O franzino Randolfe jamais seria um Davi à altura... |
O deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) foi de covardia extrema ao agredir com um soco na barriga o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), visivelmente sem porte físico para encará-lo de igual para igual. Bater em homens mais fracos, mulheres, crianças ou idosos é animalesco. É indigno. É desonroso. É repulsivo. Ponto final.
Um grande amigo espanhol me contou que, ao chegar no Brasil em meados do século passado, ficou estarrecido com as brigas de rua em que vários espancavam um só.
Na sua terra ficariam malvistos se agissem assim. Fossem quantos fossem, iam um de cada vez confrontar o desafeto. Os demais assistiam sem interferir.
Mas, tais posturas altaneiras são características de homens de verdade. Não dos Bolsonaros da vida.
...deste bestial Golias. |
Só não sei o que integrantes da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, parlamentares e representantes do Ministério Público foram fazer no 1º Batalhão de Polícia do Exército, em que funcionava o DOI-Codi/RJ. Foi quando Bolsonaro, que não fazia parte do grupo, tentou impor sua presença na base da porrada.
A alegada verificação in loco da viabilidade da montagem de uma espécie de museu da ditadura no local não convence.
Isto faria sentido numa instalação desativada e com entrada independente, como o antigo Deops de São Paulo, transformado em Memorial da Resistência. Não no interior do que continua sendo um quartel e precisa manter normas elementares de segurança.
O trabalho das comissões da verdade está definido no próprio nome: resgatar e disponibilizar a verdade. Fazer provocações pueris está fora do seu foco.
É inaceitável que continuem sendo engolidas as explicações evasivas e desculpas esfarrapadas dos militares com relação, p. ex., aos guerrilheiros do Araguaia que eles executaram a sangue-frio e em cujos restos mortais deram sumiço. Aí sim seria necessária mais firmeza, principalmente por parte da Comissão Nacional da Verdade --que tem reais poderes para comprar tal briga, deles fazendo uso pífio.
Mas, que contribuição real traz às investigações uma visita à ala nos fundos do quartel da Tijuca que abrigava o Pelotão de Investigações Criminais (cujo papel rotineiro era apurar, também com muita violência, as transgressões e delitos cometidos por integrantes do Exército) e foi durante alguns anos utilizada no encarceramento e torturas de presos políticos? Há algo relevante a ser buscado ali, quatro décadas depois? Evidentemente, não.
Foi onde sofri as mais pesadas torturas e quase enfartei com a idade de 19 anos. Mas, nem de longe o ocorrido nesta 2ª feira (23) me serve como desagravo. Continuo, isto sim, esperando que as comissões acrescentem algo de novo ao que já sei sobre o martírio de companheiros queridos.
E que as famílias de alguns deles recebam, afinal, ossadas para sepultarem.
* jornalista, escritor e ex-preso politico. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com