Junho (e julho) de 2013

Nas discussões suscitadas pelo artigo “A primavera brasileira”, publicado na Folha da Manhã de 23 de junho último, pessoas manifestaram medo de o Movimento Passe Livre (MPL) ser infiltrado por “vândalos”, pela direita, pelos partidos políticos e pelos sindicatos. Nos jornais, leio artigos que partem para a crítica ou para o elogio. Poucos se preocupam em compreender as manifestações.
Uma das análises mais lúcidas, a meu ver, foi feita pelo pensador francês Michel Maffesoli. Ele compara o movimento brasileiro aos movimentos de 1968, mas avança em considerar o MPL uma típica manifestação pós-moderna, em que o descontentamento da população chega a um ponto tão grande de intolerância que explode em protestos pelas ruas. Vários grupos (que ele chama de tribos urbanas) se aproximam e formam um movimento em que existe uma bandeira principal – no caso brasileiro, o aumento das tarifas do transporte urbano –, mas que, aos poucos, levanta outras bandeiras. As insatisfações começam a se delinear e o movimento continua aceso depois de atendido o pleito principal.
Há riscos? Claro. A dialética-dialógica do pensador francês Edgar Morin me ajuda bastante a compreender a dinâmica do movimento. Morin explica que toda ordem carrega em si a desordem. A interação de ambas as forças conduz à organização. Os críticos do movimento querem-no ordeiro, condenando a desordem dos baderneiros. O MPL tem proclamado e demonstrado ser pacífico e apartidário, não antipartidário. Mas ele cria condições para que ecloda a desordem promovida por ativistas mais exaltados, por forças marginais não transformadoras dentro do sistema e até por partidos políticos oportunistas e por direitistas infiltrados que pretendem a desmoralização do movimento com o intuito de provocar a intervenção das forças armadas. Esta última, usada como ameaça por José Mariano Beltrame, secretário de segurança do Rio de Janeiro.
Os meios de comunicação começaram taxando o MPL de baderneiro. O resultado da análise não foi muito satisfatório. Então, passaram a falar de vândalos infiltrados e a exaltar a legitimidade das reivindicações dos manifestantes. Contudo, nas coberturas, a TV Globo, por exemplo, dedica espaço maior às ações violentas. No geral, porém, o núcleo organizado-desorganizado do MPL é simpático à classe média. Jovens, idosos, crianças, homens, mulheres, homossexuais, negros participam dele em torno do que é comum a todos e levam, ao mesmo tempo, seus pleitos particulares. Como ecologista, notei que as questões ambientais não mereceram atenção do MPL, mas não torço o nariz para o movimento. A última grande manifestação pública de porte ocorreu há vinte anos, no movimento pelo impedimento de Collor. Tratava-se, então, de movimento com objetivo mais claro e que obteve sucesso. Agora, há muitas demandas reprimidas e imediatas. O ambiente não está entre elas.
De lá pra cá, as insatisfações foram se acumulando e inflando o balão. Os poderes executivos e legislativos de todos os entes federados se afastaram da população. Os partidos políticos, em sua maioria, fecharam-se em torno de si mesmos, numa lógica muito distante de seus programas e do povo. Tanto situação quanto oposição criaram seu mundo próprio e fechado. Da mesma forma, os sindicatos, que passaram a olhar para seu próprio umbigo, esqueceram-se de que estão inseridos num contexto maior. O povo ficou de fora dos entendimentos ou desentendimentos das cúpulas. O MPL está mostrando que a política dos poderes, dos partidos e dos sindicatos está superada ou carente de rápida atualização.
Não tendo caráter revolucionário, o MPL usa as cores da bandeira do Brasil e não o vermelho. Entoa o hino nacional e não o da internacional. Não fala em Marx, Lênin, Mao Tse-tung, Fidel e Guevara. Parece que estes nomes não norteiam os anseios das novas gerações. O MPL nada tem contra a república, o sistema tripartite de governo, a federação, os partidos políticos e os sindicatos. Mas grita basta aos péssimos serviços públicos, à corrupção, à impunidade, à política de cúpula que só atende a interesses restritos.
Com ou sem baderna, rapidamente a presidente, o Congresso Nacional, os governadores, as assembleias legislativas, os prefeitos e vereadores se mexeram, reduzindo o preço das passagens, vetando a PEC 37 e levando Dilma Roussef a apresentar um pacote de medidas reformistas. Parece que as medidas foram tomadas por medo e por desejo de atender ao povo.
Existe o perigo de se aparelhar o movimento ou dele se aproveitar? Claro que existe. Basta ver o que acontece em Campos. No interior, fica mais difícil organizar um movimento sem a invasão de partidos e sindicatos. Já se pode notar a multiplicação de movimentos promovidos por sindicatos e até por forças espúrias, confundindo a opinião pública. Fazer o quê? Sem correr riscos, não se vai adiante. O Brasil deveria ser passado a limpo de quatro em quatro ou de cinco em cinco anos.

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