Falar em limites do crescimento pressupõe definir o tipo de crescimento e os limites da Terra. Um crescimento econômico baseado em matérias não renováveis é bem mais preocupante do que um crescimento sustentado por matérias não renováveis. Quanto aos limites da Terra, eles dependem de muitas variáveis. O Centro Resiliência de Estocolmo apontou dez fatores que ameaçam o estilo de crescimento adotado pelos países ocidentais e ocidentalizados pelo processo de globalização: 1- aumento das temperaturas planetárias, 2- esgarçamento da camada de ozônio, 3- alterações profundas nos oceanos (aquecimento e acidificação), 4- empobrecimento da biodiversidade, 5- uso intensivo do solo (remoção da vegetação nativa, agropecuária e urbanização), 6- comprometimento da água doce (quantidade e qualidade), 7- aceleração do ciclo do nitrogênio, 8- aceleração do ciclo do fósforo, 9- aumento de poeira na atmosfera e 10- poluição química.
Estes dez fatores atuam de forma natural, mas estão sendo potencializados pela ação humana coletiva. Na verdade, o que os cientistas do Centro Resiliência vêm estudando são as crises ambientais planetárias anteriores à atual. Eles buscam nelas seus principais elementos causadores. Estudam também a resiliência da Terra, ou seja, sua capacidade de suportar impactos e de absorvê-los sem mudar seus traços fundamentais atuais. A Terra é um organismo vivo, como propôs o cientista James Lovelock, considerado, no início, mais religioso que cientista. Hoje, sua hipótese virou tese. De fato, os elementos vivos e não vivos interagem e retroagem, formando um megaorganismo vivo, dinâmico e complexo. Assim, falar na morte do planeta por ação humana é exagero. Os hominídeos enfrentaram mudanças ambientais profundas e sobreviveram a elas. Mais que isso: tais mudanças estimularam as transformações biológicas (mutações genéticas e seleção natural), destruindo espécies e produzindo outras.
No final do processo, restou apenas o “Homo sapiens”, que se organizou, durante o Pleistoceno, em sociedades de coletores e caçadores. Estas duas atividades econômicas obrigava tais sociedades a uma vida nômade. A grande mudança climática natural entre o Pleistoceno e o Holoceno provocou a extinção de muitas espécies vegetais e animais, mas o “Homo sapiens” resistiu a ela. Algumas sociedades nômades domesticaram plantas e animais, criando a agricultura e o pastoreio, atividades que permitiram a sua sedentarização. Posteriormente, algumas sociedades sedentárias criaram cidades e avançaram para o que, por falta de expressão adequada, denominamos de civilização. Este processo ocorreu primeiro no Oriente Médio e, depois, em várias partes do mundo de forma independente.
De todas as sociedades civilizadas, a ocidental foi a única a criar um modo de produção cuja finalidade não era atender as necessidades básicas do ser humano, mas obter lucro. Visando acumular sempre mais capital, o mundo ocidental passou a produzir tecnologias sempre mais aprimoradas para exploração da natureza. Assim, eclodiu a revolução industrial. A maioria dos países ficou fora da industrialização, mas todos foram atingidos por suas consequências. Tanto capitalismo quanto socialismo utilizaram-se da mesma tecnologia para extrair matérias do planeta e usá-las como energia e bens de consumo. Na outra ponta, o processo de produção abalou o equilíbrio ambiental e social global.
A ameaça que paira sobre a humanidade não é a de extinguir o planeta ou de sua auto-extinção, mas a de mudanças profundas nas condições ambientais que nos permitiram chegar até aqui.