Certa vez, o teatro Oficina abriu suas portas para a plenária de um candidato à reeleição e, como ele me convidara e não havia nenhum orador inscrito para dizer algumas palavras sobre o papel desempenhado pelo dito cujo durante a ditadura militar, julguei que fosse isto que ele esperava de mim.
Houve, no entanto, uma manobra de bastidores para que a sessão fosse encerrada antes da minha fala. Contra a qual insurgiu-se o grande Zé Celso Martinez Correa. Ele fez questão de que meu discurso fosse ouvido no teatro que, afinal, a ele pertencia.
Quando saíamos, explicou-me que certos patrulheiros do autoritarismo mais tacanho haviam tentado me calar e aconselhou: "Jamais deixe cassarem sua palavra, em circunstância nenhuma!".
Desde então, já lá se vão quase oito anos, tenho seguido sua recomendação.
Em todos os sentidos: quando a grande imprensa publica artigos que eu teria o direito de rebater, reivindico sempre o espaço, embora esteja careca de saber que não será concedido.
Quero deixar bem caracterizado o absoluto desprezo dos barões da mídia pelas boas práticas jornalísticas.
Assim, quando o outrora e nunca mais carbonário Alfredo Sirkis obteve (vide aqui) enorme espaço na Ilustrada para defender a falácia de que ditadores, em plena ditadura, tenham o direito de anistiarem a si próprios e a seus esbirros, enviei esta mensagem à ombudsman Suzana Singer:
Prezada,
como ex-resistente e personagem histórico com as mesmíssimas credenciais do Alfredo Sirkis, inclusive veterano do mesmo agrupamento revolucionário, solicito à Folha que me conceda espaço para, na Ilustrada do próximo domingo, com espaço e destaque equivalentes, contestar a visão por ele apresentada sobre a revisão ou não da Lei da Anistia.
Vale ressaltar que, desde 2008 (vide aqui), eu sustento posição contrária, tendo-a difundido em mais de uma dezena de artigos que escrevi ao longo destes quase seis anos. Os últimos deles, na semana que passou: este e este.
Espero que a decisão da Folha seja, desta vez, baseada nas boas práticas jornalísticas, não na antipatia que, há décadas, demonstra ter por mim...
Quando era carbonário, ele rugia. Hoje mia... |
A resposta foi uma repetição da desconversa que sucessivos ombudsmans já me enviaram pelo menos uma dúzia de vezes:
Prezado Celso
a coordenadora de artigos de Tendências/Debates diz que acabou de encerrar uma série grande artigos sobre 1964 e deve dar um tempo antes de voltar ao assunto.
Sua sugestão ficou com ela.
Atenciosamente...
Deixo aqui este registro.
E sugiro a meus leitores uma pesquisa histórica, sobre o macartismo e suas listas negras. Houve um tempo, na década de 1950, em que certas pessoas não podiam ser empregadas nem citadas na imprensa estadunidense.
Qualquer semelhança com o Brasil atual não é mera coincidência.