A demanda por soja para a fabricação de biodiesel ameaça acelerar o desmatamento da Amazônia brasileira, segundo informou, no início deste ano, a imprensa européia.
Nas matérias, a mídia afirma que dois programas do governo incentivam a expansão da produção de soja: "o programa de produção de biodiesel, considerado pioneiro, e o novo programa de aceleração do crescimento, dirigido à ampliação da infra-estrutura e que supõe a ampliação de portos e rodovias para facilitar o transporte da soja".
À época, a imprensa reproduzia declarações de um ambientalista brasileiro de que o cultivo da soja "está invadindo não somente o cerrado, como já está começando a comer parte da Amazônia, com o agravante de que o monocultivo da soja não só destrói a selva, mas também acaba expulsando comunidades inteiras de agricultores familiares, acrescentando a miséria às populações dessas áreas".
As reportagens afirmavam ainda que "o cultivo da soja pode provocar a contaminação dos rios e do solo por agrotóxicos e fertilizantes e reduzir a biodiversidade animal e vegetal".
Para o os analistas europeus, "o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva está entre a cruz e a espada, pois a produção e exportação de soja supõe uma das principais entradas de divisas, enquanto, por outro lado, o Ministério do Meio Ambiente, dirigido pela ministra e “companheira do presidente, Marina Silva, já teve vários desencontros com algumas medidas do governo".
"Uma das provas da vontade do governo de Lula em seu segundo mandato vai ser a permanência ou não no Executivo da ministra do Meio Ambiente, conhecida por sua intransigência em matérias ambientais", conclui um dos analistas.
Em conseqüência destes fatos, organizações européias responsáveis socialmente já exercem pressão sobre as autoridades européias no sentido de se proíbir a importação de biodiesel ou de oleaginosas oriundas de áreas desmatadas ou áreas de conflitos sociais.
Danos ambientais e sociais do mesmo porte poderão ocorrer com as plantações de babaçu e dendê no nordeste brasileiro e com as plantações de mamona no sudeste, todas conseqüência da “febre do biodiesel”.
Este panorama vem apenas confirmar o que já se sabe: é projeto do atual governo tornar o Brasil um importante produtor de oleaginosas, insumo básico para a produção de biodiesel – uma mistura de óleos vegetais com óleo diesel derivado do petróleo – para exportação.
Nada mal se este projeto não tivesse tantas contraindicações sociais, humanas e ambientais. Acresça-se a isto o fato de que, mais uma vez, prepara-se o terreno para os mesmos de sempre tirarem proveito dos desassistidos de sempre. As monoculturas para produção dessas oleaginosas ocuparão extensas áreas de cultivos hoje usadas para a produção de alimentos e desalojarão famílias ocupadas na agricultura de subsistência.
Que os combustíveis alternativos são necessários é inquestionável. Todavia, cabe uma avaliaçãoe um projeto focalizados no aspecto social da questão em vez da habitual e cansativa ênfase no lucro e na pseudo-eficiêncai capitalista, mesmo que isto implique em que tenhamos que viver num mundo com menor demanda energética.