bebeto (que sempre adotava posição contrária à do Dunga), a Seleção começou o jogo com os atletas ruminando rancores e uns não olhando a cara dos outros. Deu no que deu.
Neste sentido, de haver sido o pomo da discórdia que derrotou psicologicamente o escrete antes mesmo de Zidaine fazer o primeiro gol da França, Ronaldo foi, sim, o principal culpado pela goleada humilhante que o Brasil sofreu, um vexame inédito para nós numa final de Copa do Mundo.
Mesmo assim, eu nunca defendi que lhe baixassem o cacete. O coitado do papai estava tão errado então quanto o Ronaldo está agora.