Uma parcela expressiva do processo de industrialização implica na produção de inutilidades e produtos mais agressivos. A produção de telefones celulares é um belo exemplo. Todas as semanas, os fabricantes anunciam novidades nesses aparelhos. As campanhas publicitárias pregam abertamente que seu atual aparelho está superado. Os mais influenciáveis desativam seus aparelhos em uso e adquirem um novo que, digamos, com um clic, permite o contato com alguém que está na Lua (sic). Curioso é que o sistema não diz sequer uma palavra sobre os riscos à saúde que o uso de telefones celulares pode causar.
Outro exemplo são os televisores de última geração que, conectados a uma rede a cabo, permitem que o assinante tenha acesso a dezenas de canais que a televisão aberta não alcança. É preciso mencionar que, dentre essas dezenas de canais, 10 ou 12 sejam canais evangélicos, outros 12 ou 15 sejam canais de inutilidades e mais outros 15 ou 16 sejam canais de filmes quase que totalmente dedicados a divulgar o glamour da sociedade norteamericana e a "eficiência" de seu sistema policial frente à violência dos imigrantes latinoamericanos e asiáticos. Em resumo, paga-se por 60 ou 70 canais quando apenas 4 ou 5 transmitem algo aproveitável.
Caminhando em outra direção, temos a indústria alimentícia. Esta se especializou em produzir alimentos embalados e conservados à base de aditivos químicos cuja agressividade à saúde e à vida está longe de ser inteiramente conhecida e divulgada. Mesmo os alimentos ditos "naturais" só chegam à nossa mesa depois de serem literalmente lavados com agrotóxicos, pesticidas e outros venenos produzidos pela indústria ao arrepio do interesse público.
Pode-se ainda questionar o papel das indústrias siderúrgica, química, petroquímica, metalúrgica, de papel e celulose, de cimento, farmacêutica e outras mais em sua agressividade à vida.
No Brasil, parcela importante do setor industrial é de origem estrangeira. Seu lucro, evidentemente, é remetido para as matrizes. Some-se a isso o fato de que, para atrair esse tipo de negócios, os governos brasileiros concedem a essas empresas generosas isenções fiscais. Assim, o saldo da atuação dessas empresas no país é quase nulo, salvando-se apenas o emprego mal remunerado da mão-de-obra nacional.
Não trata esse texto de advogar a tese da desindustrialização pura e simples. Trata, sim, de destacar que parcela importante dos processos industriais produz energia, em geral sob a forma de calor. O simples emprego desse calor para a geração de energia elétrica resultaria em grande redução da demanda e dos custos de produção. Adotando essa alternativa, algumas empresas poderiam mesmo exportar energia elétrica para o sistema unificado nacional.
Esta opção reduziria ainda a necessidade de construção de gigantes hidrelétricas no coração da nossa Amazônia, com todos os maus impactos que a operação dessas usinas traz para a região e a perda de rendimento que ocorre na transmissão dessa energia para as regiões consumidoras no sul e sudeste do Brasil.
As sociedades mais avançadas do planeta já não se industrializam mais da forma convencional, como ainda é o caso do Brasil. Essas sociedades aproveitam as vantagens do atraso em outras regiões, transferem para lá suas unidades industriais e se dedicam internamente ao desenvolvimento de pesquisa e tecnologia. Assim, essas sociedades incentivam a parceria entre suas universidades e as empresas visando gerar conhecimento e tecnologia. Em paralelo, a opção de gerar conhecimento e tecnologia exige um consumo muito baixo de energia quando comparado ao modelo de industrialização.
Este é um quadro muito claro à nossa frente. As sociedades que têm um planejamento minimamente inteligente já demoliram ou estão demolindo suas chaminés e progredindo. Todavia, muitos brasileiros ainda associam o progresso ao surgimento de chaminés. Um brasileiro que pensa em dedicar-se à pesquisa e gerar verdadeiro progresso precisa emigrar para os países do centro do sistema.