Notícias raras

Certas notícias chegam à imprensa raras vezes. Poucas pessoas sabem, por exemplo, que a Vale é a empresa brasileira que mais investe em países hispano-americanos, com 6,906 bilhões de dólares na exploração de potássio (Argentina), fosfato (Peru), carvão mineral (Colômbia) e cobre (Chile). A segunda é a EBX, com US$ 4,641 bilhões aplicados na construção de uma hidrelétrica (Chile) e na exploração de carvão mineral (Colômbia). Para esta empresa, os dois países em que atua são os que apresentam a maior segurança jurídica. Em seguida, vem a Votorantim, com US$ 1,011 bilhão. A Petrobras aparece na compra de ativos da Esso por US$ 400 milhões.
Acaso o leitor sabia que a Chevron, a mesma que provocou o acidente na bacia de Campos com o vazamento de petróleo, foi condenada, no Equador, a pagar indenização de US$ 18 bilhões por poluir floresta, em fevereiro de 2011, condenação da qual está recorrendo, como deve fazer também no Brasil? Sabe que a Petroperu e a Braskem pretendem implantar um complexo petroquímico em Las Malvinas, sul do Peru, que colocará empresas brasileiras à frente do maior empreendimento num país andino? O pólo será abastecido por um gasoduto construído pela Odebrecht. A Petrobras vai explorar gás natural para abastecer o complexo. O Grupo Brasil, que reúne 42 empresas, está interessadíssimo no negócio.
Parece que o Brasil aprendeu a ser imperialista. Soa antiquado, portanto, o PCdoB divulgar nota de pesar pelo falecimento do ditador da Coreia do Norte por sua luta em prol do nacionalismo e contra o imperialismo. Soa anacrônica a defesa de Aldo Rebelo, do mesmo partido, de um novo Código Florestal que repila o imperialismo norte-americano e afirme o nacionalismo brasileiro. Estranho que o companheiro Lula, quando presidente, tenha firmado acordo com o governo peruano para a construção de cinco hidrelétricas. Paradoxalmente, o PT no poder leva adiante os mega-empreendimentos que o regime militar projetou mas não conseguiu implementar. De certa forma, os governos mais “revolucionários” da América do Sul perseguem também o modelo de “desenvolvimento” que está na mira dos novos movimentos sociais, bem mais avançados que os políticos tradicionais abancados nos poderes executivo, legislativo e judiciário.
Graças a uma resistência tenaz de comunidades populares, Evo Morales, presidente da Bolívia, suspendeu a construção de uma estrada que cortaria uma reserva indígena. Ela seria construída pela brasileira OAS, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Graças a uma greve geral denunciando a poluição de fontes de água pela extração de ouro na região de Conga, Peru, o presidente Ollanta Humala decretou estado de emergência. Graças à formação de uma frente global de atingidos por atividades da Vale, na Argentina, a empresa fez um acordo para contratar 75% dos funcionários onde explora potássio.
Segundo o Observatório Latino-Americano de Conflitos Ambientais, há 122 focos de protesto na América do Sul apenas no setor de mineração: 26 no Peru, 25 no Chile, 24 na Argentina e 21 no Brasil. O Peru tornou-se o centro de um novo movimento socioambientalista contra obras de infraestrutura e exploração de recursos naturais não-renováveis. Esse movimento está ganhando corpo em toda a América do Sul. Dentro dele, começa a se organizar um grupo que propõe mudança radical no modelo de exportação, com o projeto de uma economia ecologista de baixo impacto ambiental.
O projeto de uma civilização ecologista, trazendo em si a proposta de um novo desenvolvimento baseado em recursos naturais renováveis voltado para o atendimento das necessidades essenciais da população e para correção das distorções sociais foi formulado na década de 1970. Na década seguinte, capitalismo e socialismo incorporaram parte desse projeto, lançando o conceito de desenvolvimento sustentável. Nos anos de 1990, o avanço do neoliberalismo voltou a uma concepção ultrapassada de desenvolvimento que recorria novamente ao gás natural, ao petróleo e ao carvão mineral, bem como a recursos naturais não renováveis. Os governos procuraram infundir otimismo na população. Mas a destruição das Torres Gêmeas, nos Estados Unidos, e as crises do capitalismo criaram um clima de insegurança e pessimismo.
Agora, no alvorecer da segunda década do século XXI, parece que intelectuais e pessoas das camadas baixas e médias da sociedade retomam as idéias formuladas há 40 anos. Grandes empreendimentos, como hidrelétricas, termelétricas e complexos empresariais não convencem mais o povo. Petrobras, Chevron, EBX, Odebrecht são nomes bem conhecidos no norte fluminense. Empreendimentos de grande porte, como o complexo logístico industrial portuário do Açu, o complexo mineral portuário do sul do Espírito Santo, os estaleiros de Barra do Furado, a ampliação da Petrobras em Macaé, não enganam mais. A população atingida está se organizando e protestando, como acontece com os pequenos produtores rurais do 5º Distrito de São João da Barra.
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