O dragão chinês lança fogo sobre o mundo

    O preço do carvão mineral dobrou em apenas um ano, sendo cotado a 135 dólares por tonelada nas bolsas de “commodities” no final de 2007. Como as duas locomotivas do crescimento mundial - a China e a Índia - são grandes consumidoras deste insumo, este fato implica em que esta tendência não deverá ser revertida no curto prazo, apesar do preço.

Vale ressaltar que as projeções de produção, feitas pelo Instituto Mundial do Carvão, apontam para um crescimento da produção carbonífera da ordem de 78% até 2030.

Apenas 6 setores da indústria são responsáveis pelo consumo de 70% da energia no mundo, a saber: geração de energia elétrica, siderurgia, metais não-ferrosos, materiais de construção, processamento de petróleo e química. No setor de materiais de construção, a China é responsável por 44% de toda a produção mundial de cimento, sendo a indústria cimenteira a maior emissora de gases de efeito-estufa (*) dentre todas, algo como 4% de toda a emissão do planeta.

Em junho de 2007, foi anunciado com grande alarde que a China, pela primeira vez na história, suplantou os Estados Unidos nas emissões de gás carbônico para atmosfera. Os números indicavam um crescimento de 9% nas emissões de CO2 pela China em 2006, em relação ao ano anterior, ao passo que as emissões nos Estados Unidos experimentavam uma redução de 1,4% no mesmo período. A China atualmente produz 65% de sua energia elétrica a partir de usinas térmicas a carvão. Em 2007, estavam em fase de construção mais 562 novas plantas geradoras a carvão. Em junho de 2007, o governo chinês anunciava com orgulho que, a cada semana, duas novas dessas usinas eram inauguradas. É importante observar que grande parte desse crescimento é resultado do elevado consumo de bens produzidos na China, a baixíssimos preços, pelas economias ocidentais.

No atual contexto do capitalismo, a atividade industrial é impulsionada, mais do que nunca, pela busca do lucro desmedido e a qualquer custo. Não há neste modelo como se promover crescimento sem que se faça uso de energia em maciças quantidades. Esta orgia tem conduzido a um crescente e total desrespeito aos valores humanos e sociais, gerando ameaças e riscos à vida e ao meio ambiente cuja conta nos será apresentada num dia não muito longínquo.

Não existe qualquer previsão de interrupção para este processo em âmbito global. A regra em vigor é “salve-se quem puder”, não importa como, quando ou onde. Note-se, em particular, que a China apenas recentemente abriu-se ao mercado e não há motivos para crer que ela vá desistir do seu alucinante ritmo de crescimento. Processo similar se passa na Índia. Essas duas sociedades juntas (China e Índia) abrigam 2,4 bilhões de habitantes – cerca de 40% da população mundial - e servem de referência às demais sociedades periféricas e defasadas da América Latina, Ásia e África.

A guisa de conclusão resta a patente incompatibilidade do atual modelo econômico com as questões éticas, humanitárias e sociais. A opção por se sujar o ambiente e causar infelicidade, doença e morte é somente natural para o capitalismo. O emprego em larga escala de fontes de energia limpa não cabe neste sistema. Antes de pensarmos em alterar a matriz energética mundial carecemos de alterações no modelo explorador vigente, substituindo-o por um novo, baseado em novos valores e crenças. Definitivamente o capitalismo não pode durar. Ou o capitalismo acaba com a humanidade ou a humanidade acaba com o capitalismo


(*) – São gases lançados na atmosfera que dificultam a troca de calor entre a atmosfera da Terra e o espaço exterior, alterando o equilíbrio térmico no planeta. O acúmulo de gases de efeito-estufa na atmosfera impede, notadamente, que a radiação solar que incide sobre o globo seja refletida de volta ao espaço, mantendo-a aprisionada nas proximidades da superfície terrestre, contribuindo para o aquecimento global. O principal causador do efeito-estufa é o gás carbônico (CO2), resultante da queima de derivados de petróleo, gás natural e carvão mineral.

 

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