A biodiversidade faunística (VII) - Aves

A biodiversidade faunística (VII) - Aves

Arthur Soffiati

Maximiliano de Wied-Neuwied, naturalista alemão que fez uma excursão científica do Rio de Janeiro a Salvador, entre 1815 e 1817, registrou, em sua Viagem ao Brasil, uma infinidade de aves. Elas aparecem aqui em ordem de entrada, acompanhadas com as observações que se tornarem necessárias.

No trecho de Cabo-Frio à Vila de São Salvador dos Campos dos Goitacás, o príncipe naturalista encontrou o chochi (saci ou sem-fim, Tapera naevia), bacuraus (conhecidos no sul do Brasil por curiango), o milhano preto e branco (o belo gavião-tesoura, Elanoides forficatus), uma enorme quantidade de urubus dividindo os despojos de um animal morto com um cão, sem se preocuparem com a presença da caravana de Wied, grandes bandos de maracanãs e periquitos, tucanos e o gavião cor de chumbo (o popular gavião pomba ou sovi, Ictinia plumbea), hoje raro na região.

Nas margens da Lagoa Paulista, foram avistados grupos do papa-ostras brasileiro (chamado vulgarmente de baiagu ou piru-piru, Haematopus palliatus), o caburé (Glaucidium brasilianum) e o sabiá-da-praia (Mimus antelius). Mais adiante, topou o ornitólogo com maçaricos quero-quero, garças, gaivotas, andorinhas-do-mar e marrecas. Na lagoa de Ubatuba, foi possível caçar o ibis de faces peladas e cor de carne (Phimosus infuscatus nudrifrons), uma nova espécie de milharfe (segundo Olivério Pinto, já identificada anteriormente como o conhecido caracara ou gavião do mangue, Circus brasiliensis) e um gavião classificado atualmente pelo nome de Busarellus nigricollis, além de se localizar um ninho, com os ovos, de bem-te-vi (Pitangus sulphuratus), em forma de forno, fechado em cima. Ao norte da lagoa de Ubatuba, onde a planície abrigava uma miríade de extensas lagoas, Maximiliano viu, pela primeira vez, o colhereiro (Ajaia ajaja), que inutilmente os caçadores tentaram abater para a coleção do naturalista; novamente garças, patos, maçaricos e biguás. Também o tapicuru, nome comum aos ibídidas de cor preta brasileiros. A anhinga (também biguá-tinga, carará, miuá etc., Anhinga anhinga) foi perseguida em vão por Wied, que só capturou exemplares dela mais tarde.

Além da Barra do Furado, de novo são vistos maçaricos, batuíras e baiagus alimentando-se de crustáceos, vermes e moluscos, como também uma espantosa multidão de marrecos e aves palustres, dentre as quais Nettion brasiliense, a espécie mais comum de pato em todas as regiões visitadas por Maximiliano, observação confirmada por Olivério Pinto. Ainda nas cercanias da lagoa Feia, foram capturados o ibis de cara vermelha, ou carão (Phimosus infuscatus nudifrons), e o caracará (Polyborus plancus plancus). Foi no rio Bragança, um dos defluentes da lagoa Feia, que Wied obteve o único exemplar do socozinho vermelho (Ixobrychus exilis eryth-romelas) em toda a sua viagem. Avançando pelas imensas planícies aluviais, em direção à vila de Campos, o grupo encontrou uma espécie de inambu correspondente à codorna (Nothura maculosa).

Uma vez em Campos, os olhares de Maximiliano convergiram para a cidade, sua sociedade e sua economia. É preciso esperar que ele se ponha em marcha a caminho de São Fidélis para que as aves retornem ao seu diário de viagem. Logo encontrou o anum preto, na época com o nome científico de Crotophaga ani, Linn, e o cuco pintado (Cuculus guira, Linn.). Fala do anum branco, esclarecendo que descera havia pouco tempo dos planaltos de Minas Gerais para as baixadas costeiras e que, por isto, era ainda pouco conhecido na região.

Nos ramos de uma figueira, descobre o curioso ninho do bico-chato, na verdade, o tirri ou relógio ou teque-teque (Todirostrum poliocephalum), como ensina Olivério Pinto. Numa densa floresta de légua e meia, estendendo-se da margem do Rio Paraíba do Sul até São Fidélis, ouviu o grito dos curiangos. Entre os puris das imediações de São Fidélis, notou que suas flechas eram enfeitadas na extremidade inferior com penas de mutum ou de jacutinga. Em nota de rodapé, Olivério Pinto explica que o nobre naturalista confundiu o Crax alector, espécie peculiar à região amazônico-guianense, com o mutum de bico vermelho, Crax blumenbachii Spix, típica da mata costeira do Brasil médio-oriental. De retorno a Campos pela margem esquerda do Paraíba, passou por uma ilhota com algumas árvores repletas de ninhos de guache (Cassicus haemorrhous), em forma de saco.

No próximo artigo, vamos acompanhar as observações de Wied-Neuwied até sua travessia no Rio Itabapoana, entrando no Espírito Santo.

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