É com imensa emoção que vejo as pedras recomeçando a rolar.
Muitos não perceberam, mas, em tudo e por tudo, o momento atual lembra 1968.
Foi o ano que praticamente definiu minha vida: ao longo dele, passei de jovem indignado a revolucionário convicto, que jamais deixaria de ser.
Depois da luta armada, do calvário nos cárceres da ditadura, das comunidades alternativas em que tentamos por uns tempos perpetuar o sonho já banido das ruas, só nos restou --a mim e aos melhores da minha geração-- reassumir a insossa luta pela sobrevivência e ficar à espera da nova primavera que, sabíamos, um dia viria. Pois os seres humanos não conseguem viver eternamente sem esperança, compaixão e solidariedade.
E, como costuma acontecer nos processos revolucionários, a retomada começa no ponto mais alto atingido pela última maré revolucionária, mesmo havendo entre ambas um hiato de 45 anos.
Com a diferença que o mundo hoje está muito mais amadurecido para as grandes transformações, que tendem, inclusive, a representar a diferença entre a sobrevivência e a extinção da humanidade; cada vez mais se evidencia que, só unidos e priorizando o bem comum conseguiremos nos safar da grave crise econômica e das gravíssimas consequências dos desequilíbrios ecológicos, que desabarão sobre nós nas próximas décadas.
A juventude está despertando na hora certa!
E nós, aqueles que nunca dissemos que a canção estava perdida, sobrevivemos fisica e moralmente para, ao lado dela, tentarmos outra vez.
* jornalista, escritor e ex-preso político, é veterano do movimento estudantil de 1968 e da resistência armada à ditadura militar. htpp://naufrago-da-utopia.blogspot.com