Genética da população humana pode estar se deteriorando, sugerem estudos. Foto: Reprodução/New Yorker
Estudos que estabelecem uma ligação entre idade paterna avançada e o risco de filhos apresentarem novas mutações genéticas apontam para o declínio progressivo da saúde genética da população humana
Autismo é um assunto que provoca fortes reações. Não foi surpresa, portanto, quando um estudo recente na revista Nature, que esclareceu a relação bem estabelecida entre a idade paterna e o risco de uma criança desenvolver autismo ou esquizofrenia, tenha chamado muita atenção. O que foi surpreendente, entretanto, foi como essa notícia, que um dos autores do estudo descreveu como “uma informação secundária e paralela”, obscureceu as implicações dos principais achados do estudo, isto é, que a saúde genética da espécie humana enfrenta agora uma séria ameaça.
O estudo, realizado por Kari Stefansson e sua equipe da Decode Genetics, na Islândia, usou o sequenciamento genético para mostrar que cerca de 97% da diferença na taxa de novas mutações — aquelas que nenhum dos dois pais possuía — pode ser atribuída à idade do pai. Estas novas mutações surgem durante a produção de óvulos ou esperma. Como as mulheres nascem com um suprimento vitalício de óvulos já em seus ovários, o número de novas mutações que a mãe transmite a seu filho é de aproximadamente 15, independentemente de quantos anos ela tem. As células produtoras de espermatozoides, por outro lado, estão constantemente se dividindo, e, como resultado, o número de mutações espontâneas nos espermas aumenta ao longo do tempo.
Por razões sociológicas e ambientais, os homens estão vivendo mais e esperando para ter filhos quando atingem uma idade mais avançada. Isso, combinado ao fato de que estamos vivendo em uma era de diminuição da pressão da seleção natural, significa que Stefansson e seus colegas podem ter identificado o fator mais importante no desenvolvimento contínuo do genoma humano: novas mutações causadas por espermas mais velhos. As mutações podem ser benéficas, mas elas são muito mais propensas a ser prejudiciais, o que significa que as mudanças serão extremamente negativas.
“Isso é realmente assustador”, afirmou Alexey Kondrashov, biólogo evolucionista da Universidade de Michigan. Em um comentário que acompanhou o estudo publicado na Nature, Kondrashov levantou o espectro de um inevitável “declínio da aptidão média da população”.
É provável que isso já esteja ocorrendo. Se você combinar os resultados de um estudo de 2009, que examinou a relação entre a idade paterna avançada e um declínio nos comportamentos sociais e exploratórios dos filhos, com os resultados do novo estudo, você obtém um cenário que é tão alarmante quanto plausível.
“O diagnóstico do autismo e esquizofrenia é uma coisa, mas [pais mais velhos podem ter] uma criança perfeitamente normal, no sentido de que pode não haver um diagnóstico específico, mas o seu QI é 108 em vez de 110”, explicou Kondrashov . “Isso significa que este é um problema que pode levar a consequências muito graves para a sociedade ao longo de várias gerações”. Nas últimas décadas, estas alterações foram mascaradas por melhorias no meio-ambiente, menos infecções, menos desnutrição etc, mas agora”, Kondrashov afirmou, “suspeito fortemente que a genética da nossa população está se deteriorando”.
* Publicado originalmente no jornal The New Yorker e retirado do site Opinião e Notícia.
(Opinião e Notícia)