Zygmunt Bauman, Stéphane Hessel e Edgar Morin acreditam ser possível exercer controle sobre o capitalismo. O Estado e a sociedade seriam as instâncias controladoras, estabelecendo limites ao lucro, promovendo justiça social e protegendo o ambiente. Não que eles acreditem no capitalismo. A bem dizer, os três e outros mais percebem que o capitalismo não pode ser superado no momento presente. Morin concebe um Estado forte no plano interno, mas que reduz sua soberania em prol de uma organização mundial, como a ONU, por exemplo. Pelo menos, os três não se posicionaram como Mao-tse Tung, que, depois de levar milhares de pessoas à morte em duas revoluções contra o capitalismo, concluiu que este ainda não poderia ser destruído.
Ex-marxista, mas com posições de esquerda, como Edgar Morin, Immanuel Wallerstein prevê o fim do capitalismo, devorado em suas contradições internas em prazo médio. Ele toma o cuidado de não definir como será o sistema sucessor do capitalismo. Assim, o agente destruidor serão as sucessivas crises do modo de produção.
Entre os marxistas - ortodoxos ou não -, há posturas as mais diversas. Existem os que continuam acreditando na classe operária como sujeito revolucionário, apesar da falência de todas as experiências socialistas. Há os que assumem o marxismo solitariamente, como forma de resistência pessoal ao capitalismo. Há os que afirmam a grande influência do marxismo na atualidade. Em entrevista concedida à "Folha de São Paulo" de 17/11/2013, o filósofo marxista István Mészáros, com razão, acusa o capitalismo de produzir crises que geram desemprego, aumentam o número de miseráveis e agridem o planeta. Ao que parece, a natureza é, para ele, um palco violado pelo capital. Mas, apesar da atualidade do marxismo, Mészáros não esclarece quem será o sujeito revolucionário transformador.
Michael Löwy, pensador marxista nascido no Brasil e radicado na França, formulou o ecossocialismo, projeto excelente. Mas quem será o sujeito a viabilizá-lo? Certamente, as classes sociais desfavorecidas. Por outro lado, o filósofo marxista esloveno Slavoj Žižek vê a grande massa de miseráveis do mundo como potenciais agentes da revolução socialista, contando com o apoio de pequenos empresários e de intelectuais comprometidos com a causa da transformação. Ao mesmo tempo, contudo, reconhece que os miseráveis tendem a se converter às igrejas evangélicas ou a cair na criminalidade.
Neste breve panorama, que não pretende ser exaustivo, o "Homem", sempre ele, é o único animal capaz de transformar o mundo. Examinando a história do Universo, assumo uma atitude humilde. Há forças naturais com enorme capacidade de transformação. Foram eventos naturais que provocaram as maiores crises ambientais enfrentadas pela Terra, antes que o "Homem" andasse sobre ela. Num ponto, concordo que o "Homem" é capaz de produzir grandes transformações. Desde a primeira revolução industrial, ele vem agredindo a humanidade e a natureza de forma nunca vista antes.
Na mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher. Ela se casou com Epimeteu, que ganhou dos deuses uma caixa mantida sempre fechada. Ela encerrava todos os males do mundo. Mesmo com a forte recomendação de nunca abrir a caixa, Pandora não resistiu à tentação de conhecer seu conteúdo e desrespeitou o marido, assim como Eva desrespeitou a ordem de Deus. Desse modo, nasceram todos os males do mundo. Dentro da caixa, ficou apenas a esperança. A parábola se aplica perfeitamente aos sistemas capitalista e socialista pós-revolução industrial. A diferença é que, agora, nem a esperança restou. Os "Homens" perderam o controle sobre sua obra. Se existe esperança de transformação, ela passou às mãos das forças irracionais da natureza, ampliadas de forma imprevisível pelas ações humanas.
A natureza enfurecida, mas não vingativa, destruirá estruturas, causará muitas mortes, mas não extinguirá a espécie humana. Depois de tudo, os sobreviventes talvez consigam criar uma civilização social e ecologicamente sustentada.