O agrobusiness, matador em série

“Produzir sempre mais, sempre mais barato, sempre com menos agricultores”: Aurélie Trouvé (1) resume assim a lógica da agricultura produtivista. Em seu último livro, a co-presidente da associação Attac, engenheira agrônoma, mostra com clareza como, sob a cobertura de uma modernidade tida como capaz de melhorar as condições de trabalho e a renda dos agricultores, as políticas em favor da agroindústria têm se revelado ao contrário destruidoras de empregos e representantes de uma ameaça à sua saúde. O meio ambiente não é poupado: a água, os solos e as paisagens têm sido fortemente degradados.

A influência de um grupo de multinacionais sobre os recursos agrícolas não cessa de crescer. Elas controlam as sementes, o negócio das matérias primas e a maior parte dos canais de produção. Os consumidores franceses sabem, por exemplo, que a maior parte do frango que eles consomem vem do Brasil, onde ele é alimentado com milho e soja geneticamente modificados? Conhecem a condição dos agricultores, ​já ​ que um dentre eles se suicida a cada dois dias na França, ou seja, uma taxa 50% mais alta do que nas outras profissões? O Tratado de Livre Comércio entre Estados Unidos e Europa, atualmente em negociação, levará a um nivelamento por baixo das regulamentações para favorecer a penetração das multinacionais em mercados cada vez maiores (2). Com este tratado, a seleção e a utilização de suas próprias sementes se tornará cada vez mais difícil para os agricultores, além de expô-los a pesadas multas. Serão cada vez mais dependentes de sementes patenteadas, notadamente as da Monsanto, há muito preparada para isto.

​Assim que este tipo de denúncia chega ao espaço público, as vozes que questionam a autorregulação concedida às multinacionais e que lhes permite escapar das regulações limitadoras, permanecem ainda grandemente minoritárias. E isto apesar dos múltiplos testemunhos de antigos dirigentes que põem em evidência a incapacidades dessas empresas de se reformarem, como aqueles reunidos por Michael Moss (3). A indústria agroalimentar sabe como excluir sem enfraquecer seus membros inclinados a políticas menos agressivas. Ela dedica milhões de dólares para descobrir a combinação ideal de gorduras, sal e açúcar necessária para seduzir o maior número de consumidores e para conquistar maiores parcelas do mercado – no meio empresarial estas são chamadas “parcelas do estômago!” Graças a essas matérias primas geradoras de grandes margens, ela desfruta de lucros superabundantes. Apesar das recomendações sanitárias mais elementares, esta indústria persiste em defender o encaminhamento ao mercado de produtos altamente modificados, conforme demonstra a obra multidisciplinar Sick Societies (Sociedades Doentes) (4). Os autores destacam a responsabilidade das multinacionais na degradação dos regimes simples e tradicionais, substituídos por esses alimentos que representam três quartos das vendas de nutrientes em nível mundial. Consequências: doenças cardiovasculares e respiratórias, certos tipos de câncer e diabetes tipo 2 causaram 35 milhões de mortes em 2010, das quais 80% consideradas prematuras, pois ocorreram em pessoas de menos de 70 anos. 80% dessas mortes prematuras ocorreram em países de baixa ou média renda. Este número deverá triplicar até 2030, mantidas as atuais tendências, visto que metade dessas mortes poderia ter sido evitada graças ao acesso a medicamentos essenciais, à redução do uso do tabaco e à redução do consumo de alimentos ricos em açúcar, gordura e sal. Após constatar o fracasso de vinte anos de pesquisa e de ações de saúde pública, os autores concluem que o problema não é técnico nem científico, mas político. Assim como os empresários, os pesquisadores e profissionais de saúde devem aprender a se organizar politicamente. 

Paul Scheffer

(1) Aurélie Trouvé, Le business est dans le pré. Les dérives de l’agro-industrie, Fayard, Paris, 2015, 220 páginas, 18 euros.

(2) Ler Lori Wallach, « Le traité transatlantique, un typhon qui menace les Européens », Le Monde diplomatique, novembro de 2013.

(3) Michael Moss, Sucre, sel et matières grasses. Comment les industriels nous rendent accros, Calmann-Lévy, Paris, 2014, 368 págins, 19,90 euros.

(4) David Stuckler et Karen Siegel (sob a dir. de), Sick Societie : Responding to the Global Challenge of Chronic Disease, Oxford University Press, 2011, 376 páginas, 39,99 libras esterlinas.  

Tradução: Argemiro Pertence


Le Monde Diplomatique – mai 2015

Santé

L’agrobusiness, tueur en série

par Paul Scheffer, mai 2015

« Produire toujours plus, toujours moins cher, avec toujours moins d’agriculteurs » : Aurélie Trouvé (1) résume ainsi la logique de l’agriculture productiviste. Dans son dernier livre, la coprésidente de l’association Attac, ingénieure agronome, montre avec clarté comment, sous couvert d’une modernité censée améliorer les conditions de travail et les revenus des agriculteurs, les politiques favorisant l’agro-industrie s’avèrent au contraire destructrices d’emplois et représentent une menace pour leur santé. L’environnement n’est pas épargné : l’eau, les sols et les paysages ont été fortement dégradés.

La mainmise d’une poignée de multinationales sur les ressources agricoles ne cesse de s’étendre. Elles contrôlent les semences, le négoce des matières premières et la plupart des filières de production. Les consommateurs français savent-ils, par exemple, que la majorité du poulet qu’ils consomment provient du Brésil, où il est nourri de maïs et de soja génétiquement modifiés ? Connaissent-ils la condition des agriculteurs, alors que l’un d’entre eux se suicide tous les deux jours en France, soit un taux de 50 % plus élevé que dans les autres professions ? Le traité de libre-échange entre les Etats-Unis et l’Europe, actuellement en négociation, conduirait à une harmonisation vers le bas des réglementations et favoriserait la pénétration des multinationales sur des marchés toujours plus vastes (2). Avec ce traité, la sélection et l’utilisation de leurs propres semences deviendraient pour les agriculteurs de plus en plus difficiles et les exposeraient à de lourdes amendes. Ils seraient alors toujours plus dépendants des semences brevetées, notamment celles de Monsanto, qui œuvre depuis longtemps à cette fin.

Lorsque ce genre de dénonciation parvient à retentir dans l’espace public, les voix remettant en question l’autorégulation accordée aux multinationales, qui leur permet d’échapper à des réglementations contraignantes, restent encore largement minoritaires. Et ce, malgré les nombreux témoignages d’anciens dirigeants mettant en évidence l’incapacité de ces entreprises à se réformer, comme ceux collectés par le journaliste Michael Moss (3). L’industrie agroalimentaire sait exclure sans faiblir ses membres enclins à des politiques moins agressives. Elle consacre des millions de dollars à trouver la combinaison idéale en graisses, sel et sucre apte à séduire le plus grand nombre de consommateurs et à conquérir davantage de parts de marché — dans le milieu, on parle de « parts d’estomac » ! Grâce à ces matières premières productrices de fortes marges, elle réalise des profits surabondants.

Au mépris des recommandations sanitaires les plus élémentaires, cette industrie persiste à défendre la mise sur le marché de produits hautement transformés, comme le montre l’ouvrage pluridisciplinaireSick Societies (4). Les auteurs soulignent la responsabilité des multinationales dans la dégradation des régimes simples et traditionnels, remplacés par ces aliments qui représentent les trois quarts des ventes de nourriture au niveau mondial. Conséquences : les maladies cardio-vasculaires et respiratoires, certains types de cancer et le diabète de type 2 ont causé trente-cinq millions de décès dans le monde en 2010, dont 80 % dits prématurés, car touchant des personnes de moins de 70 ans. Les quatre cinquièmes de ces décès prématurés concernent les pays à bas ou moyens revenus. Ce chiffre aura triplé en 2030 si les tendances actuelles se confirment, alors que la moitié de ces morts pourraient être évitées grâce à l’accès à des médicaments essentiels et à une réduction du tabac, mais aussi à la diminution de la consommation d’aliments riches en sucre, graisses et sel. Après avoir constaté l’échec de vingt ans de recherche et d’actions en santé publique, les auteurs concluent que le problème n’est pas technique ni scientifique, mais bien politique. Tout comme les industriels, les chercheurs et professionnels de santé doivent apprendre à s’organiser politiquement.

Paul Scheffer

(1) Aurélie Trouvé, Le business est dans le pré. Les dérives de l’agro-industrie, Fayard, Paris, 2015, 220 pages, 18 euros.

(2) Lire Lori Wallach, « Le traité transatlantique, un typhon qui menace les Européens », Le Monde diplomatique, novembre 2013.

(3) Michael Moss, Sucre, sel et matières grasses. Comment les industriels nous rendent accros, Calmann-Lévy, Paris, 2014, 368 pages, 19,90 euros.

(4) David Stuckler et Karen Siegel (sous la dir. de), Sick Societies : Responding to the Global Challenge of Chronic Disease, Oxford University Press, 2011, 376 pages, 39,99 livres sterling.

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