Andar para trás é caminhar para frente

Quando me interessei cientificamente pela evolução biológica do ser humano, li, no distante ano de 1970, um livro intitulado Os Estágios da Evolução Humana, do antropólogo físico C. Loring Brace. Ele reconhecia quatro estágios no processo evolutivo: 1- estágio australopitecídeo, incluindo nele uma espécie de “Australopithecus” e uma de “Paranthropus”; 2- estágio pitecantropídeo; 3- estágio neandertalense; e 4- estágio moderno, dentro do qual estamos nós. O autor colocava estes estágios em linha reta, quase afirmando que o anterior dava origem ao posterior e desaparecia. Trava-se de uma concepção linear.

De lá aos dias atuais, o quadro se alterou profundamente. Hoje, já foram reconhecidas cerca de vinte espécies da família dos hominídeos, da qual nós fazemos parte, reunidas em cinco gêneros. Do mais antigo para o mais recente: Sahelanthropus, Orrorin, Ardipithecus, Australopithecus e Homo. O processo não é mais linear, mas ramificado, reconhecendo a existência de mais de uma espécie hominídea ao mesmo tempo, até que, na atualidade, apenas uma espécie restou, o Homo sapiens sapiens.

Nosso parente mais próximo é o chimpanzé, que deve ter se originado de um ancestral comum a ele e ao Sahelanthropus tchadensis entre 7 e 8 milhões de anos passados. Não é preciso dizer que os paleontólogos e os antropólogos físicos se debruçaram primeiro sobre o gênero Homo para reconstituir nossos ancestrais mais próximos. Em 1974, Donald Johnson e seu discípulo Tom Gray descobriram restos de ossos, em Haddar, no deserto de Afar, Etiópia, que, de imediato, atribuíram ao um hominídeo. A descoberta de mais ossos e de mais esqueletos permitiu a reconstituição da espécie. Como os primeiros fragmentos ósseos pertenciam a uma mulher, Jonhson batizou-a de Lucy, em homenagem à música dos Beatles Lucy in the sky with diamonds.

Não se tratava apenas da descoberta de ossos, mas de uma nova espécie hominídea que recebeu o nome de Australopithecus afarensis, esta segunda palavra uma referência ao deserto de Afar. Estimou-se a sua idade em três milhões e duzentos mil anos antes do presente. O professor Robin Crompton, usando modelos de computador, reconstituiu a espécie da forma mais aproximada possível. Lucy tinha um cérebro pequeno e seus braços e pernas eram curtos. Contudo, a estrutura dos joelhos e da bacia indicava que ela andava sempre ereta sobre as duas pernas, o que pressupõe pés adaptados à marcha. A dieta do Australopithecus afarensis era constituída de frutas, sementes, insetos e ovos. Seu ambiente situava-se entre a savana e a floresta.

Lucy reinou por bastante tempo como a nossa mãe primordial. No entanto, neste ano de 2009, estudos detalhados com outra espécie colocaram no trono o Ardipithecus ramidus. Um grupo de pesquisadores examinou o esqueleto parcial de uma mulher desta espécie, encontrado em 1992, também na Etiópia. Ela recebeu o nome carinhoso de Ardi. A reconstituição mostra que o Ardipithecus ramidus tinha uma cabeça semelhante à de macaco e os dedos das mãos e dos pés alongados, com o hallux (dedão do pé) oponível, como nos macacos, para subir em árvores. Mas suas mãos, pulsos e pélvis mostram que ela já caminhava como o Homo sapiens, embora seus pés planos não permitissem marchas longas. Os dentes se parecem mais com os do Homo que com os do chimpanzé. Calcula-se que Ardi contava com 1,20 m de altura e 50 quilos de peso. Não era ainda humana, nem poderia ser, mas não estava mais na linha que originou o chimpanzé e o bonobo. Sem dúvida, Ardi é, por enquanto, o mais antigo ancestral do Homo sapiens. Com 4 milhões e 400 anos, ela é mais antiga que Lucy 1 milhão e 200 mil anos.

Até o momento, ela é a Eva da nossa história. Entretanto, cabe salientar que já começa a se estudar o Orrorin tugenensis, mais antigo ainda. Depois, será a vez do Sahelanthropus tchadensis, por ora o mais antigo de todos.

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