No momento em que se festeja no Brasil o início da produção de petróleo da camada pré-sal, é forçoso que se faça uma avaliação do cenário mundial e as implicações da oferta, pelo Brasil, de petróleo para exportação em futuro que se avizinha.
Além dos efeitos malignos do uso dos derivados do petróleo como fonte de energia e matéria-prima para a produção petroquímica, vale ressaltar o quadro excessivamente desigual de sua demanda, tornando os países mais pobres vítimas das agressões ambientais dos mais ricos pelo uso deste insumo.
A tabela abaixo demonstra com inegável clareza o desequilíbrio no emprego do petróleo como fonte de energia em diferentes países com diferentes níveis de desenvolvimento sócio-econômico.
País |
Consumo de derivados (l/dia) |
População (hab.) |
Consumo per capita (l/dia) |
EUA |
3.339.000.000 |
309.000.000 |
10,80 |
França |
333.900.000 |
61.000.000 |
5,47 |
Brasil |
318.000.000 |
180.000.000 |
1,72 |
Índia |
413.400.000 |
1.300.000.000 |
0,32 |
Em alguns países centrais do capitalismo o uso de derivados de petróleo para a movimentação de veículos pode alcançar 70% do total produzido. Deste montante, uma parcela expressiva – cerca de 40% - é empregada em veículos de transporte individual cuja eficiência energética é baixíssima, não apenas na eficiência dos motores, mas sobretudo, no número de passageiros transportado por veículo.
O aumento da eficiência energética e a racionalização do uso da energia por veículos acionados por motores de combustão interna são objetivos prioritários e fundamentais de qualquer política energética conduzida por planos governamentais mais sérios. No setor transporte de passageiros e cargas existe potencial para a economia de até 30%, principalmente, no segmento de transportes de cargas.
Em alguns países europeus já existem políticas de incentivo ao uso de outros meios de transporte alternativos – como as bicicletas - ao uso de veículos de transporte individual movidos a derivados de petróleo, como as restrições ao estacionamento desses veículos em áreas específicas e a delimitação de áreas para a circulação desses veículos próximas aos centros de negócios e de serviços.
Outros países em situações críticas do ponto de vista ambiental já estudam aumentos na tributação desse tipo de veículos, empregando os novos recursos arrecadados em campanhas de incentivo e financiamento à pesquisa e ao desenvolvimento de novas tecnologias para o transporte de pessoas e cargas.
Ao lado da profunda injustiça já sedimentada no uso de derivados de petróleo, é, mais do que nunca, o momento de se pensar em ampliar ou não seu uso e agir no sentido de democratizar o uso da energia sem agredir o ambiente e as pessoas.
Resta claro, portanto, que o petróleo do pré-sal foi descoberto tardiamente. O petróleo está, a cada dia, se tornando um bem antipático. A inteligência deve suplantar o egoísmo e fazer com que ajamos na direção do bem estar de toda a humanidade, deixando de lado um patriotismo inútil e superado.