Novo estudo sugere tratamento mais agressivo para anorexia. Foto: Reprodução/Internet
Novos estudos sugerem que pacientes internados poderiam ser alimentados de forma mais agressiva.
Para casos de anorexia, o remédio parece óbvio: comida. Quando um paciente desnutrido dá entrada ao hospital, ganho de peso é uma prioridade, mas a introdução de alimentos na dieta é uma árdua parte do tratamento. Em geral, os médicos inicialmente fornecem menos calorias do que o necessário porque os pacientes estão frágeis. Mas, novos estudos questionam essa teoria e sugerem que os doentes poderiam ser alimentados de forma mais agressiva.
Reportagem recente publicada pelo jornal norte-americano The New York Times revela que pesquisadores da Universidade da Califórnia examinaram o ganho de peso de adolescentes internados.
O estudo, que envolveu 35 jovens, descobriu que 83% dos que começaram a se alimentar lentamente, ingerindo 1.200 calorias diárias, com aumentos de 200 calorias a cada dois dias, perderam peso num primeiro momento. A perda após a internação é comum, mas na maioria dos casos é atribuída à perda de líquido.
A pesquisa detectou ainda que os jovens não recuperaram as calorias perdidas antes da internação até o sexto dia no hospital. Apesar dos dados obtidos, os pesquisadores pediram que os médicos tenham cautela e não façam qualquer mudança radical no tratamento. Os cientistas ressaltaram que mais pesquisas são necessárias.
Para o nutrólogo e coordenador do Núcleo de Estudos em Gestão da Saúde da ESPM, Daniel Magnoni, a alimentação de pacientes internados tem que ser hipercalórica e hiperproteica, porém balanceada e fracionada ao máximo. Segundo ele, o doente deve fazer pequenas refeições várias vezes ao dia, incluindo café da manhã, lanche, almoço, lanche, jantar e ceia.
“Você não pode fazer com que uma pessoa que ingeria 500 calorias passe a se alimentar de três mil. Ela poderá ter problemas cardiovasculares e metabólicos”, diz ele, ressaltando que para um paciente sair do quadro agudo grave leva de uma a duas semanas, mas somente após um ano poderá recuperar o quadro muscular.
A nutricionista Gabriela Soares Maia, da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro, também é contrária à alimentação agressiva como forma de tratamento. “Uma conduta como esta pode levar à síndrome de realimentação, que ocorre quando a pessoa é privada de comida e volta rapidamente a comer. Isto desencadeia um consumo intracelular intenso de eletrólitos e minerais, principalmente potássio, magnésio e fósforo resultando na queda brusca dos níveis desses nutrientes no organismo. A síndrome pode provocar insuficiência respiratória, irritabilidade, fraquezas musculares, arritmias cardíacas e distúrbios gastrointestinais, como diarreia e constipação”, diz ela.
Gabriela ressalta que a introdução do alimento de forma agressiva pode até provocar o ganho de peso, mas não vai proporcionar o aprendizado e a aproximação do paciente com o alimento, que são fatores importantes para o prosseguimento da recuperação.
“A introdução desse alimento e a formação de uma rotina alimentar é um processo complexo para o paciente anoréxico, por isto não concordo com uma ingestão agressiva a qualquer custo, que pode até piorar a rejeição à comida.”
A especialista explica que alguns suplementos em pó misturados a sucos ou vitaminas podem ser usados para que a bebida, aparentemente leve, esteja com uma densidade calórica um pouco aumentada.
O tratamento de anorexia, na maioria dos casos, é feito em ambulatórios, com atividades e palestras ligadas a temas como alimentação saudável. A escolha pela internação, em geral, é feita pela perda progressiva de peso, principalmente de músculo, em um curto período de tempo.
“A internação é sempre a última alternativa porque traz mais angústias tanto para o paciente quanto para a família. Mas ela é indicada em situações extremas, como desnutrição, desidratação grave, alterações dos sinais vitais e infecções recorrentes. E até mesmo em casos de reações mais agressivas e extremas que poderiam levar à tentativa de suicídio”, afirma Gabriela.
Já Magnoni ressalta que, para pacientes internados, a ingestão dos nutrientes pode ser feita via terapia nutricional oral, por uma sonda, ou em casos mais extremos, por veia. Mas, de acordo com o especialista, antes de se definir o tratamento é preciso identificar a causa da anorexia: se ela é psicogênica ou secundária a doenças orgânicas oriundas de tumores ou de depressão, por exemplo. “A causa vai definir as estratégias que serão adotadas. Mas, sempre é necessário apoio psicoterápico. Em alguns casos, o paciente tem dificuldade de engolir, e precisa até de apoio de fonoaudiólogos”, diz Magnoni.
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.
(Opinião e Notícia)