A grande mídia já fez sua escolha, apoia a dupla Aécio-Eduardo Campos, que se incumbe de lhe fornecer substancial material crítico para diariamente desgastar a popularidade da presidenta Dilma Rousseff. Os dois só falam em mudança, mas nada apresentam de concreto sobre seus projetos. Essa afinidade de propósito, bater sempre, poderá tomar rumo diferente se as pesquisas mostrarem, mais na frente, expressiva vantagem para a presidente com chance de vitória logo de cara. Aí, a luta será por um segundo turno e a disputa pela segunda colocação. Certamente ambos irão se estranhar.
E Lula, com a garganta já coçando, mas resignado, assiste a tudo em silêncio como um monge contemplativo na clausura. Seu arsenal todos conhecem. Não tem nada de parnasiano ou lírico, mas sua comunicação sarcástica, em forma de parábolas, o eleitorado entende e gosta de ouvir. Suas sutilezas no confronto com os adversários penetram como faca de dois gumes, penetram até à medula. E parece que a arrogante oposição, tripudiando sobre Dilma, está criando motivos para tê-lo de novo no cenário eleitoral. Daria a essa eleição um brilho mais interessante, ainda mais se nossa seleção ganhar a Copa.
Falam em inflação alta e que o governo está parado, a indústria em retração, o PIB sem perspectivas de melhora, o desemprego subindo, a violência em crescimento, a matriz energética à beira de um colapso, e já veem Dilma e sua turma do PMDB descendo a rampa do Planalto, por aí vai. E Eduardo Campos chega a criticar a quantidade de Ministérios, esquecendo-se dos 12% de Fernando Henrique em final de seus oito ansos de governo, bem como dos 25% da taxa Selic.
Há quatro anos e sete meses, o chamado czar da economia, ex-ministro Delfim Netto, chegou a dizer, parta horror dos analistas que O Globo sempre ouve, sem citar seus nomes, que - "O Lula mudou o país de forma a salvar o capitalismo". E, ao ser perguntado qual o mérito de Lula nessa recuperação, disse Delfim: - "O Lula foi o primeiro economista a dizer que, se todos procurassem por liquidez, morreríamos por excesso de liquidez. Os economistas mais sofisticados ironizaram sisso. O que ele queria dizer era que o pânico não era parte da solução, mas o problema. O governo petista foi o único agente a dizer q1ue mundo não iria acabaria". E mais, que "não há desenvolvimento sem estímulo de um Estado indutor", coisa que a presidenta vem fazendo através do BNDES, a contragosto da oposição.
A estratégia da oposição, com apoio da mídia, é explorar denúncias de repercussão nacional e logo após contratar uma pesquisa para ver o efeito na popularidade da presidenta, que nada pode fazer para evitar o desgaste, a não ser esperar o momento do embate televisivo. Lula vai subir no palanque, mas para ajudar, mais uma vez, seu "poste" brilhar. É um desafio que o metalúrgico das passeatas vai gostar de enfrentar.
- Armando Barreto
- Colaboradores do Rebate