Foto: Mauricio Bazilio
Maioria desconhece que chances de cura do câncer aumentam com detecção precoce. Contra o temor, a Secretaria de Estado de Saúde investe em atendimento humanizado e locais aconchegantes para a realização do exame
Neste mês de conscientização do câncer de mama, o chamado Outubro Rosa, as mulheres devem superar um primeiro obstáculo na luta contra a doença: o medo. Estudos científicos revelam que a maioria das mulheres teme uma sentença de morte ao realizar os exames, quando, na verdade, a mamografia auxilia o diagnóstico precoce, aumentando as chances de sucesso do tratamento em 95%. O Ministério da Saúde divulgou recentemente aumento de 16% no número de exames de mamografia em todo país entre 2011 e 2012. O Rio de Janeiro é parte responsável por este resultado nacional. Entre 2011 e 2012, o crescimento no número de mamografias realizadas na rede estadual de saúde foi de 118%, totalizando 36.251 exames realizados este ano, até o momento.
Mas esse resultado do Rio de Janeiro vai além da maior oferta de mamógrafos. Atualmente, há seis em operação: quatro no Rio Imagem (no Centro da capital) e dois no Hospital da Mulher (em São João de Meriti). A grande diferença está na adoção de um protocolo de atendimento humanizado, em espaços criados para gerar conforto e segurança às mulheres para a realização de exames.
- No Rio Imagem, há um espaço exclusivo para as mulheres, separado dos demais. O ambiente foi pensado e criado para gerar essa sensação de acolhimento. Depois de recebidas na recepção, a sala em que a mulher aguarda para fazer o exame tem uma luz agradável, esculturas bonitas e uma parede cheia de frases e palavras de motivação e amor próprio. E acreditamos no boca a boca. Temos muitos casos de mulheres que ao se sentirem confortáveis aqui, incentivam as amigas a criar coragem e realizar o exame – revela Fabiani Gil, coordenadora de Humanização da Secretaria de Estado de Saúde, e responsável pela equipe que pensa todos os espaços das unidades estaduais.
E é possível comprovar isso com números, o crescimento no número de mulheres entre 50 e 69 anos que realiza exame de mamografia. A expectativa do Ministério da Saúde é que mulheres nesta faixa etária devem representar, até 2014, 47,5% dos 8 milhões de mamografias previstas em todo o país. No Rio Imagem, hoje elas já representam 56%. Muitas delas, realizando o exame pela primeira vez.
A aposentada Nicéia Ferreira, de 62 anos, fez esse ano o exame pela primeira vez.
- Nunca tinha me interessado por fazer o exame, mas hoje sei que prevenir é o melhor remédio e que é importante ter isso como rotina. Vou sair daqui já falando pra minhas irmãs virem fazer também. A gente tem que se cuidar – conta, animada.
O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, por conta da sua alta frequência e pelos seus efeitos psicológicos, que afetam a percepção da sexualidade e da própria imagem pessoal. Este tipo de câncer é menos comum antes dos 35 anos, mas a incidência cresce progressivamente a partir dessa idade. O Ministério da Saúde recomenda como principal estratégia de rastreamento populacional a realização de exame de mamografia a cada dois anos para mulheres de 40 a 49 anos, e uma vez ao ano para mulheres de 50 a 69 anos. São diagnosticados no Brasil 50 mil novos casos de câncer de mama por ano e 19 mil de colo de útero, sendo os tipos de câncer mais frequentes entre mulheres
- É comum as mulheres terem medo, mas não há razão pra isso. É melhor prevenir do que remediar. Quanto antes o diagnóstico for feito, melhor será o tratamento e com mais chances de ser um tratamento mais brando. Mas tem gente que tem medo do exame e não da doença. A mamografia dói, mas é uma dor suportável -, explica sem restrições a coordenadora do Serviço de Mamografia do Rio Imagem, Maria Luiza Marsillac.
Aos 63 anos, a aposentada Rosa Ângela sabe bem a importância da mamografia.
- Há 15 anos, tomando banho, descobri um nódulo com o exame do toque. Já tinha histórico na família, corri atrás e operei. Não era nada demais, mas se não corro atrás, como teria sido? Muita mulher tem medo até de fazer um preventivo. Isso não mata, quanto mais nos prevenirmos, melhor é -, dá a dica Rosa.
Estado faz mamografia e biópsia - Tanto o Hospital da Mulher quando o Rio Imagem realizam biopsia em casos suspeitos de câncer. Quando o resultado é positivo para a doença, as pacientes são atendidas por assistentes sociais, sendo orientadas a procurar o médico para dar início ao tratamento. Para detectar precocemente a doença, a SES ampliou a faixa etária recomendada para a realização de mamografias, incentivando o exame bienal acima dos 40 anos para pacientes com lesões não-palpáveis, 10 anos a menos da idade sugerida pelo Ministério da Saúde. Para mulheres com histórico familiar de câncer, a recomendação é que a mamografia seja feita anualmente a partir dos 35 anos.
Como e onde realizar os exames – Todos os exames na rede estadual de saúde devem ser agendados pelo município de origem do paciente, a partir de pedido de médico do Sistema Único de Saúde (SUS).
O Rio Imagem fica na Avenida Presidente Vargas 1.733, no Centro (em frente à Central do Brasil) e funciona de segunda a sexta, de 7h às 21h; sábados, das 8h às 17h e; domingo, das 8h às 13h.
O Hospital da Mulher fica na Av. Automóvel Club S/nº, Vilar dos Teles, em João do Meriti.
Hospital da Mulher produz estudo científico sobre mamografias - Médicos Mastologistas e radiologistas do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart apresentaram trabalho sobre exame de core biópsia de mama Congresso Internacional de Mastologia, realizado em Salvador. Pensando na prevenção e no diagnóstico precoce de uma das doenças que mais matam mulheres no Brasil, foi realizado um estudo descritivo. Durante um ano, 2 mil core biópsias foram realizados no Hospital da Mulher, sendo diagnosticados 800 casos de câncer de mama. As pacientes foram encaminhadas para realizarem tratamento adequado.
Durante o estudo, a médica radiologista Tânia Barbalho notou o aumento da demanda espontânea de pacientes para a realização da mamografia.
- Muitas pacientes chegam com resultados de exames realizados no ano passado porque querem prevenir a doença. Ainda há muito para mudar, mas só em perceber que as mulheres estão mais conscientes, fico satisfeita -, comemora Tânia.