Segundo o Dicionário Aurélio on line, a palavra “estratégia”, raiz do adjetivo em questão, tem como definição a “arte de planejar operações de guerra; arte de combinar a ação das forças militares, políticas, morais, econômicas, implicadas na condução de uma guerra ou na preparação da defesa de um Estado; arte de dirigir um conjunto de disposições: estratégia política.
Por outro lado, a simples observação da produção de derivados de petróleo em nosso país faz surgir a primeira contradição entre a questão petróleo e o adjetivo “estratégico”.
Atualmente, 71% total de derivados de petróleo refinados no Brasil destina-se à queima em motores de veículos, assim distribuídos: 30% para veículos de passeio, 34% para veículos de carga e transporte coletivo, 4% para o transporte aéreo e 3% para o transporte de cabotagem e fluvial.
Temos de concordar que 71% do petróleo consumido no Brasil é um número respeitável. Algo como 1.600.000 barris por dia!
Os números acima indicados incluem destacadamente os volumes de gasolina, óleo diesel e querosene de aviação e parcelas menores de gás natural e nafta.
Mesmo considerando o mais do que conhecido desperdício de energia causado pelo baixíssimo rendimento dos motores de combustão interna, devemos considerar “estratégico” o uso de gasolina nos veículos de passeio que abarrotam e congestionam nossas metrópoles nos horários de maior movimento? É “estratégico” reduzir a carga tributária na comercialização de veículos de passeio num cenário como este?
Ainda hoje ouvimos críticas à opção do governo de Juscelino Kubitschek por sua opção pelo transporte rodoviário ao proclamar, em sua época, que “governar é construir estradas”. Mesmo assim, após mais de meio século, o modelo JK permanece inteiramente inalterado. Devemos considerar “estratégica” a absoluta concentração do transporte de safras por via rodoviária? Pode-se considerar “estratégico” o transporte coletivo em nossas grandes cidades, francamente concentrado em ônibus de baixo rendimento e que agrava, ainda mais, o já caótico sistema de transportes dessas metrópoles?
Conforme a definição do Dicionário já mencionado, o substantivo “estratégia” envolve sempre a arte de planejar em várias de suas facetas. Como está claro, o emprego de 71% dos derivados de petróleo no Brasil ocorre sem qualquer planejamento e ao sabor dos interesses e vantagens dos mais fortes.
Vez por outra ouvimos vozes isoladas defenderem alternativas para o transporte de cargas e de pessoas em grandes cidades. No caso das cargas e das safras, a opção inteligente e mais barata é a que se usa no mundo inteiro: o transporte ferroviário e, em menor escala, o transporte de cabotagem ou fluvial, cujas embarcações dispõem de sistemas de propulsão de melhor rendimento. Afinal, o Brasil dispõe de um extenso litoral e uma das maiores redes fluviais do mundo. No caso do transporte nas grandes cidades, a opção é também a usada no mundo inteiro: o transporte coletivo de qualidade por trens, metrô e monotrilhos.
Enfim e infelizmente, a conclusão é que o adjetivo “estratégico” é mal aplicado à questão do petróleo no Brasil As pessoas que o fazem estão de alguma forma – involuntária talvez – endossando a estúpida matriz energética implantada no Brasil por nossos dirigentes. A rigor, uma matriz energética que ignorou o planejamento e privilegiou a omissão e a burrice, para não falar na frequentemente presente corrupção.