José Carlos Saldanha, doente com hepatite C há 19 anos, ofereceu-se para pagar metade do tratamento. "Escrevi uma carta [ao ministro] a dizer que pagava metade do tratamento e nunca me respondeu".
David Gomes, o filho de Maria Manuela Ramalho Ferreira, que morreu de hepatite C à espera de medicação, esteve hoje na Comissão Parlamentar de Saúde para entregar um documento ao ministro onde ele, familiares e doentes de hepatite C pedem que se terminem com as mortes. "Vamos avançar para tribunal. A minha mãe não morreu, mataram-na. Há uma cura desde janeiro de 2014 e em três meses podia ter ficado curada, alguém tem de ser responsabilizado", disse David Gomes ao DN. David refere mesmo que o pedido de acesso ao Sofosbuvir nunca saiu do hospital e que a mãe contraiu a doença há 20 anos, em intervenções médicas necessárias devido a complicações a seguir ao nascimento do filho.
Ao seu lado está José Carlos Saldanha, doente com hepatite C há 19 anos. Desde o dia 8 de dezembro que espera a resposta do Infarmed ao pedido de autorização para receber o tratamento. "Estou no corredor da morte à beira de um carcinoma. Tenho uma filha de 12 anos e não quero morrer. Já propus ao ministro pagar metade do meu tratamento e nunca tive resposta. Este genocídio vai ter de acabar. Temos direito à vida e ao tratamento. A doença ganhou voz. Basta de mentiras", disse.
À porta da Assembleia da República decorreu uma manifestação da Plataforma C, que junta familiares e doentes com hepatite C. No final da Comissão Parlamentar de Saúde, entregaram ao ministro Paulo Macedo um manifesto onde pedem tratamento, exigindo como meta para 2015 que sejam tratadas as 5000 pessoas mais doentes e com maior risco de progressão da doença. Solicitam ainda ao ministro que reveja "imediatamente as condições da Autorização de Utilização a Título Excecional", de modo a que o acesso ao tratamento seja efetivo e célere.
O responsável com a tutela da Saúde disse, durante a audição, que o seu Ministério continua a negociar com o laboratório farmacêutico que disponibiliza o Sofosbuvir - que garante taxas de cura superiores a 90% - e que pretende alargar o tratamento a milhares de doentes, mas não avançou com datas e criticou a pressão sobre o ministério. "Temos urgência e interesse em introduzir o tratamento deste ou outro laboratório que tenha o mesmo potencial. Temos tido um preço monopolista e o único argumento é a eficácia. É um critério que recusamos completamente e não aceitamos que nos imponham uma política de preço totalmente opaca, um preço sem qualquer racional. Negociamos hoje e na semana passada. Temos 630 doentes tratados com vários medicamentos, ensaios clínicos a que se somam os 100 tratamentos gratuitos. Relativamente aos doentes com indicação, estão todos a ser tratados. O que precisamos é de alargar critérios, estamos a negociar a forma como podemos chegar com o tratamento a milhares de pessoas em vez de algumas centenas e acreditamos que conseguiremos fazer isso a curto prazo", garantiu Paulo Macedo.