A receita sugerida pelos estudiosos é a ioga ou a meditação. Estas práticas reduzem o alcance da mente ao tempo presente e ao espaço vivido. Nada de permitir que o pensamento fique solto e vagando. Nada de pensar no futuro próprio e da família. Nada de projetos para o mundo.
Esta pesquisa talvez explique a felicidade da maioria das pessoas, ainda que enfrentando necessidades. Talvez explique também por que os idealistas (no sentido de terem um ideal) e os utópicos sofram tanto. Os autores afirmam literalmente: "A capacidade de pensar sobre o que não está acontecendo é uma conquista cognitiva que tem um custo emocional." Os animais não pensam além dos seus interesses mais imediatos. Portanto, são felizes. O ser humano é um animal viciado em pensamento. Ele não se contenta com o presente. Ele fica divagando sobre o futuro. Os cientistas até consideram que o pensamento em longo prazo ajuda no planejamento. Mas acarreta sofrimento. Só na prática do sexo, esses futuristas inveterados se concentram no que fazem.
Penso na dor sofrida por Platão, Aristóteles, Thomas More, Francis Bacon, Campanella, Marx, Aldous Huxley, George Orwell e tantos outros. Eles pretenderam um mundo melhor do que aqueles em que viviam com suas utopias não realizadas. Huxley e Orwell sofreram muito por conceberem distopias, ou seja, concepções de que o mundo se tornaria pior do que no tempo em viveram. Sofreram logo de imediato. Tornaram-se pessimistas.
Mas Umberto Eco diz que uma pessoa perpetuamente feliz é imbecil. Para ele, é impossível uma felicidade permanente. Todas as pessoas enfrentam momentos de tristeza. Isto faz parte do ser humano, e os psicólogos deveriam ter levado esta realidade em conta. A dor também integra a condição humana em todas as culturas. Ainda seguindo Eco, o otimista do tipo Doutor Pangloss é um tolo. Não foi outra a intenção de Voltaire, um otimista da razão, senão a de mostrar que o otimismo exagerado é artificial.
Outra pesquisa completa esta. Cientistas norte-americanos (só podia vir deles) já com adeptos no Brasil, identificaram uma nova síndrome, a que deram o nome de "burn out". Ela se manifesta nos perfeccionistas e dedicados a uma causa. Com frequência, acomete professores que se empenham em sua profissão. O desencanto profissional leva tais pessoas a uma forma de estresse cujos sintomas são desilusão, esgotamento emocional, falta de sensibilidade e queda de motivação. No estresse comum, ocorrem esgotamento físico, hipersensibilidade e redução de energia.
Os psicanalistas lacanianos não se importam em saber onde se aloja o inconsciente. Para exagerar, eles podem dizer que tanto faz estar no joelho quanto no dedão do pé. Os neurologistas, por outro lado, querem reduzir tudo a disfunções químicas ou a lesões no cérebro. Creio que há lugar para todos. A melancolia oriunda de desencantos afeta o cérebro, tanto quanto problemas no cérebro podem levar a situações de ansiedade e depressão. Assim como não é possível resolver todos os problemas de uma pessoa pela escuta psicanalítica, não é possível também tratar tudo com remédio.
Gosto do ramo das neurociências que procura compreender o cérebro em sua complexidade. Desgosto dos neurologistas e psiquiatras que procuram eliminar a melancolia, a ansiedade e a depressão exclusivamente por meio de medicamentos. Os neurocientistas intervencionistas querem reduzir a complexidade do cérebro e da mente com remédios. Acaso existem remédios eficazes contra a tristeza, a ansiedade e a depressão? Eu, que padeço destes males e que uso medicamentos, respondo que não. Além do desencanto com a humanidade da nossa época, com meu ativismo socioambiental e com minha profissão, estou cada vez mais desencantado com a razão clássica, com a ciência determinista, com a tecnologia agressiva e com a medicina de resultados imediatos.
Não me vejo cuidando de questões pessoais e distante dos problemas do planeta. Enfim, não me concebo um feliz permanente e, ao mesmo tempo, alienado.