Para ler a sinopse clique sobre o link abaixo:
www.sidneyrezende.com/noticia/229828
O mundo do samba é um meio comunitário de excelência em Artes, Cultura e Dignidade. Isto, apesar de historicamente ser vítima da infiltração, dominação e opressão de “patronos”. Ou seja, de falsos sambistas oriundos da contravenção penal do jogo do bicho e outras práticas criminosas como o tráfico e as máfias do bingo e das máquinas de caça-níqueis.
Em outras palavras, na História, o papel dos poetas, atletas esportivos e artistas neles inclusos sambistas é com a mencionada excelência, conforme ensinou o mais brilhante dos revolucionários marxistas, Leon Trotsky (1879-1940) no livro Literatura & Revolução. Por isto é compreensível que em um país como o Brasil, mesmo sendo constituído por uma maioria (68,53%) de pessoas com cor da pele preta ou de negros/negras ou ainda de afrodescendentes, segundo registrou a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) do IBGE em 1976, que ocorra o seguinte.
Mesmo entre militantes negros/negras que se assumem marxistas, os mais miscigenados inconscientemente acabam não se dispondo a praticar a luta antirracista conforme ensinou Trotsky no livro Nacionalismo Negro: “A luta dos negros em África e diáspora contra o colonialismo (imperialismo) e o racismo é específica, estratégica e indissociável da luta de classes. Isto ocorre como consequência da ideologia do embranquecimento que objetivou transformar o Brasil em um país “moreno” pregado a partir do livro Casa Grade & Senzala do polímato Gilberto Freyre (1900-1987).
Assim, em meio à natural miscigenação de seres humanos em uma sociedade antropologicamente heterogênea como a brasileira, ainda que de maioria negra, é preciso referenciar-se na excelência do mundo do samba para se considerar como ilustrativa a sinopse do enredo “Cubango, a realeza africana em Niterói” que será apresentado pela verde-branco da Cidade Sorriso no grupo de acesso/Série A espécie de 2ª divisão do Carnaval Carioca 2015, a escola de samba Acadêmicos do Cubango.
A sinopse foi redigida pelo artista-profissional-sambista que desenvolverá o enredo, o carnavalesco Jaime Cezário. Do ponto-de-vista histórico, antropológico e sociológico, a sinopse é um avanço, mesmo tendo omissões, imprecisões e equívocos. Num dos trechos, embora seja afrodescendente ou negro bastante miscigenado, o carnavalesco diz que o Brasil tem uma nação “mestiça” (sic), mistura de muitos povos, mas de inegável contribuição, na qual os negros e as negras se fizeram reis e rainhas na cultura, no esporte e na política.
Ele diz ainda que o enredo se inspira naqueles e naquelas que tanto batalham por um País melhor e mais digno, lutando por direitos e respeito. Lutas que permanecem vivas e necessárias, mas que no Carnaval 2015, no quilombo do samba que é o sambódromo ou a Passarela da Avenida Marquês de Sapucaí o que se pretende é exaltar a África como Grande Mãe.
Já na justificativa, o carnavalesco Jaime Cezário alerta que quando se refere a preconceito e a racismo, não quer mostrar isso no enredo, mas banir tais “sentimentos” (sic) da sociedade atual através da exaltação às raízes africanas do povo brasileiro. Ou seja, dos heróis negros, da origem quilombola e da festa que a Mãe África sempre merece.
Ao considerar preconceito (étnico-racial) e racismo como sentimentos o carnavalesco está equivocado. Racismo é uma ideologia de dominação cuja opressão de uma classe social e ou povo sobre outro se baseia na diferenciação étnico-racial como cor da pele e outros traços característicos da classe social ou povo oprimido. Preconceito étnico-racial é a deturpação de valores provenientes do racismo. Discriminação étnica-racial é o fato social comum em uma sociedade racista.
Conforme ensinou Trotsky no livro Literatura e Revolução que o papel dos poetas, atletas esportivos e artistas como os sambistas não é com a consciência de classe social, antirracista e ou com o politicamente correto, mas sim com a excelência em suas obras, é compreensível a exaltação às raízes africanas do povo brasileiro proposta pelo carnavalesco da escola de samba Acadêmicos do Cubango, Jaime Cezário, no enredo “Cubango, a realeza africana de Niterói”. Que, não deve ter o significado de exaltação ao racialismo, isto é, à crença ou à ideologia fundamentalista da existência de “raças” humanas.
*jornalista – no Grupo Especial do Carnaval Carioca é torcedor da Portela e na Série A simpatizante da Cubango.